VIM




Postado por Mauro Santayana

Alados seres murmuraram meu nome,

e um brilho tênue anunciou-me antes,

entre milhões de outros,

na noite coalhada de cometas 

e estrelas,

estendida como um manto

sobre o vento e a areia.


Vim,

como muitos

antes de mim.




Para admirar-me

com as nuvens

e o correr do Sol e dos rios,

os lagartos e os peixes,

as serpentes e os escorpiões,

os trovões e os lagos,

e o egoísmo,

a violência e a injustiça

dos corações humanos.



Vim

para falar daqueles

que pisam sobre os outros,

dos que acumulam

riquezas e certezas

e se regozijam sobre fartas mesas,

enquanto seus escravos 

quase nada comem.



Vim para contar de golpes 

e de faces. 



De moedas, agulhas,

e camelos.



De peixes,  redes,

tempestades.



Da morte, 

do medo e da vontade.



De demônios e imperadores,

e reinos nunca vistos antes.



Se és daqueles que matas, 

discriminas,

calunias,

desprezas,

torturas, 

mentes,

enganas,

e roubas

em meu nome,

minha mão te espera,

ensanguentada e em chagas,

e não escaparás dela,

por mais que tenhas 

vestes e templos,

lanças e armaduras,

incenso ou ouro.



Se és daqueles 

que se satisfaz,

quando assaltas e tiras a vida,

e espancas teus irmãos e tuas irmãs,

e teu bastão 

se abate contra os indefesos,

e teu chicote 

corta a carne dos mais fracos,

em porões e prisões

como aquela em que estive um dia,

minha mão te espera,

ensanguentada e em chagas,

e será pesada,

por mais que carregues

escudos, 

correntes e espadas.



Se afirmarem que minhas ideias 

estão mortas, estarei vivo.



Se disserem  que estou fraco,

estarei mais forte.



Se falarem que ando com 

príncipes e ricos,

me encontrarão entre os desprezados,

no meio dos loucos e dos leprosos,

dos rebeldes e dos pobres.



Se és cruel,

hipócrita e injusto, 

cuida e teme.



Do alto da cruz,

meus olhos te contemplam.

E a alma em meu peito ainda geme,

suspira e luta,

enquanto meu coração, 

indignado,

treme.





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