Janot incorporou Gurgel?

O procurador-geral surpreende ao confundir justiça com política. Até hoje ele prometia outro comportamento
Janot
Rodrigo Janot era menos explícito, até então, que seu antecessor Roberto Gurgel
Desde o vazamento seletivo de informações, supostamente retiradas de peças sob segredo de justiça, com flechadas dirigidas, principalmente, contra Dilma Rousseff, contra o ex-presidente Lula e contra o PT, as variadas ações da Polícia Federal e do Ministério Público, no Paraná, caíram sob suspeita.
O braço ilegal da lei, certos policiais e certos procuradores, mirava além das investigações de corrupção interna na Petrobras. Esses cavavam para encontrar indícios de envolvimento da presidenta, do ex e dos dirigentes petistas.

Embora já tivesse dado sinais de omissão com algumas irregularidades − a exemplo da torcida, de policiais e procuradores, pela vitória do tucano Aécio Neves −, faltava ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma manifestação mais clara de suas simpatias. Era, até agora, menos explícito do que seu antecessor no cargo, Roberto Gurgel.
Parece, entretanto, que não conseguiu se manter contido nos limites de suas funções e no recato de seus ideais políticos. Foi, inclusive, muito mais além. Janot é consciente de que, por trás da corrupção econômica, além do enriquecimento ilícito há, sempre, o interesse político.
A ocasião para o procurador-geral surgiu na abertura, dia 9, da Conferência Internacional de Combate à Corrupção, quando depositou esperança de que houvesse “reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa, a substituição” da diretoria da Petrobras.
Sem explicar o “porquê”, Janot atacou a atual direção da empresa petrolífera, contra a qual não pesa acusação ou mesmo suspeita, e aumentou paralelamente a tensão no meio político, entre supostos culpados e suspeitos, com ameaças desnecessárias e de puro efeito midiático.
Exemplos: “A resposta para aqueles que assaltaram a Petrobras será firme. A decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal”; “Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos espúrios que engordaram suas contas à custa da esqualidez no Tesouro Nacional e do bem-estar do povo”.
Cabe à Procuradoria-Geral da República apresentar à Justiça um trabalho de apuração muito benfeito. Coalhada de adjetivos e superlativos, a peça acusatória não passará de prosopopeia vulgar. Isso só faz bem aos discursos de encenação de advogados decaídos para impressionar, geralmente em sucesso, o corpo de jurados.
Embora tenha servido ao sórdido conluio entre autoridades e jornalistas, acusações sem consistência viram espuma e se desmancham na areia, como ocorreu com a declaração atribuída ao doleiro Alberto Youssef, divulgada três dias antes da eleição presidencial, de que Dilma e Lula sabiam de tudo o que se passava na Petrobras.
Além de atropelar o segredo de Justiça, não seria, ou não será, preciso provar antes de divulgar?
A esperança da sociedade, descrente de quase tudo e de quase todos, parece ser outra. Ou seja, ver surgir provas que possam favorecer um julgamento limpo e lícito apoiado em penas previstas na lei. Nem mais e nem menos.

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