Assim se constrói o estado global de vigilância

Realizadora de “Citizenfour”, o documentário sobre as denúncias de Edward Snowden, alerta: controle social e esvaziamento da democracia ampliaram-se, após revelações. Esperança é consciência. Tom Englehardt, do Tom Dispatch, entrevista Laura Poitras.
“Snowden revelou a profundidade do que a NSA e os chamados Cinco Olhos [Five Eyes, países anglo-saxónicos aliados: EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] estão a fazer: ... o enorme arrastão de vigilância onde tentam recolher o fluxo de todas as comunicações”, salienta Laura Poitras, realizadora de “Citizenfour”
Temos aqui uma estatística da nova era de vigilância global. Quantos norte-americanos possuem a chamada security clearance, que permite acesso aos dados sigilosos, das agências de espionagem, sobre pessoas e organizações? Resposta: 5,1 milhões – número que reflete o crescimento explosivo do Estado de segurança nacional no pós-11 de setembro. É algo equivalente à população da Noruega. E ainda assim é apenas 1,6% da população norte-americana. A intenção é deixar os 98,4% restantes às cegas, num número crescentes de assuntos. E isso é apresentado como se fosse algo “em favor de nossa própria segurança”.

Estes factos oferecem uma nova definição de democracia, na qual as pessoas devem saber apenas aquilo que o sistema de segurança nacional lhes conta. Sob esse sistema, a ignorância é o pré-requisito necessário e legalmente imposto para que as pessoas se sintam protegidas. É significativo: o único delito pelo qual aqueles que estão dentro do sistema de segurança nacional podem ser responsabilizados, na Washington pós-11 de setembro, não é mentir diante do Congresso, destruir evidências de um crime, torturar, sequestrar, assassinar ou provocar morte de prisioneiros em sistemas prisionais extralegais - mas denunciar irregularidades. Ou seja, contar à sociedade algo que o seu governo esteja a fazer. E esse “crime”, apenas esse, tem sido perseguido com toda a força da lei e mais – com um vigor nunca visto na história do país. Para oferecer um único exemplo, o único norte-americano preso pelo programa de tortura da CIA da era Bush foi John Kiriakou – um denunciante da CIA que revelou, a um repórter, o nome de um agente envolvido no programa.
Nesses anos, uma Casa Branca cada vez mais imperial lançou várias guerras (redefinidas pelos seus defensores como outra coisa qualquer), além uma campanha internacional de assassinatos [por meio de drones], na qual a Presidência tem a sua própria “lista negra” e o presidente decide sobre ataques globais do tipo do que matou Bin Laden.
E ainda assim isso não significa que nós, o povo, não saibamos nada. Contra obstáculos crescentes, surgiram algumas boas reportagens na imprensa “mainstream” – feitas por James Risen e Barton Gellman – sobre as atividades extra-legais do estado de segurança. Acima de tudo, apesar do uso regular que o governo Obama faz da Lei de Espionagem, da época da I Guerra Mundial, denunciantes têm dado um passo adiante dentro do governo para, às vezes, oferecer informações surpreendentes sobre o sistema que foi implantado em nosso nome, mas sem nosso conhecimento.
Entre eles, destaca-se um jovem, cujo nome é agora conhecido em todo o mundo. Em junho de 2013, graças ao jornalista Glenn Greenwald e à produtora Laura Poitras, Edward Snowden, que trabalhou na NSA e anteriormente na CIA, entrou nas nossas vidas a partir de um quarto de hotel em Hong Kong. Com um tesouro de documentos que ainda estão a ser publicados, ele mudou a perspetiva pela qual praticamente todos nós víamos o mundo. Está a ser acusado sob a Lei de Espionagem. Se de facto ele era um “espião”, a espionagem que fez foi por nós e pelo mundo. O que ele revelou, a um planeta chocado, foi um estado de vigilância global cujos alcance e ambições eram únicos. Um sistema baseado numa única premissa: que a privacidade já não existe e que ninguém é, em teoria (e, em grande medida, na prática) impossível de ser vigiado.
Os criadores do sistema imaginaram uma única exceção: eles próprios. Foi, pelo menos em parte, por isso que, quando Snowden nos permitiu espreitá-los, eles extravasaram ódio. Seja como for que tenham reagido, do ponto de vista político, é claro que também se sentiram violados - algo que, até onde se sabe, deixou-os sem qualquer empatia diante do resto de nós. Snowden provou, de qualquer forma, que o sistema nasceu pronto para dar um tiro pela culatra.
Dezasseis meses depois que os documentos da NSA começaram a ser lançados pelo Guardian e pelo Washington Post, talvez seja possível falar numa Era Snowden. E agora, um novo filme notável, Citizenfour, que teve pré-estreia no Festival de Filmes de Nova York em 10 de outubro, oferece uma janela para como tudo aconteceu. Já foi mencionado como possível vencedor do Oscar.
