Guerra entre PT e PMDB acirra disputa pela presidência da Câmara

Há dez dias da votação que irá eleger o novo presidente da Câmara dos Deputados, o acirramento da disputa já atinge níveis inéditos.

Najla Passos
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Brasília - Há dez dias da votação que irá eleger o novo presidente da Câmara dos Deputados, o acirramento da disputa já atinge níveis inéditos. Em sua função, até as nomeações para os cargos de 2º e 3º escalão do novo governo da presidente Dilma Rousseff estão paralisadas.

O mais curioso é que nada disso tem a ver com o ápice da polarização formal entre governo e oposição atingido na última campanha presidencial. Na “Casa do Povo”, a briga pela liderança se dá entre parlamentares do PT e PMDB, os dois principais partidos da base aliada.


Do campo da oposição, apenas o PSB lançou candidato para a disputa: o mineiro Júlio Delgado, que se apresenta como terceira via. Oficialmente, é para ele que vão os votos tucanos e da maioria da oposição, pelo menos no primeiro turno.
Mas a verdadeira disputa se dá mesmo entre o peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que se apresentou irredutível para disputar o cargo, e o petista Arlindo Chinaglia (SP), o candidato de maior peso da sigla, já testado e comprovado na função que ocupou entre 2007 e 2009.

Para não se comprometer com um lado e ter que enfrentar outro na condução da Câmara, o governo tenta desesperadamente vender a ideia de que, entre um peemedebista e um petista, se manterá imparcial. “Quem vai definir a votação na Câmara não é o governo”, afirma o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas.

Na prática política, entretanto, está claro que Chinaglia é o candidato aliado com o governo e, Cunha, com a oposição. E o governo sabe bem que um presidente da Câmara comprometido com as pautas dos seus opositores pode dificultar em muito sua vida. Afinal, cabe ao presidente não só encaminhar a pauta de votação, como também compor comissões e até priorizar ou não a instalação de CPIs.
Cunha investe no ataque ao governo

Já na campanha, Cunha age como parlamentar de oposição. Com amplo espaço garantido na imprensa, abastece o noticiário diariamente com denúncias de que o Planalto está operando nos bastidores – e de formas pouco recomendáveis - para eleger Chinaglia a qualquer custo.

Esta semana, ganhou amplo destaque nas manchetes dos jornais a de que o governo estaria trocando cargos de 2º e 3º escalões para eleger o petista. “Todos os dias recebo relato de deputados abordados por ministros do Palácio tentando fazê-los mudarem para a candidatura do Chinaglia. Abordados com todo tipo de proposta e de cobranças, incluindo ofertas de cargos, segundo me relatam”, denunciou à imprensa.

Pepe Vargas nega. Ele garante que todas as nomeações foram suspensas justamente para evitar que o governo seja acusado de troca-troca. “Nós estamos recebendo indicações, currículos, mas só vamos definir os nomes que irão compor o segundo e o terceiro escalões após as eleições da Câmara”, justificou, na terça (20), durante café da manhã com jornalistas.

E enquanto a guerra entre PT e PMDB não chega a um desfecho, o que deve ocorrer apenas após o início do novo período parlamentar, em fevereiro, cargos chaves do novo governo Dilma, inclusive como a presidência dos bancos públicos, seguem sem indicação formalizada.

Eduardo Cunha também acusa o governo de ter ordenado à Polícia Federal (PF) que o envolvesse nas investigações da Operação Lava Jato, sob a denúncia de recebimento de propina, com o objetivo único de prejudicar sua candidatura. 
Governo e PF, claro, negam. E as investigações sobre sua participação ou não no episódio não deverão ser concluídas até a eleição. Portanto, é a palavra de um lado contra a do outro.

Governo investe na ampliação da base

Mesmo com o discurso de que qualquer que seja o vencedor será bem-vindo, o ministro das Relações Institucionais que, como a presidenta Dilma Rousseff, é filiado ao PT, comemora cada adesão de parlamentares de novos partidos à base aliada, fato que, tanto do ponto de vista aritmético quanto político, diminui o poder do PMDB no grupo.  

A conquista mais aclamada, sem dúvida alguma, é a que trouxe o PSD oficialmente para a base, a partir da nomeação do principal líder da sigla, Gilberto Kassab, para o Ministério das Cidades. O PSD possui a quarta maior bancada da Câmara, com 37 parlamentares.

Segundo Pepe Vargas, nesta semana, outros 19 parlamentares de partidos com pequena representação na Câmara anunciaram a disposição de compor um bloco formal com o PRB, que possui 21 deputados eleitos. Com os 40 parlamentares do grupo, a base fica ainda mais robusta para enfrentar seu “aliado-concorrente”.
Só recordando, o PT tem a maior bancada da casa, com 70 parlamentares. Mas o PMDB vem em seguida, com 66. Em terceiro lugar está o PSDB, maior partido de oposição, com 54 deputados.


A aposta da oposição

Se o governo majoritariamente opera para eleger Chinaglia ou não, a oposição não tem dúvidas de quem apoiar na disputa. E embora o discurso oficial possa até tangenciar algum apoio ao socialista Júlio Delgado, toda ela sabe que é Cunha, pelas posições políticas e pela atuação parlamentar, quem melhor a representa. 
Aliás, já no primeiro mandato da presidenta Dilma, quando ocupava o posto de líder do PMDB,  o peemedebista demonstrou capacidade de fazer mais oposição do que PSDB,  DEM e PPS juntos.

Identificado como o principal porta-voz do setor de telecomunicações no parlamento, foi ele quem travou a pauta de votação da Câmara por quase quatro meses, ao angariar apoios para impedir a aprovação do Novo Marco Civil da Internet, construído pelo governo com o apoio dos movimentos sociais.

O impasse em relação à matéria paralisou as atividades do Congresso por quatro meses até que, com forte pressão dos movimentos sociais e da sociedade civil, o projeto do governo saísse vitorioso e se transformasse em exemplo mundial de legislação para o setor.

Para o posto de presidente da Câmara, apresenta bandeiras que acolhem a oposição e o percentual mais fisiológico, independente do grupo. Promete do fortalecimento da independência do legislativo em relação ao Planalto à equiparação dos salários dos parlamentares ao do teto do executivo, que hoje é de R$ 33,7 mil.




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