O Brasil quer alternância de poder: na mídia
Autor: Miguel do Rosário
Na campanha eleitoral deste ano muito se falou em desejo de mudança, em alternância de poder, em atender os anseios das ruas.
Pois bem, não houve assunto mais abordado nas ruas do que a democratização da mídia. Não há poder que esteja há mais tempo sem alternância do que a mídia.
E não haverá mudança de fato no país se não mudarmos a mídia brasileira, que não faz justiça à nossa complexidade.
Que se tornou um obstáculo ao nosso desenvolvimento político, cultural e até mesmo econômico.
A mídia, claro, tenta sufocar o simples debate.
Os movimentos pela democratização da mídia não querem censurar ninguém.
E são muito mais críticos ao governo do que a nossa mídia tradicional.
A mídia tradicional quer o monopólio da crítica ao governo, porque sabe que o governo apenas se mobiliza quando criticado, então quem tem o poder de criticá-lo tem o poder de orientá-lo e, portanto, tem o poder de fato.
Os movimentos sociais também querem o poder para criticar o governo, para forçá-lo a fazer a reforma agrária, a reforma urbana e a reforma política.
Querem mais poder de crítica para forçarem o governo a investir em metrôs ao invés de elevar os juros.
E por aí vai.
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O Brasil é maior que a Globo
O povo derrotou o golpe midiático e deu a vitória a Dilma. Agora o povo quer a democratização dos meios de comunicação, tarefa prioritária para o próximo governo. Até porque duvido muito que as forças progressistas vençam em 2018 se continuarem perdendo a batalha da comunicação.
31/10/2014
Por Marcelo Salles, no Brasil de Fato
Essas eleições entram para a História do Brasil como o momento mais nítido em que as corporações de mídia tentaram impor sua vontade ao povo. Mais do que em 1989, com a famosa edição do debate entre Lula e Collor. Mais do que em 2006, quando o foco do debate foi deslocado para pilhas de dinheiro expostas ad nauseam.
Em 2014 apostaram todas as fichas e, a contrário de outras vezes, não o fizeram veladamente. Assumiram seu papel de partido político de oposição, conforme conclamou Judith Brito, diretora-superintendente do Grupo Folha, vice-presidente da ANJ e colaboradora do Instituto Millenium.
Faltando 11 dias para o segundo turno do pleito, os institutos de pesquisa davam empate técnico entre os dois candidatos – Aécio Neves à frente 2 pontos, dentro da margem de erro.
Como resposta, a militância de esquerda foi às ruas, os movimentos sociais organizados reforçaram sua participação na campanha e a candidata à reeleição partiu para o enfrentamento nos debates. O mote era um só: comparar os governos tucanos e petistas, o que garantiu vantagem a Lula e Dilma em praticamente todos os setores. Se o oponente baixava o nível, a resposta vinha à altura.
Nos oito dias seguintes, Datafolha e Ibope registraram crescimento de Dilma. No primeiro, de 49% para 53%; no Ibope, de 49% para 54%. Enquanto isso, Aécio caiu de 51% para 46% (Ibope) e 51% a 47% (Datafolha). Dilma encerrou a campanha com vantagem de 6 a 8 pontos de vantagem, cenário praticamente impossível de ser invertido em 48 horas.
Aí surgiu a capa da revista Veja na sexta-feira, antevéspera do pleito, acusando, sem provas, Lula e Dilma de terem conhecimento de desvios na Petrobrás. De sexta até domingo a Veja atingiria algo entre 500 mil e 1 milhão de pessoas. A maioria das quais, no entanto, já tinham o voto decidido para Aécio. A capa da veja, por si só, merecia o repúdio na medida em que foi dado pela campanha do PT. A própria presidenta Dilma usou parte do tempo de propaganda eleitoral para denunciar a manobra da revista.
No entanto, foi o Jornal Nacional do sábado, véspera da eleição, o grande responsável pela interferência na vontade popular. No primeiro bloco, Dilma recebeu 5 minutos, com destaque no suposto medo de avião e nos problemas com a voz. Enquanto Aécio teve direito a 5’55’’ a apresentá-lo como alguém incansável, que trabalha durante o voo e aparece com a esposa e os filhos no colo (“um cara família”). Em outro trecho, as imagens saltadas em repetição durante comícios, com a bandeira do Brasil nas costas, revelam, como num filme de ação, um homem destemido que estaria preparado para conduzir o destino da Nação.
Logo no início do segundo bloco, o JN exibiu extensa reportagem sobre a capa da Veja. Aí, o que era de conhecimento de até 1 milhão de pessoas que já votariam Aécio, alcançou 30-40 milhões de pessoas, entre os quais um sem número de indecisos. Isto na véspera do pleito, sem que houvesse tempo para se organizar a estratégia de enfrentamento desse verdadeiro crime midiático. Como resultado, a vantagem de 6-8 pontos de Dilma caiu drasticamente, e quando terminou a apuração as urnas sacramentaram 51,5% x 48,5%.
O povo derrotou o golpe midiático e deu a vitória a Dilma. Agora o povo quer a democratização dos meios de comunicação, tarefa prioritária para o próximo governo. Até porque duvido muito que as forças progressistas vençam em 2018 se continuarem perdendo a batalha da comunicação.
Marcelo Salles é jornalista.
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