Publicado em França um livro sobre Portugal (da revolução ao colapso do modelo neoliberal)



A 8 de novembro foi apresentado em França o livro "Portugal 1974-2014, de la révolution à l'effondrement du modèle néo-libéral" ("Portugal 1974-2014, da revolução ao colapso do modelo neo-liberal") de vários autores, entre os quais Cristina Semblano.
O livro foi apresentado a 8 de novembro na Casa de Portugal da cidade universitária de Paris, com a presença de dois dos seus autores: Abraham Behar eCristina Semblano.
Em entrevista à RFI, Cristina Semblano destacou a importância de lembrar o 25 de Abril para seposicionar face à situação portugesa atual e ao plano imposto pela troika.
Cristina Semblano assinalou que a troika e o seu plano de ajustamento “está a contribuir para empobrecer o povo português, a contribuir para um desemprego de massa e uma emigração de massa que faz lembrar o Portugal da guerra colonial, estão a contribuir também para desvalorizar o trabalho, para desvalorizar o papel do Estado, e para destruir o SNS e a Escola Pública”.

A economista portuguesa radicada em França salientou que “o programa de ajustamento da troika feito em total conivência com o governo [PSD/CDS-PP], está a traduzir-se num total apagamento das conquistas de Abril”.
Abordando o atual fluxo emigratório “da mesma dimensão dos anos 60”, Cristina Semblano sublinhou que Portugal “é o único país que durante o império da troika está a perder população”.
Destacando que “a população portuguesa está a diminuir em função do saldo migratório negativo, mas também está a diminuir em função de um saldo natural negativo”, a economista realçou que “em Portugal, nos últimos dois ou três anos há mais mortes que nascimentos”.
A economista salientou também que “parte da emigração é uma emigração qualificada, cuja formação foi feita a custas do Estado português - é uma das conquistas da Revolução” e que “essa emigração está a beneficiar os países do centro e do norte, os países mais ricos que em nada contribuíram para essa formação”.
Sesão de apresentação do livro
Cristina Semblano considera que “a história da europeização da economia portuguesa é a história da sua neoliberalização” e que “este processo está a destruir em Portugal a própria democracia”.
Salientando que “Portugal tem de rever o seu modelo de desenvolvimento, que continua a repousar em produções com baixo valor acrescentado e mão de obra barata e abundante”, Cristina Semblano afirma que “é necessário que esse modelo de desenvolvimento seja mudado” e alerta: “ora isso não pode acontecer no âmbito das atuais estruturas europeias dada a atual arquitetura institucional europeia, que é marcada pela globalização financeira”.
Questionando se é possível “refundar esta Europa”, “mudá-la” e não “daqui a dez anos porque é demasiado tarde”, Cristina Semblano declara que “os povos do sul, e em primeiro lugar o povo português está a ser vítima de medidas de austeridade de uma imensa violência que põem em causa a democracia, a dignidade e a vida das pessoas”, pelo que é necessário mudar a Europa “ou então será necessário abandonar a Europa”.
“Esta é uma questão europeia e quem decide são os povos”, sublinha ainda a economista que aponta que é necessário reestruturar a dívida pública, “anulando uma parte determinada por uma auditoria cidadã”.
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