Propina a oficiais da FAB e a governador tucano constrange golpistas?
Episódio didático para aquele pequeno grupo de extremistas que sai com faixas pedindo "intervenção militar" como se fosse antídoto para a corrupção
Antídoto contra a corrupção não é volta do regime militar. É reforma política, a transparência e o fim da impunidade por Helena Sthephanowitz Os poucos extremistas barulhentos que carregam faixas na Avenida Paulista pedindo "intervenção militar", "contra a corrupção", entraram em uma sinuca de bico com a notícia de que dois oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) teriam recebido suborno da empresa de manutenção aérea Dallas Airmotive, com sede nos Estados Unidos. |
Outro caso de suborno da mesma empresa envolve um oficial do gabinete do governo de Roraima, na gestão do ex-governador Anchieta Júnior, do PSDB. O caso veio à tona quando a empresa fez um acordo com promotores federais na Justiça dos Estados Unidos para pagar a US$ 14 milhões de multa criminal por violar leis de Conspiração e o Foreing Corrupt Practices Act, lei estadunidense de 1977 que pune suborno a funcionários de governos ou políticos estrangeiros. O Departamento de Justiça divulgou o acordo, mas a versão pública do documento oculta os nomes dos subornados, substituindo por termos como "Oficial 1", "Empresa A" etc.
A Dallas Airmotive admitiu ter pago propinas entre 2008 e 2012 na América Latina em quatro casos. Além dos dois casos brasileiros, um funcionário da província de San Juan na Argentina e um oficial da Força Aérea Peruana foram corrompidos. Fazem parte do processo e-mails combinando o pagamento de propinas através de empresas de fachada para dissimular a propina e o destino.
No caso da FAB, o "Oficial 1", aparentemente o mais graduado, passa por e-mail informações para pagamento em julho de 2010: "Estou enviando as informações da empresa. Não se preocupe. A empresa aqui no Rio mostra o meu nome como sócio e por essa razão eu não poderia fazer negócios com vocês, o TCU (Tribunal de Contas da União) não permite, hahaha".
O "Oficial 2" da FAB, segundo o documento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, seria um sargento, aparentemente subordinado ao "Oficial 1", e outros emails demonstram que ele teve também uma viagem de turismo para a família bancada pela empresa.
No caso de Roraima, uma troca de e-mails em 26 de abril de 2011 entre administradores e agentes de vendas da empresa reclamam da ganância do "Oficial 3", pelo alto valor da propina pedida, e pelo pedido de pagar duas vezes, uma para ele, outra para um representante comercial.
Devem ter chegado a um acordo, pois o Diário Oficial do estado publicou a assinatura do contrato no dia 27, entre o então secretário-chefe da Casa Militar de Roraima, coronel Edison Prola, e a Dallas Airmotive do Brasil, no valor de R$ 935 mil, para serviços de manutenção de aeronave.
Apesar de o coronel Edison Prola ser o signatário do contrato, não se pode acusar-lo nem ninguém ainda enquanto a identidade do "Oficial 3" não for revelada pela Justiça dos Estados Unidos. Espera-se que o Ministério Público de Roraima cumpra o dever de buscar cooperação com os EUA para esclarecer esse caso, pois escândalos que envolvem governos tucanos tem um histórico impressionante de ficarem esquecidos no fundo das gavetas.
Voltando à FAB, não é justo enlamear a instituição toda por desvio pessoal de alguns seus membros, quando a maioria nada tem a ver com isso e repudia quem corrompe, como acontece em qualquer setor. A maioria dos funcionários da Petrobras também repudia diretores e gerentes que se corromperam. Militantes de verdade que têm ideal, sejam de partidos políticos ou não, de movimentos socais ou não, também repudiam quem se corrompe – por ferir valores e princípios, por prejudicar as lutas sociais coletivas e ainda mais por mera ganância.
Mas o episódio é didático para aquele pequeno grupo de radicais golpistas que saem com faixas pedindo "intervenção militar" como se fosse antídoto para a corrupção. É claro que não é. Corrupção é movida por uma mistura de fraqueza de caráter com ganância por dinheiro, esta última bastante turbinada nos últimos tempos neoliberais e defendida por muitos golpistas. A corrupção prospera e funciona bem quando é feita só nos bastidores, em ambientes controlados, longe dos olhos do povo, como ocorria na ditadura. A corrupção desanda quando é exposta. O povo vê mais a cara feia da corrupção, mas é apenas porque ela está sendo desbaratada e exibida ao público.
Além da reforma política proibindo o financiamento empresarial de campanhas políticas, antídoto para a corrupção é transparência e controle social sobre as instituições para não haver impunidade. E isso só é possível com democracia plena, que dá direito amplo à informação pelo público, inclusive aquelas informações que alguns órgãos que deveriam investigar com prioridade mas, sabe-se lá por que, ficam no escurinho do fundo das gavetas, enquanto oligarcas da mídia, donos de jornais e TVs, mantêm fora do noticiário.
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