“É ERRADO FALAR EM SUCESSÃO AGORA”

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por Paulo Moreira Leite

Em entrevista ao 247, Paulo Teixeira diz que o debate sobre 2018 só pode enfraquecer Dilma e provocar divisão no ministério
Um dos deputados mais influentes da bancada do PT, Paulo Teixeira conversou com o 247 sobre a conjunta política. O parlamentar condena todo esforço, no interior do PT e do governo, para antecipar o debate sobre 2018, inclusive com o anuncio de que Lula já é o candidato escolhido. Convencido de que Lula é mesmo o nome natural no próximo pleito, Paulo Teixeira adverte que um debate fora de hora “pode até comprometer a credibilidade do governo atual, ao passar a ideia de que o segundo mandato de Dilma pode ser visto como um acontecimento efêmero, pois o que importa para valer é a eleição de 2018. ” Lembrando os efeitos nocivos da divisão de ministros durante o primeiro mandato de Lula, Teixeira diz que  “até o PSDB, que não tem um país para administrar, decidiu esperar em silêncio pela hora certa para discutir a sucessão.” A íntegra da entrevista:

Pergunta — O senhor tem criticado as lideranças do PT que costumam dizer que o partido já tem candidato para 2018 . Por que a crítica?
Resposta — Lula é nosso candidato natural para 2018. A memória do governo dele é a melhor possível e hoje é um patrimônio dos brasileiros. Não há a menor dúvida a respeito. O problema é que falar de 2018 implica em debater a sucessão de Dilma e é errado fazer isso agora. O segundo mandato está apenas começando. Os ministros mal foram empossados. Não podemos nos iludir. Neste momento, a prioridade é garantir um bom governo até a próxima eleição. Temos um período de quatro anos para atravessar e é muita pretensão imaginar que o futuro já está assegurado e podemos cuidar do que vai acontecer daqui a quatro anos. A experiência mostra que este é o melhor caminho para um governo dar errado. Temos uma situação internacional complicadíssima e uma economia em situação difícil. Este deve ser nosso foco político.
Pergunta — O que o Lula deve fazer até lá?
Resposta — Lula é o antecessor mais elegante da nossa história, o mais correto. Sabe se comportar de uma forma que não permite as intrigas que em todas as épocas acompanharam as relações entre aquilo que muitos analistas chamam de criador e criatura. Ele trata a Dilma com toda dignidade, respeita o mandato presidencial e suas prerrogativas. Lula quer ajudar sem atrapalhar e eu acho que está fazendo a coisa certa. Viaja pelo país, dialoga, dentro e fora do governo.
Pergunta — Falar em sucessão, agora, só pode causar outros prejuízos ao governo?
Resposta — Sem dúvida. Pode até comprometer a credibilidade do governo atual, o passar a ideia de que o segundo mandato de Dilma pode ser visto como um acontecimento efêmero, pois o que importa para valer é a eleição de 2018. Outro efeito ruim é que estimula a divisão entre ministros, criando um ambiente de indisposição e rivalidade. Acho que ninguém esqueceu das disputas entre ministros durante o primeiro mandato de Lula. Em 2015, mesmo o PSDB, que sofreu a quarta derrota consecutiva, e que até deveria estar mais preocupado com a campanha de 2018 do que nós, pois não tem um país para governar, decidiu esperar em silêncio pelo amadurecimento do debate interno, entre o Aécio Neves e o Geraldo Alkcmin. É uma forma do partido se preservar, poupar suas forças.
Pergunta — Muitas pessoas alegam que o nome de Lula ajuda a impedir o crescimento de Aloizio Mercadante, que tornou-se um ministro forte demais.
Resposta — A experiência mostra que em nosso sistema político, nenhum governo pode ter um Chefe da Casa Civil fraco. Ele precisa de força para fazer o trabalho de coordenar os demais ministros. Caso contrário, o presidente acaba sendo obrigado a cumprir suas funções, o que é sempre pior. Já tivemos essa situação antes e a experiência não foi boa.
Pergunta — O Aloizio Mercadante está forte demais?
Resposta — Não há notícia de a Casa Civil tem tido um comportamento desafinado em relação à Presidência. Um bom ministro-chefe da Casa Civil não pode ser forte demais, pois o risco é substituir a presidente. Também não pode ser fraco demais, pois o risco é não fazer o que se espera dele. Estamos falando de um cargo onde é preciso muito equilíbrio, como alguém que caminha no fio da navalha.
Pergunta — O Aloizio, de qualquer maneira, é visto como o nome mais forte e destacado deste governo, ao menos até agora…
Resposta — Não acho. Você está olhando para o segundo mandato com os olhos do primeiro. O Aloizio assumiu funções muito importantes em 2014. O segundo mandato está só começando e há pelo menos um segundo nome com a mesma importância política, o Jaques Wagner. Ele volta a Brasília com um capital político enorme, de certa forma único. Teve três vitórias eleitorais consecutivas na Bahia, o que não é pouca coisa. O mais importante é que a presidenta inaugurou o segundo mandato constituindo uma coordenação de governo, com a participação dos dois ministros já mencionados, mais os ministros José Eduardo Martins Cardoso, Miguel Rosseto, Pepe Vargas e Ricardo Berzoini.

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