Menor Quociente Viável de Sociopatia (MQVS)
“Não há nazistas combatendo a favor da Ucrânia”.
(Se você leu e acreditou, troque de óculos e olhe outra vez)
São bandeiras nazistas e da OTAN, lado a lado.
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Parece que ultimamente ando fazendo várias coisas hiperprodutivas: explicando ao pessoal como matar as quatro bestas do Império; revolucionando o modo como se alfabetizam falantes nativos e não nativos do inglês... Alguém acaba de escrever por e-mail, que já me converti num daqueles “comentaristas respeitáveis”. UAU! Se eu continuar assim, corro o risco de fazer “Contribuição Significativa para a Sociedade” (CSS). O que seria erro, não só para mim, mas para todos.
Passo cada dia mais tempo apagando comentários imbecis mandados para o blog. É atividade de bloguismo, correspondente a desgrudar moscas da tela da janela. (A proporção é de 1% de comentários refletidos, de gente que lê o escrito, para 99% de trolls imbecis.) Falando sério. É triste. Mas gostei de um, outro dia, de um ucraniano, que escreveu que o povo dele afogará todos os russos no próprio sangue deles (ucranianos). Bonitinho, mas deletei, mesmo assim, porque é discurso de ódio.
As Venkatesh Rao explica tão bem seu [blog] Ribbonfarm, uma pessoa enfrenta dois riscos opostos ao lidar com as vicissitudes da existência terrena: o risco de nada realizar e o risco de realizar algo não previsto na estratégia. Permitam-me resumir seu argumento.
Se você simplesmente vaga sem rumo pela vida, respirando oxigênio e comendo e excretando matéria orgânica, você mesmo assim chega a algum lugar. Estatisticamente, um marinheiro cego de tão bêbado que caminha de bar em bar, em média, enquanto vai tropeçando no seu vagar sem rumo para lugar algum, cobre a distância de √n [raiz quadrada de n] passos, para cada n passos que dê. É o que se conhece como caminhada randômica ou movimento browniano – que dá conta de moléculas acima de OºK (zero graus Kelvin), e talvez também de marinheiros bêbados. Mas a maioria de nós, seres sensíveis, queremos que nossa vida tenha uma pitada de sentido. E se o andar da nossa vida começa a parecer-se demais com uma caminhada randômica, nesse caso tendemos a nos pôr a nos perguntar perguntas difíceis, tipo “Que sentido tem isso?” e a beber demais. E isso torna nossos passos cada vez mais perto de randômicos. E há aí grave risco, porque esse tipo de marcha em espiral para o buraco acaba, inevitavelmente, com alguém a explicar-lhe “que sentido tem isso” e tudo que você tem de fazer, supostamente para seu próprio bem, por menos que jamais seja.
Há também o perigo oposto. Se você mantém seus olhos fixos no seu objetivo e faz esforço concertado para dar n passos progressivos naquela direção para todos os n passos dados, você logo chega ante uma muralha, com um portão e um guarda junto ao portão que pede que você mostre a autorização, o grau, o nível, a qualificação ou o certificado, antes de permitir que você passe pelo portão. E o processo para obter autorização, grau, nível, qualificação ou certificado sempre terminará com alguém a dizer-lhe qual tem de ser seu objetivo.
O objetivo é, universalmente, acumular: dólares, ou divisas no uniforme, ou artigos publicados, ou vezes que você foi citado, ou pasta de maconha. Detalhes não interessam, mas o que interessa é que essas coisas têm praticamente coisa alguma, nécas, a ver com seu objetivo original. E por mais que muita gente racionalize que essas coisas são necessidades, ou meios para algum fim, é difícil convencer você que seria razoável consumir todas as suas energias na busca incansável por pasta de maconha para repor-se de volta na trilha para a meta inicial – qual era, mesmo?.