Laura Poitras, a diretora, é produtora de documentários, jornalista e artista. Tornou-se - assim como o repórter Glenn Greenwald - quase tão amplamente conhecida quanto o próprio Snowden. O seu novo filme, o último de uma trilogia (os anteriores são My Country, My Country sobre a Guerra do Iraque, e The Oath, sobre Guantanamo), remete-nos a junho de 2013 e leva-nos ao quarto de hotel em Hong Kong em que Snowden começou a fazer as suas revelações a Glenn Greenwald, Ewen MacAskill (do Guardian), e a própria Laura. Antes daquele momento, estávamos quase literalmente no escuro. Depois dele, temos mais noção, pelo menos, da natureza da escuridão que nos envolve. Tendo visto o seu filme, dialoguei com Poitras numa pequena sala de conferências de um hotel em Nova York para discutir como o mundo mudou e qual foi o papel dela nisso.
Você poderia começar por expôr brevemente o que você acredita que aprendemos com Edward Snowden sobre como o mundo realmente funciona?
Laura Poitras: O mais impressionante que Snowden revelou é a profundidade do que a NSA e os chamados Cinco Olhos [Five Eyes, países anglo-saxónicos aliados: EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia] estão a fazer: a sua fome por todos os dados, o enorme arrastão de vigilância onde tentam recolher o fluxo de todas as comunicações e fazê-lo de várias formas diferentes. O seu ethos é “coligir tudo”. Trabalhei numa história com Jim Risen, do New York Times, sobre um documento - um plano de quatro anos para a intercetação de sinais. É um termo cunhado pelos autores. Para eles, a internet é isso: a base para uma era de ouro na qual se espia todo o mundo.
Esse foco na vigilância do planeta maciça, dissimulada, e na forma de arrastão é certamente o mais impressionante. Muitos programas fizeram isso. Além disso, a NSA e a GCHQ [espionagem britânica] fazem coisas como atacar engenheiros de telecomunicações. Um artigo publicado pelo The Intercept, e baseado em documentos da NSA divulgados por Snowden, tinha um capítulo intitulado “Eu caço Syadmins” [administradores de sistema]. Eles tentaram encontrar os guardiões das informações, as pessoas que protegem os dados dos clientes, e atingi-los. Além disso, temos a recolha passiva de tudo: as informações que não conseguem de um jeito, obtêm-nas de outro.
Eu acho que uma das coisas mais chocantes é como os nossos governantes sabiam pouco sobre o que a NSA fazia. O Congresso está a aprender a partir de reportagens, o que é impressionante. Snowden e William Binney [ex-funcionário da NSA], que também está no filme como delator de uma outra geração, são técnicos que entendem os perigos. Nós, leigos, talvez entendamos alguma coisa dessas tecnologias, mas eles realmente compreendem o perigo existente na forma como elas podem ser usadas. Uma das coisas mais assustadoras, na minha opinião, é a capacidade de pesquisa retroativa, de voltar atrás no tempo e descobrir os contactos que qualquer pessoa manteve e os locais que frequentou. No que diz respeito à minha profissão de jornalista, isso permite ao governo rastrear o que você está a reportar, com quem fala e aonde vai. Não importa se eu tenho ou não o comprometimento de proteger as minhas fontes: o governo tem acesso a informações que talvez lhe permitam identificar com quem estou a falar.
Perguntando a mesma coisa de outra forma: como o mundo seria sem Edward Snowden? Porque me parece que, de alguma forma, nós estamos na Era Snowden.
Laura Poitras: Snowden permitiu-nos escolher sobre como queremos avançar para o futuro. Estamos numa encruzilhada e ainda não sabemos que caminho vamos tomar. Sem Snowden, praticamente todo o mundo ainda estaria no escuro sobre a quantidade de informação que o governo norte-americano está a coligir. Acho que ele mudou a consciência sobre os perigos da vigilância. Sabemos que muitos advogados deixam os seus telemóveis fora das suas reuniões, agora. As pessoas estão a começar a compreender que os aparelhos que carregamos connosco revelam a nossa localização, com quem estamos a falar, e todo o tipo de informações. Houve uma mudança de consciência real, depois das revelações de Snowden.
Apesar disso, não houve nenhuma mudança na atitude do governo dos EUA.
