DSK, Blair, Geithner, Rubin: da política à finança
lguns políticos de primeiro plano são recompensados com cargos no setor privado, depois de executarem os recados encomendados pelo grande capital.
Éric Toussaint - Esquerda.net
DSK
O socialista francês Dominique Strauss-Kahn (DSK), ministro da Economia e das Finanças em finais dos anos noventa, mais tarde diretor-geral do FMI (2007-2011), tornou-se em 2013 presidente do conselho de administração do Grupo Anatevka, rebaptizado Leyne, Strauss-Kahn and Partners, Compagnie Financière (LSK), para desenvolver a atividade de banco de investimentos internacionais. Depois de ter sido obrigado a demitir-se do FMI em 2011, acusado de agressões sexuais, DSK passou a conselheiro de vários governos estrangeiros, nomeadamente os da Sérvia e do Sudão do Sul, e de umas quantas empresas, como o banco russo de desenvolvimento das regiões, o Russian Direct Investment Fund, a National Credit Bank e um consórcio de bancos marroquinos. A LSK, antiga Anatevka Compagnie Financière, tem uma centena de empregados espalhados por seis países (Luxemburgo, Bélgica, Mónaco, Israel, Suíça, Roménia), alguns deles paraísos fiscais evidentes. Golpe de teatro, a 23 de outubro de 2014: Thierry Leyne, sócio de DSK, suicida-se em Telavive. DSK declara logo a seguir: “Thierry Leyne tinha montado uma companhia financeira que tratava essencialmente da gestão de ativos. Não havia um departamento de banco de investimento. Competia-me a mim criá-lo, vocacionando-o para o aconselhamento aos governos e acessoriamente às empresas”. Acrescenta que Leyne “tinha contraído uma série de empréstimos excessivos” e tinha “uma reputação duvidosa”. DSK afirma que tinha sido atraído pelo facto de o homem de negócios “ter feito no passado algumas boas operações, com as empresas que ele tinha criado e revendido a grandes bancos”. Interrogado pela AFP sobre a presença de dinheiro sujo nalgumas sociedades do grupo LSK, o antigo chefe do FMI declara: “não tenho conhecimento”1. Dominique Strauss-Kahn tinha abandonado a presidência do LSK três dias antes do suicídio do seu sócio. A 3 de outubro de 2014, a justiça luxemburguesa tinha condenado o grupo LSK, a sua filial Assya e o seu principal acionista Thierry Leyne a pagar 2 milhões de euros à seguradora Bâloise-Vie Luxembourg, que desde julho de 2014 reclamava o reembolso de títulos do grupo LSK que tinha em carteira. No início de novembro de 2014, a sociedade LSK publica um breve comunicado, anunciando que a partir dessa data suspende os pagamentos, do qual citamos um breve trecho: “Após o desaparecimento trágico de Thierry Leyne, presidente em exercício, os membros do conselho de administração da sociedade LSK descobriram compromissos suplementares no seio do grupo, dos quais não tinham conhecimento e que agravam a sua situação financeira, que era delicada. (…) O conselho de administração concluiu que estas novas informações vinham pôr em causa a continuidade da sociedade LSK, cujo crédito está irremediavelmente comprometido. Por consequência, decidiu proceder à declaração de suspensão de pagamentos da sociedade.”2. A 7 de novembro de 2014, o tribunal de comércio do Luxemburgo declarou a falência da sociedade. DSK e Leyne projetavam, nomeadamente, lançar o DSK Global Fund, um hedge fund, que se destinava a especular com divisas, commodities e taxas de juro3. Este fundo de especulação pretendia reunir 2 mil milhões de dólares prioritariamente angariados junto de investidores dos países emergentes, incluindo a China.
Contrariamente às aparências, o que acabamos de descrever não é tirado de um novo filme de Oliver Stone, continuação deWall Street, o filme Le retour du loup de Wall Street de Martin Scorsese ou do filme O Capital de Costa-Gavras4. Trata-se de factos retirados em 2014 do capitalismo real. É verdade que não abriram telejornais, nem foram manchete de jornais.
