ALIADOS DO GOVERNO NÃO DEVEM FALAR EM IMPEACHMENT

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por Paulo Moreira Leite

Aprovação de Dilma mostra que essa palavra só interessa a quem tenta enfraquecer a presidente
Velhos amigos reclamam que os jornalistas têm usado e abusado da palavra impeachment para se referir aos ataques da oposição ao governo Dilma Rousseff. Pensando bem, é uma crítica correta.

Em primeiro lugar, impeachment é uma forma democrática de um país declarar o impedimento de um presidente que, acusado gravemente numa investigação criminal, tornou-se incapaz de responder pelas  responsabilidades de governar.
Não é isso o que assistimos no Brasil de hoje: temos uma oposição que faz ensaios para um golpe de Estado, mascarado pelo apoio de uma parcela do Judiciário e dos meios de comunicação, na esperança de dar areas de legalidade a uma  infamia.
Não há um fiapo de prova capaz de sustentar a tese de que esse movimento tenha base em fatos verdadeiros. Há manchetes tendenciosas,  suposições, ilações, fantasias. Mas não há um enredo crivel e demonstrado, com começo, meio e fim,  capaz de envolver a presidente nem qualquer um de seus auxiliares em qualquer trapaça contra a honra do Brasil e dos brasileiros.
Nesta circunstancia, a palavra impeachment tem um único efeito:   enfraquecer uma presidenta que se movimenta para dar novas bases ao segundo mandato.
Num bolivarianismo ao contrário, a oposição tenta ir às   massas na tentativa de construir uma base social para um jogo sujo. Encontra o vazio político, que é produto da  aprovação do governo, que permanece em patamares vergonhosamente altos para seus adversários. Enquanto gatos pingados carregam cartazes que pedem intervenção militar, 66% da população confirma seu apego a democracia — um valor que cresceu  na ultima década, e nós sabemos muito bem por quê. E quem não sabe só precisa entender que as verdadeiras democracias do século XX só criaram raízes quando concordaram em integrar os trabalhos e os mais pobres em sistemas de bem-estar social.
A aprovação da própria Dilma segue no  patamar que permitiu sua vitória numa campanha que teve até uma tentativa de golpe midiático nas ultimas 72 horas.
Um governo se faz basicamente por dois elementos químicos: o poder e a perspectiva de poder. Poder é materia morta: envolve aquilo que o governante já fez, ontem, anteontem, no ano passado. Acaba ao fim de cada dia. O que interessa é a materia viva, que se encontra na perspectiva do poder: aquilo que se pode fazer no futuro, no amanhã e no ano que vem, em 2016 e 2018. A perspectiva do poder se alimenta da capacidade de atender compromissos, confirmar sua lealdade e assegurar o progresso de seus aliados. O impeachment coloca em questão, justamente, a perspectiva de poder, corroi sua credibilidade. Joga uma dúvida desnecessária, funciona como um sinal de fraqueza.
O golpismo de 2014, que se inspira em 1964 e 1954, deve ser repudiado como aquilo que é: um ataque a democracia, que prefere entregar o país à treva em vez de respeitar a vontade da maioria.
A melhor forma do governo  enfrentar aventuras dessa natureza é manter seus compromissos históricos, e, mesmo em circunstancias externas e internas menos favoráveis, deixar claro quem está ao lado da maioria dos brasileiros.

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