Novos ministérios já confirmados ainda não definem 'nova Dilma'
Presidenta traz nomes de projeção e contrapõe sinalizações de avanços, como nas Comunicações, Trabalho e Itamaraty, com nomes símbolos de conservadorismo, como na Fazenda, Agricultura e Cidades
por Paulo Donizetti de Souza, da RBA
por Paulo Donizetti de Souza, da RBA
São Paulo – A esperança e a frustração caminham juntas na transição do primeiro ao segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff. A apreensão dos setores progressistas e movimentos sociais, que cobravam uma arrancada mais à esquerda após um segundo turno (e um “terceiro”) em que a oposição assumiu a sua guinada à direita, começou com o convite a Joaquim Levy para substituir Guido Mantega na Fazenda. Um perfil dos sonhos do mercado financeiro.
A indicação só não deixou mais perplexos os que defendem a manutenção da política econômica desenvolvimentista, com foco na proteção ao mundo do trabalho (emprego e renda) e na distribuição de renda, graças ao anúncio concomitante de Nelson Barbosa para o Planejamento, pasta que terá grande peso sobre projetos estratégicos para a economia, como a universalização da banda larga, Minha Casa Minha Vida e expansão do PAC. A manutenção de Alexandre Tombini no Banco Central, completou a equipe econômica.
Depois de “acalmar” os mercados e inquietar as forças sociais que foram o principal suporte de sua reeleição, Dilma prosseguiu as nomeações, algumas já confirmadas, outras esperadas: Aldo Rebelo (PCdoB) deixa o Ministério do Esporte para assumir a pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação. Jaques Wagner (PT), atual governador da Bahia, será o novo ministro da Defesa no lugar de Celso Amorim, que por sua vez deve voltar ao Ministério das Relações Exteriores.
Na Educação, foi confirmado o nome de Cid Gomes (Pros), atual governador do Ceará.
Pelo menos seis peemedebistas foram confirmados no comando de pastas do segundo mandato do governo Dilma. O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) assumirá o Ministério de Minas e Energia. Como ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, assumirá Eliseu Padilha, ex-ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso. O deputado Edinho Araújo (SP) vai comandar a Secretaria Nacional de Portos. A nova ministra da Agricultura será a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), atualmente é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Também do PMDB, o paraense Helder Barbalho, filho de Jader, assumirá o Ministério da Pesca. E no Turismo, permanece o atual ministro Vinícius Lages, fechando, até aqui, o pacote peemedebista já confirmado no primeiro escalão.
Para o Ministério das Cidades, o indicado foi ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do PSD.
Também foi anunciado o nome do futuro titular da Controladoria-Geral da União, Valdir Simão, atual secretário-executivo da Casa Civil. O novo ministro do Esporte será George Hilton, deputado federal pelo PRB de Minas Gerais. Assumirá a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) a professora Nilma Lino Gomes, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE) e reitora da Unilab, Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Ideli Salvatti (Direitos Humanos) eEleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) devem permanecer.
São esperadas ainda as confirmações de Ricardo Berzoini, Ministério das Comunicações, e de José Lopez Feijóo no Ministério do Trabalho e Emprego. Ex-deputado e atual ministro das Relações Institucionais, Berzoini, deve ser substituído por Pepe Vargas (PT-RS). É esperada para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, hoje ocupado por Miguel Rossetto, a indicação de Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social do governo Lula; Rossetto migrará para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Gilberto Carvalho.
Também são dadas como certas as permanências de Aloizio Mercadante (Casa Civil), Teresa Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), José Eduardo Cardozo (Justiça), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Arthur Chioro (Saúde) e Afif Domingos (Secretaria da Micro e Pequena Empresa).
A ida de Berzoini, defensor da regulação econômica da mídia e da democratização do acesso e da difusão da informação, pode representar uma aproximação das Comunicações com as demandas dos principais movimentos sociais que atuam na área. E a possibilidade de que acumule a Secretaria de Comunicação Social, hoje ocupada por Thomas Traumann, é uma sinalização de mudanças também na política de publicidade oficial.
O retorno do Ministério do Trabalho a uma liderança com origem no movimento sindical cutista – Feijóo presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a CUT – abre ainda a expectativa de que a pasta retome seu protagonismo na condução de políticas integradas com outras fundamentais para a área social. E a volta de Celso Amorim ao Itamaraty representaria um fortalecimento da política externa que reposicionou a inserção do Brasil na geopolítica internacional a partir dos governos de Lula.
Resta saber em que medida essas sinalizações podem compensar as decepções dos movimentos sociais com indicações como as de Katia Abreu na Agricultura e de Gilberto Kassab nas Cidades. A senadora e dirigente da CNA é símbolo do conservadorismo da bancada ruralista no Congresso, da resistência às monoculturas de commodities, aos desmatamentos, ao trabalho degradante no campo, à demarcação de terras e regularização fundiária de comunidades tradicionais. E Kassab, substituto de José Serra na prefeitura de São Paulo, é conhecido por sua afinidade com o tucano e pela gestão marcada pela proximidade com a especulação imobiliária. Embora estejam hoje no PMDB e no PSD, ambos têm a cara do DEM.
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