Laura Poitras: Os especialistas nos campos de vigilância, privacidade e tecnologia dizem que é necessário atuar em dois campos: o político e o tecnológico. O caminho tecnológico é a criptografia. Funciona e, se você quer privacidade, deveria usá-la. Já há mudanças em grandes empresas - Google e Apple, por exemplo -, que agora entendem quão vulneráveis são os dados dos seus clientes. Também percebem que, desse modo, os seus negócios também se tornam vulneráveis. Por isso, também, há uso crescente das tecnologias de criptografia. Porém, nenhum programa foi desmantelado em Washington, apesar da pressão internacional.
Em Citizenfour, uma hora da ação passa-se num quarto de hotel em Hong Kong, com Snowden, Glenn Greenwald, Ewan MacAskill e você. Isso é fascinante. Snowden é quase naturalmente cativante e senhor de si. Imagino um romancista em cuja mente simplesmente entra o personagem dos sonhos. Deve ter sido assim consigo e Snowden. Mas e se fosse um cinzentão, com os mesmos documentos e coisas muito menos inteligentes para dizer sobre eles? Por outras palavras como exatamente a pessoa que ele era afetou o seu filme e reconstruiu o seu mundo?
Laura Poitras: São duas questões importantes. Uma: qual foi a minha primeira sensação? Outra: como eu acho que isso teve impacto no filme? Editamos o filme e o exibimos para pequenos grupos. Não tive dúvidas de que Snowden é articulado e verdadeiro, na tela. Mas vê-lo numa sala cheia [na pré-estreia do Festival de Filmes de Nova York, em 10 de outubro], foi tipo, uau! Ele realmente domina a tela! E eu tive uma nova experiência sobre o filme, numa sala cheia.
Mas qual foi a sua primeira experiência com ele? Quero dizer, você não sabia quem ia conhecer, certo?
Laura Poitras: Eu mantive correspondência com uma fonte anónima durante cerca de cinco meses antes. No processo de desenvolver um diálogo, você constrói ideias, é claro, sobre quem a pessoa talvez seja. Achava que ele seria uma pessoa com quarenta e tantos anos, ou pouco mais de cinquenta. Percebi que deveria ser da geração da internet por ser super ligado em tecnologia. Mas pensei que, dado o nível de acesso e informação que podia discutir, deveria ser mais velho. A minha primeira experiência foi a necessidade de reprogramar as minhas expectativas. Fantástico, sensacional, ele é jovem e carismático. Fiquei a pensar: uau, isso é tão desorientador, preciso fazer um reboot. Retrospetivamente, posso ver que é realmente forte que alguém tão inteligente, tão jovem e com tanto a perder tenha arriscado tanto.
Ele estava muito em paz com a escolha que tinha feito e sabia que as consequências podiam significar o fim da sua vida - ainda assim, tinha tomado a decisão certa. Ele acreditava nisso e, quaisquer que fossem as consequências, estava pronto a aceitá-las. Conhecer alguém que tomou esse tipo de decisão é extraordinário. E poder documentar isso e também a forma como Glenn [Greenwald] interveio e se esforçou, de modo ativo, para que o relato se produzisse mudou a narrativa. Como Glenn e eu vimos tudo numa perspetiva externa, a narrativa desenvolveu-se de forma a que ninguém sabia realmente como responder. Por isso, acho que a Casa Branca ficou, no princípio, transtornada. Não é todos os dias que um denunciante está pronto a ser identificado.
O meu palpite é que Snowden deu-nos o sentimento de que agora conhecemos a natureza do estado de vigilância global que nos observa. Mas penso sempre que ele é só uma pessoa, vinda de um dos 17 órgãos de informações interligados. O seu filme termina de forma marcante – o golpe final - com outro ou outros informadores a despontar nalgum lugar do mundo, para revelar informações sobre a enorme lista de pessoas vigiadas, na qual você mesma está, fico curioso. O que você acredita que ainda existe para ser descoberto? Suspeito que se delatores estão para surgir, nas maiores cinco ou seis agências, com documentos similares aos de Snowden, vamos ficar aturdidos com o sistema que foi criado em nosso nome.
Laura Poitras: Não posso especular sobre aquilo que ainda não sabemos, mas acho que você tem razão sobre a escala e o alvo das coisas, e a necessidade dessa informação se tornar pública. Quero dizer, considere apenas a CIA e o seu esforço para impedir o Senado dos EUA de conhecer o seu programa de tortura. Considere o facto de vivermos num país que: a) legalizou a tortura; b) onde ninguém nunca foi responsabilizado por isso e agora a visão interna do governo sobre o que aconteceu está a ser suprimida pela CIA. É uma paisagem assustadora.