Tony Blair
Primeiro-ministro do Reino Unido de 1997 a 2007, Tony Blair teve sucesso nos negócios. Calcula-se que em 2013 já tinha acumulado uma fortuna de 30 a 60 milhões de libras esterlinas ao especializar-se em trading. Dirige um conjunto de pequenas sociedades sediadas num só edifício de cinco andares, em Grosvenor Square, no coração dos quarteirões diplomáticos de Londres. Aí, uma centena de pessoas dispõem de escritório, entre as quais, o antigo diretor do banco de investimento Barclays Capital, David Lyons, que dirige Firefush Ventures, o ramo financeiro popularmente conhecido por “Tony Blair Inc”. Entre os colaboradores de Blair, conta-se também um antigo quadro da Lehman Brothers e outro proveniente do JP Morgan. Além disso, Tony Blair preside ao conselho internacional de conselheiros do JP Morgan5! Por outro lado, Tony Blair faz excelentes negócios com a Arábia Saudita6 e criou várias fundações... filantrópicas, pois claro!7
Last but not least, desmultiplica-se em declarações a favor da União Europeia8.
Tim G e Robert R
Do outro lado do Atlântico, Tim Geithner, ex-ministro das Finanças de Barack Obama, tornou-se presidente em 2013 de Warburg Pincus, um banco de investimento de Wall Street.
Antes dele, Robert Rubin, antigo ministro das Finanças do presidente Bill Clinton, tinha-se juntado à direção do Citigroup em 1999, depois de ter feito aprovar no mesmo ano a revogação do Glass Steagall Act (o que permitiu a criação do Citigroup!). O Citigroup pagou-lhe, entre 1999 e 2008, 166 milhões de dólares, a pretexto de variadas remunerações9.
Como se vê, passadeiras não faltam entre a política e a alta finança. E todas elas chorudamente remuneradas...
Artigo de Éric Toussaint, publicado em cadtm.org. Tradução para português de Rui Viana Pereira, revisão de Maria da Liberdade
Os laços estreitos entre os governantes e o grande capital já nem sequer são disfarçados. À cabeça de diversos governos, em postos ministeriais importantes ou na presidência do Banco Central Europeu (BCE), encontramos figuras diretamente saídas do mundo da alta finança, a começar pelo banco de investimento Goldman Sachs. Alguns políticos de primeiro plano são recompensados com cargos no sector privado, depois de executarem os recados encomendados pelo grande capital. É caso para se falar de verdadeiros vasos comunicantes e transparentes.
DSK
O socialista francês Dominique Strauss-Kahn (DSK), ministro da Economia e das Finanças em finais dos anos noventa, mais tarde diretor-geral do FMI (2007-2011), tornou-se em 2013 presidente do conselho de administração do Grupo Anatevka, rebaptizado Leyne, Strauss-Kahn and Partners, Compagnie Financière (LSK), para desenvolver a atividade de banco de investimentos internacionais. Depois de ter sido obrigado a demitir-se do FMI em 2011, acusado de agressões sexuais, DSK passou a conselheiro de vários governos estrangeiros, nomeadamente os da Sérvia e do Sudão do Sul, e de umas quantas empresas, como o banco russo de desenvolvimento das regiões, o Russian Direct Investment Fund, a National Credit Bank e um consórcio de bancos marroquinos. A LSK, antiga Anatevka Compagnie Financière, tem uma centena de empregados espalhados por seis países (Luxemburgo, Bélgica, Mónaco, Israel, Suíça, Roménia), alguns deles paraísos fiscais evidentes. Golpe de teatro, a 23 de outubro de 2014: Thierry Leyne, sócio de DSK, suicida-se em Telavive. DSK declara logo a seguir: “Thierry Leyne tinha montado uma companhia financeira que tratava essencialmente da gestão de ativos. Não havia um departamento de banco de investimento. Competia-me a mim criá-lo, vocacionando-o para o aconselhamento aos governos e acessoriamente às empresas”. Acrescenta que Leyne “tinha contraído uma série de empréstimos excessivos” e tinha “uma reputação duvidosa”. DSK afirma que tinha sido atraído pelo facto de o homem de negócios “ter feito no passado algumas boas operações, com as empresas que ele tinha criado e revendido