Luis Nassif: Com o Ministério, Dilma prepara a guerra de 2015
Em 2015, as duas maiores ameaças ao governo Dilma serão a Justiça e o Congresso - e como ponto permanente de atenção, a Defesa. Com os grupos de mídia amplificando as revelações e estimulando o clamor popular - e a oposição sem conseguir desenvolver um discurso propositivo sequer - os embates se darão no STF (Supremo Tribunal Federal) e no Congresso.
No STF, o governo enfrentará a oposição sistemática de Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello, reforçada pela dubiedade de Antonio Dias Toffoli. Mas não se pode minimizar o impacto da Lava Jato sobre os Ministros assim como a ofensiva midiática.
No Congresso, a maior ameaça será a eleição de Eduardo Cunha, a melhor tradução do nível atual dos grupos de mídia, turbinado até a raiz do cabelo por interesses financeiros dos mais difusos, pela complacência da mídia e pela tolerância geral ao negocismo mais arraigado, desde que seja de utilidade para propósitos políticos.
São essas as peças do cenário analisado por Dilma para compor seu Ministério. O Ministério anunciado até agora visou, acima de tudo, preparar o governo Dilma para o embate de fevereiro.
É uma seleção brasileira de operadores políticos.
Substituindo Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil, o inefável Eliseu Padilha. No governo FHC, junto com Gedel Vieira Lima, ajudou a domar o PMDB, inclusive na convenção que recusou uma candidatura a Itamar Franco.
O ex-governador do Ceará Cid Gomes é um bom articulador político do seu grupo. Tem em seu favor os grandes avanços obtidos na educação no Ceará e, particularmente, em sua cidade natal. Mas conta, sobretudo, seu estilo político e de seu irmão.
O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab saiu do nada e montou um partido relevante com controle sobre mais de uma centena de parlamentares.
Próximo Ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebello, do PCdoB, assumirá uma pasta relevante, e um setor em polvorosa com atrasos na liberação de verbas. Mas sua maior virtude é o livre trânsito com seus colegas de Câmara.
Para a Defesa foi escalado o mais hábil dos quadros do PT, ex-governador baiano Jaques Wagner. Os três setores da economia - mercado, indústria e agronegócio - foram agraciados com Ministros saídos do próprio setor.
A primeira rodada de Ministros obedece a uma estratégia de guerra, e não se poderia exigir menos no meio do tiroteio atual. As últimas crises políticas ensinaram Dilma. Assim como a campanha eleitoral deve ter ensinado a importância de uma interlocução mais próxima com a sociedade. Aplacadas as demandas dos setores de poder, está liberada para montar um Ministério social de peso.
Resta saber como Dilma montará o seu núcleo estratégico.
Com Wagner na Defesa e Ricardo Berzoini nas Comunicações, o núcleo ficou restrito a Aloizio Mercadante, na Casa Civil, e ao futuro Secretário de Relações Institucionais. É pouco para permitir uma visão abrangente do jogo de forças.
Na área do Judiciário, Dilma continua a pé. A manutenção de José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça é a prova maior de que Dilma não tem noção sobre o papel ideal de um Ministro, menos ainda sobre quem colocar no cargo. Há uma infinidade de juristas e advogados simpáticos ao PT. Mas Dilma não os conhece e não parece pretender dar o braço a torcer.
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