Com medo das ruas, prefeitos ampliam passe livre para juventude

Autor: Miguel do Rosário
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Em junho de 2013, o Brasil estremeceu.
De euforia, primeiro.
Depois euforia misturada a um pouco de medo.
Em seguida, euforia, perplexidade e confusão.
O “gigante” acordou.
Um gigante cheio de adrenalina e fúria. Em alguns momentos, com imaturidade e violência.

Os partidos tentaram domá-lo. Não conseguiram.
A mídia tentou domá-lo. Foi rechaçada.
Até que ele começou a tropeçar nos próprios pés. Era grande demais. Contraditório demais. Esquizofrênico.
De um lado da rua, hordas pedindo intervenção militar. De outro, revolução anarquista.
Após vários meses, quando os protestos começavam ganhar focos mais objetivos, quando entram em cena algumas pautas trabalhistas e sociais, quando a própria mídia começa a ser alvo das manifestações, os donos do dinheiro e da mídia perdem a paciência.
A máquina de moer carne da mídia começa a fabricar o que ela mais sabe fazer: uma narrativa de crime.
Por pouco não se implantou no país uma legislaçaõ anti-terrorista totalmente desnecessária.
Os analistas até hoje não conseguem interpretar direito o que aconteceu. Cada um puxa o peixe para o seu lado.
A direita sonhou com a derrubada do PT. A esquerda radical e os anarquistas sonharam com uma revolução.
Não aconteceu nem uma coisa nem outra.
Encerrada as eleições de 2014, os entusiastas das “jornadas” ficaram profundamente decepcionados.
Sérgio Cabral elegeu seu sucessor no Rio.
Alckmin ganhou no primeiro turno, com louvor.
Dilma venceu.
Cadê as ruas, se perguntavam?
Eis que as coisas permaneceram as mesmas?
Talvez sim. Talvez não.
Eppur se mueve, sussurrou Galileu para si mesmo, ao final do processo em que teve de admitir, sob ameaça de morte e tortura, uma teoria que sabia falsa: que a Terra seria o centro do universo.
E no entanto se move, disse ele!
A mesma coisa vale para a política brasileira.
As coisas continuaram bem parecidas, mas também se moveram.
O que parecia impossível, o passe livre total, em todas as grandes cidades, agora é um sonho distante, porém não mais impossível.
Após as jornadas, várias prefeituras brasileiras começaram a experimentar o passe livre.
Na prefeitura de Maricá, o prefeito instituiu o passe livre total.
No ano passado, a prefeitura do Rio instituiu o passe livre parcial.
Este ano, é a vez da prefeitura de São Paulo dar passe livre para estudantes e universitários.
Em Recife, os jovens também conseguiram passe livre para estudantes da rede municipal de ensino.
Ainda há muito a fazer, obviamente.
Se os jovens souberem fugir à armadilha dos protestos violentos, que são necessariamente capturados por interesses antipopulares; se fugirem da armadilha da “desorganização”,  tonar-se-ão uma força social e política influente no país.
A nossa democracia ainda tem uma história a ser escrita. Quem irá escrevê-la, para o bem ou para o mal, são nossos jovens.
Cabe às lideranças políticas do país (se é que ainda faz sentido falar em liderança política hoje), proporcionar um mínimo de utopia para milhões de meninos e meninas que sonham crescer e se estabelecer numa nação infinitamente melhor do que aquela que eles só puderam conhecer pela TV.
Cabe aos jovens deixarem de ser apenas isso, “jovens”, e tornarem-se cidadãos. E não esquecerem jamais que a magnitude e a extensão de seus direitos estarão sempre relacionadas  a uma consciência mais responsável de seus deveres.
Precisamos de manifestações por mais saúde pública, por exemplo, mas precisamos mais ainda de jovens médicos dispostos a trabalhar nas periferias e cidades pequenas, por um salário razoável.
Se houver bom senso (virtude às vezes tolamente esnobada pelo jovem, o que é compreensível; mas também pelos “maduros”, o que é imperdoável), tudo vai dar certo.

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