Paul Krugman: O efeito petróleo
O impacto da queda dos preços pode ser maior do que se pensa
por Paul Krugman
O impacto econômico da queda dos preços do petróleo pode ser maior do que se pensa |
Tento acompanhar a velocidade do impacto da queda do preço do petróleo, e uma das histórias importantes se desdobra na Rússia do presidente Vladimir Putin.
Evidentemente, os recentes problemas naquele país derivam de outras coisas além dos preços do petróleo, sobretudo da situação na Ucrânia e suas consequências. Mas ainda é bastante notável a velocidade com que a situação financeira parece estar se desenrolando. Os vigilantes dos títulos não são invisíveis em Moscou. As taxas de juro para dez anos, que estavam abaixo de 8% no início deste ano, chegaram a 12,67% recentemente.
A pergunta que se poderia fazer é por que a Rússia é tão vulnerável? Afinal, o país administrou grandes superávits de conta corrente ao longo do tempo. E de modo geral é um país credor, e não devedor. Mas há muitas dívidas externas, de todo modo, a refletir empréstimos do setor privado e as reservas cambiais estão caindo depressa, devido em parte à fuga de capital privado.
Isso me faz lembrar de um dos ângulos da crise da dívida latino-americana nos anos 1980. Na época, a Venezuela, assim como a Rússia hoje, era uma petroeconomia que tinha constantemente superávits de conta corrente. Mas era um devedor vulnerável, porque todos aqueles superávits externos (e mais) haviam na verdade sido reciclados em ativos no exterior de propriedade da elite corrupta.
É claro, a Venezuela não tinha energia nuclear.
É claro, a Venezuela não tinha energia nuclear.
Eu poderei dar em breve algumas entrevistas à mídia em que as pessoas me perguntarão sobre o que a queda dos preços do petróleo significa para a economia americana, por isso pensei em dedicar algum tempo a descobrir o que eu poderia dizer de interessante. E me parece que há um pouco mais nessa história do que uma olhada casual poderia sugerir.
A grande notícia antes da queda foi, é claro, o fraturamento hidráulico, ou fracking, do xisto para obtenção do petróleo, que reverteu abruptamente a longa queda da produção interna. Você poderia pensar que esse aumento na produção, ao reduzir as importações, deixou os Estados Unidos relativamente isolados dos choques do petróleo. Mas precisamos nos lembrar de que na véspera dessa última queda os preços reais do petróleo estavam altos pelos padrões históricos e que as importações de petróleo como porcentagem do PIB permaneciam altas.
Assim, o impacto econômico da queda dos preços do petróleo poderá ser maior do que você pensa. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento do xisto possivelmente mudou de algumas maneiras importantes a natureza desse impacto. Como mais uma vez temos uma indústria de petróleo doméstica importante, a queda dos preços hoje cria perdedores assim como vencedores nos EUA.
Os ganhos da queda dos preços superam os prejuízos, e se a propensão marginal a gastar for semelhante isso deveria explicar a demanda agregada. Na verdade, nos velhos tempos, quando o petróleo doméstico significava basicamente bilionários do Texas e tudo o mais, era racional argumentar que a redistribuição interna aumentava ainda mais a demanda quando o petróleo caía.
Mas o fracking significa que alguns produtores são muito diferentes. Entre outras coisas, eles estão envolvidos em grandes gastos em investimento. Por isso você poderia defender a tese de que a queda do petróleo é menos expansionista do que costumava ser, e até que seja possivelmente contracionista. Mas pode haver mais em ação aqui do que os puros termos do efeito comercial.
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Dean Baker, o codiretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas, ficou incomodado, e com razão, por recentes alegações de que os keynesianos deixaram de prever uma recuperação econômica lenta nos Estados Unidos. Baker e eu estávamos arrancando os cabelos no início de 2009, advertindo que o estímulo de Obama era muito pequeno e de curta duração.
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Dean Baker, o codiretor do Centro para Pesquisas Econômicas e de Políticas, ficou incomodado, e com razão, por recentes alegações de que os keynesianos deixaram de prever uma recuperação econômica lenta nos Estados Unidos. Baker e eu estávamos arrancando os cabelos no início de 2009, advertindo que o estímulo de Obama era muito pequeno e de curta duração.
Mas na verdade é pior que isso. Como indicou Baker no blog da CEPR (bit.ly/1Gauxzj), Robert Samuelson, colunista do Washington Post, está tomando o fato de que este ciclo econômico não se parece com os anteriores como evidência de que os keynesianos não entendem de macroeconomia, e portanto não deveriam tentar ajudar a economia. Mas eu já previa uma recuperação tardia e sem empregos muito antes que a recessão fosse oficial, e expliquei cuidadosamente por quê.
Também recebo com frequência comentários na linha “se você é tão inteligente, como é que não viu a bolha da habitação?”, quando eu não apenas a vi (embora Baker a tenha visto muito antes), como recebi muitas críticas por ousar levantar perguntas sobre o Boom Bush.
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