Gilberto Carvalho, o homem que intuiu o futuro

A saída de Gilberto Carvalho da Secretaria da Presidência da República, após 12 anos, priva o governo de seu grilo falante.
Desde 1994 não conversava com Gilberto Carvalho, quando sobreveio o episódio da Política Nacional de Participação Social.

Aqui no Blog, vinha criticando bastante o estilo fechado do governo Dilma, mostrando que o atual estágio da democracia brasileira não admitia mais as decisões autocráticas, não discutidas, não compartilhadas.
E não se tratava de um problema apenas no governo Dilma. O padrão de governança do PSDB de Geraldo Alckmin e José Serra é muito mais fechado e infenso  a qualquer demanda externa, até de empresários, quanto mais de movimentos populares.
Foi quando Gilberto Carvalho me convidou para uma conversa em Brasília. Estava trabalhando justamente no decreto fortalecendo a participação da sociedade civil. E me mostrou um mundo contemporâneo, moderno, civilizado, na composição de conselhos, conferências e outras formas de participação previstas na Constituição.
A regulamentação daria mais efetividade às discussões dos conselhos, um acompanhamento das deliberações, das sugestões, a definição de um padrão horizontal de participação que se estendesse a todos os Ministérios.
Os ganhos de gestão e o aprofundamento da democracia eram óbvios.
Inclusão social, inclusão digital, meio ambiente, direitos das minorias, esses princípios precisam perpassar todas as políticas públicas. E há conselhos previstos para todos os temas contemporâneos.
Se os conselhos que discutem mobilidade urbana tivessem sido ouvidos, provavelmente os subsídios à indústria automobilística teriam sido acompanhadas de medidas e condicionalidades que impediriam os transtornos que o aumento da frota provocou nas cidades.
As concessões de rodovias poderiam ter vindo amarradas à exigências de construção de fibras óticas para integração das cidades à banda larga.
Ouvindo os conselhos empresariais envolvidos com a ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial), poderiam ter surgido sugestões para direcionar os incentivos para uma política industrial e de exportação com sinergia com o mercado interno.
Da conversa com Carvalho emergia uma figura pública singular, herdeira direta de princípios históricos que o PT perdeu pelo caminho. Mas, acima de tudo, com uma sabedoria sem firulas, entendendo os pontos centrais a serem defendidos nas políticas públicas.
Com sua saída, perde o país. Mas perde, sobretudo, o governo Dilma. Que, aliás, há muito tempo tinha aberto mão de sua visão política.

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