Luis Nassif: É hora de enfrentar a questão Petrobras


Uma pessoa são as experiências que acumulou ao longo da sua vida. O inferno de Dilma Rousseff é uma síntese dessas experiências incompletas.
A mais intensa experiência de política Dilma Rousseff foi na luta armada, na qual a cabeça do dirigente se formava assim:
1. Por segurança, dividir o todo em células, prejudicando a visão de conjunto. Cada célula tinha sua batalha diária, sem noção maior sobre o situação atual da luta.

2. Para impedir poderes paralelos, havia a compartimentalização das células, de tal modo que cada uma delas tornava-se uma cumpridora cega de ordens, sem poder colaborar com informações, análises e críticas.
3. Visão hierárquica, com um grupo restrito decidindo as questões estratégicas, sem compartilhar informações.
4. Sem a visão de conjunto, a busca do resultado tornava-se pouco objetiva. O chefe é o único responsável pelas estratégias e pela segurança dos seus. Assim, a lealdade pessoal com subordinados é maior do que o resultado político perseguido.
Somem-se outras características da carreira política de Dilma, como o fato das suas lealdades terem sido formadas no mundo restrito da política petista e pedetista do Rio Grande do Sul, sem a possibilidade de conviver com grandes quadros nacionais. E, finalmente, o episódio Erenice, que ampliou sua desconfiança em relação ao mundo brasiliense para se entender seu estilo fechado, solitário, dificultando bastante a transição para o segundo governo.
As questões prioritarias
Nos últimos dias, a agenda de Dilma dividiu-se entre cerimônias de direitos humanos, posses de Ministros do TCU, visitas a estaleiros da Marinha.
Simultaneamente, tem os seguintes pepinos na sua mesa:
• Caso Petrobras.
• Montagem do Ministério.
• Definição dos presidentes de bancos públicos.
• Acordos partidários sob o risco de uma mesa da Câmara controlada por Eduardo Cunha.
• A tensão da votação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e da parceria Toffoli-Gilmar.
É humanamente impossível administrar pessoalmente todos esses pepinos.
Por isso mesmo, executivos experimentados se cercam de um quadro de gestores experientes, definem as prioridades com clareza e tratam de limpar a área para cada desafio, liberando-se para resolver os restantes.
A prioridade absoluta do momento é resolver a questão Petrobras.
Sabia-se que a Lava Jato seria uma bomba de alta octanagem. Dilma deveria ter-se antecipado e criado fatos políticos que funcionassem como divisor de águas. Não faltaram conselhos a seus marquetólogos. Agora, tem-se uma fogueira se alastrando.
Na semana passada, a presidente Graça Foster apresentou a Dilma a única saída viável do momento: o pedido de demissão da diretoria.
Graça é uma executiva e funcionária pública exemplar, acima de qualquer suspeita. Herdou um pepino colossal e não deu conta do desafio – como muito poucos dariam. Em certo período, chegou a concentrar em sua mesa todos os pagamentos, imaginando ser a única maneira de conter o dilúvio.
Não paira nenhuma suspeita sobre ela e sobre toda a diretoria atual da Petrobras. Justamente por isso, foi uma demonstração de realismo e de desprendimento entender a necessidade de uma substituição do comando para poupar a empresa.
É o mesmo princípio do time de futebol em má temporada. A substituição do técnico – mesmo sem nenhuma responsabilidade sobre os resultados – revigora, sinaliza mudanças.
A Petrobras está sob dois tiroteios: internamente, da operação Lava Jato; externamente, de jogadas especulativas no mercado internacional. Como os fundamentos da empresa se mantém, assim como as perspectivas futuras, necessita de um fato político para inverter o jogo. Esse fato consiste na indicação de um presidente com nome e experiência administrativa.
Ao segurar Graça Foster, Dilma imagina a lealdade que marcou, desde o início da vida adulta, suas relações com os seus subordinados. Mas a demora na substituição implicará no prolongamento da agonia da Petrobras e da própria Graça Foster.

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