a grandes bancos”. Interrogado pela AFP sobre a presença de dinheiro sujo nalgumas sociedades do grupo LSK, o antigo chefe do FMI declara: “não tenho conhecimento”1. Dominique Strauss-Kahn tinha abandonado a presidência do LSK três dias antes do suicídio do seu sócio. A 3 de outubro de 2014, a justiça luxemburguesa tinha condenado o grupo LSK, a sua filial Assya e o seu principal acionista Thierry Leyne a pagar 2 milhões de euros à seguradora Bâloise-Vie Luxembourg, que desde julho de 2014 reclamava o reembolso de títulos do grupo LSK que tinha em carteira. No início de novembro de 2014, a sociedade LSK publica um breve comunicado, anunciando que a partir dessa data suspende os pagamentos, do qual citamos um breve trecho: “Após o desaparecimento trágico de Thierry Leyne, presidente em exercício, os membros do conselho de administração da sociedade LSK descobriram compromissos suplementares no seio do grupo, dos quais não tinham conhecimento e que agravam a sua situação financeira, que era delicada. (…) O conselho de administração concluiu que estas novas informações vinham pôr em causa a continuidade da sociedade LSK, cujo crédito está irremediavelmente comprometido. Por consequência, decidiu proceder à declaração de suspensão de pagamentos da sociedade.”2. A 7 de novembro de 2014, o tribunal de comércio do Luxemburgo declarou a falência da sociedade. DSK e Leyne projetavam, nomeadamente, lançar o DSK Global Fund, um hedge fund, que se destinava a especular com divisas, commodities e taxas de juro3. Este fundo de especulação pretendia reunir 2 mil milhões de dólares prioritariamente angariados junto de investidores dos países emergentes, incluindo a China.
Contrariamente às aparências, o que acabamos de descrever não é tirado de um novo filme de Oliver Stone, continuação deWall Street, o filme Le retour du loup de Wall Street de Martin Scorsese ou do filme O Capital de Costa-Gavras4. Trata-se de factos retirados em 2014 do capitalismo real. É verdade que não abriram telejornais, nem foram manchete de jornais.
Tony Blair
Primeiro-ministro do Reino Unido de 1997 a 2007, Tony Blair teve sucesso nos negócios. Calcula-se que em 2013 já tinha acumulado uma fortuna de 30 a 60 milhões de libras esterlinas ao especializar-se em trading. Dirige um conjunto de pequenas sociedades sediadas num só edifício de cinco andares, em Grosvenor Square, no coração dos quarteirões diplomáticos de Londres. Aí, uma centena de pessoas dispõem de escritório, entre as quais, o antigo diretor do banco de investimento Barclays Capital, David Lyons, que dirige Firefush Ventures, o ramo financeiro popularmente conhecido por “Tony Blair Inc”. Entre os colaboradores de Blair, conta-se também um antigo quadro da Lehman Brothers e outro proveniente do JP Morgan. Além disso, Tony Blair preside ao conselho internacional de conselheiros do JP Morgan5! Por outro lado, Tony Blair faz excelentes negócios com a Arábia Saudita6 e criou várias fundações... filantrópicas, pois claro!7
Last but not least, desmultiplica-se em declarações a favor da União Europeia8.
Tim G e Robert R
Do outro lado do Atlântico, Tim Geithner, ex-ministro das Finanças de Barack Obama, tornou-se presidente em 2013 de Warburg Pincus, um banco de investimento de Wall Street.
Antes dele, Robert Rubin, antigo ministro das Finanças do presidente Bill Clinton, tinha-se juntado à direção do Citigroup em 1999, depois de ter feito aprovar no mesmo ano a revogação do Glass Steagall Act (o que permitiu a criação do Citigroup!). O Citigroup pagou-lhe, entre 1999 e 2008, 166 milhões de dólares, a pretexto de variadas remunerações9.
Como se vê, passadeiras não faltam entre a política e a alta finança. E todas elas chorudamente remuneradas...
Artigo de Éric Toussaint, publicado em cadtm.org. Tradução para português de Rui Viana Pereira, revisão de Maria da Liberdade
Créditos da foto: Giuseppe Nicoloro / Flickr
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