Aí estão, pois, suas duas opções: marchar (digamos) sem sair do lugar; ou aceitar as instruções de marcha que lhe são dadas por outro – e marchar sem parar, até o fim da vida, só recolhendo pasta de maconha.
Mas Venkatesh, esperto como ele só, nos oferece uma terceira opção. Você sabe, há um limiar para a quantidade de progresso a ser alcançado em qualquer direção possível, antes de você chegar a muralhas. Se marcha randômica resulta em √n passos para cada n passos dados, você pode descobrir experimentalmente um limiar δ [delta] tal que, para cada n passos, você obtenha o equivalente em progresso a √n+δ passos em qualquer direção que você escolha andar, sem cair no radar de seja quem for. Essas duas limitações aparecem reunidas numa fórmula simples, que Venkatesh nos oferece:
√n < C ≤√n + δ
onde “C” é a Contribuição para a Sociedade, que cada um faz. Os que se mantêm dentro dos parâmetros expressos por essa fórmula praticam o que se define como “Menor Quociente Viável de Sociopatia” (MQVS).
É conceito tremendamente poderoso, porque mostra que você pode fazer, sim, praticamente qualquer coisa que queira fazer. Basta que você faça número suficiente de coisas diferentes, e que despreze e desqualifique suficientemente todas elas a tal ponto que nenhuma delas corra o risco de fazer alguma Contribuição Significativa para a Sociedade (CSS), de ser percebida e potencialmente destruída pelos que protegem, ciumentamente, as próprias prerrogativas para determinarem, só eles, quais as contribuições válidas e quais as não válidas.
Tudo que você tem de fazer é fixar os olhos num ponto um pouco abaixo do que a média esperaria de você, e você está seguro.
Na prática, pelo menos para mim, isso significa que sempre que a coisa começar a parecer que estou caminhando para obter determinada habilitação para determinado trabalho, ou que começo a encaixar-me nas “qualificações exigidas” para um ou outro “empregado procurado”, ou que começo a me meter em coisa que exige registro, certificado, autorização ou licença, o que tenho de fazer é retroceder ou mudar completamente de rumo por algum tempo, até que todos se desinteressem completamente de mim. Ao fazê-lo, várias vezes aconteceu de eu ter desperdiçado oportunidade de ganhar mais dinheiro. Mas esse é o preço da liberdade.
Por exemplo, vocês com certeza esperam que, na sequência, nesse blog, aparecerei falando do colapso dos EUA, ou sobre a Ucrânia, ou de como se deve ensinar língua inglesa, ou que lhes oferecerei pílulas de filosofia, como hoje. Façam seus jogos. Eu escreverei sobre outra coisa qualquer.
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[*] Dmitry Orlov é um engenheiro russo-americano e escritor sobre temas relacionados ao declínio econômico, ecológico e político dos Estados Unidos. Orlov acredita que o colapso será o resultado dos orçamentos militares, enormes déficits do governo e um sistema político que não responde e declínio da produção de petróleo. Orlov nasceu em Leningrado (agora São Petersburgo) e se mudou para os Estados Unidos com 12 anos. Tem bacharelado em Engenharia de Computação e Mestrado em Lingüística Aplicada. Foi testemunha ocular do colapso da União Soviética durante os ano 1980-90. Entre 2005 e 2006 escreveu uma série de artigos sobre o colapso da União Soviética publicada em Peak Oil. Em 2006 publicou o Manifesto Orlov on-line, “A Nova Era da Vela”. Em 2007, ele e sua esposa venderam seu apartamento em Boston e compraram um veleiro, equipado com painéis solares e seis meses de fornecimento de gás propano e capaz de armazenar grande quantidade de produtos alimentícios. Chamou “cápsula de sobrevivência”. Continua a escrever regularmente no seu blog “Clube Orlov” e no EnergyBulletin.Net
3/12/2014, [*] Dmitry Orlov, Club Orlov
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
POSTADO POR CASTOR FILHO
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