Realmente, rejeito a ideia de falar sobre um, dois ou três denunciantes. O nosso trabalho foi informado por muitas fontes e acho que temos, diante delas, dever de gratidão por terem assumido os riscos que assumiram. De uma perspetiva pessoal, porque estou numa lista de pessoas vigiadas. Passei anos a tentar descobrir a razão. O governo recusou-se a confirmar ou negar a própria existência da tal lista. Foi muito significativo que a sua existência real fosse revelada, para que o público saiba que ela existe. Agora, os tribunais podem decidir sobre a legalidade disso. Quero dizer, a pessoa que revelou isso fez um imenso serviço público e eu estou pessoalmente grata.
Você refere-se ao delator desconhecido, que é mencionado visual e elipticamente no final do seu filme, e que revelou a existência de uma imensa lista, com os nomes de mais de 1,2 milhões de pessoas vigiadas. Nesse contexto, como é viajar como Laura Poitras hoje? Como você encarna o novo estado de segurança nacional?
Laura Poitras: Em 2012, estava pronta para editar e escolhi deixar os EUA por que não sentia como se pudesse proteger as minhas fontes. A decisão foi baseada em seis anos de estar a ser parada e questionada todas as vezes que retornava aos EUA. Fiz as contas e percebi que seria muito arriscado editar nos EUA. Comecei a trabalhar em Berlim em 2012. Em janeiro de 2013, recebi o primeiro e-mail de Snowden.
Então você está a proteger-se…
Laura Poitras: Outra filmagem. Filmei com o denunciante da NSA William Binney, com Julian Assange, com Jacob Appelbaum do Tor Project. São pessoas também visadas pelos EUA, e senti que esse material que eu tinha não estava seguro. Fui incluída na lista em 2006. Fui detida e questionada na fronteira, ao regressar aos EUA, cerca de 40 vezes. Se contasse as paradas domésticas, e todas as vezes em que fui parada em pontos de trânsito europeus, provavelmente chegaria a algo entre 80 e 100 vezes. Tornou-se uma coisa regular, ser questionada sobre onde estive e com quem me encontrei. Vi-me capturada num sistema do qual aparentemente não se pode sair, nessa lista kafkiana que os EUA nem sequer reconhecem.
Você foi parada quanto entrou nos EUA, dessa vez?
Laura Poitras: Não. As detenções pararam em 2012, depois de um incidente bastante extraordinário. Eu estava a voltar pelo Aeroporto de Newark [nas proximidades de Nova York] e fui detida. Peguei no meu caderno, porque tomo sempre notas sobre quando sou parada, quem são os agentes e coisas assim. Dessa vez, ameaçaram algemar-me por tomar notas. Disseram “Abaixe a caneta!” Alegaram que a minha caneta podia ser uma arma e ferir alguém.
“Abaixe a caneta! A caneta é perigosa!” Eu fiquei a imaginar que eles eram malucos. Várias pessoas gritavam comigo, todas as vezes que eu movia a minha caneta para baixo, para tomar notas - como se ela fosse uma faca. Depois disso, decidi que era maluquice demais, que eu precisava fazer alguma coisa. Chamei Glenn Greenwald. Ele escreveu um texto sobre as minhas experiências. Depois do artigo, recuaram.
Snowden contou-nos muito sobre a estrutura de vigilância global que está a ser construída. Nós sabemos muito pouco sobre o que estão a fazer com toda essa informação. Choca-me como foram inábeis a usar essa informação na sua guerra ao terror, por exemplo. Quero dizer, eles parecem estar sempre um passo atrás no Médio Oriente - não apenas atrás dos acontecimentos, mas atrás do que acredito que uma pessoa, usando apenas informações abertas, poderia informá-los. Acho isso surpreendente. Que sentido faz você fazer o que estão a fazer com a montanha de informações, os yottabytes, todos os dados que estão a recolher?
Snowden e muitas outras pessoas, inclusive Bill Binney, disseram que essa mentalidade - de tentar sugar tudo o que podem - deixou-os tão afogados em informações que perdem as ligações mais óbvias. No final, o sistema que criaram não leva ao que descreveram como o seu objetivo, que é segurança - porque têm informação a mais para processar.
Laura Poitras: Não sei realmente como compreender tudo isso. Penso muito a respeito disso, porque fiz um filme sobre a Guerra do Iraque e outro sobre Guantánamo. Da minha perspetiva, em resposta aos ataques do 11 de setembro, os EUA envolveram-se em atividades que criaram duas gerações de pessoas nutridas por sentimentos anti-americanos – em resposta a coisas como Guantánamo e Abu Ghraib. Ao invés de responder a um grupo pequeno de terroristas, criamos gerações de pessoas irritadas e que nos odeiam. Então, penso: se o objetivo é segurança, como essas coisas se alinham? Por que há, agora, mais gente que odeia os Estados Unidos, mais gente que tenciona fazer-nos mal? Ou o objetivo que o sistema de segurança proclama não é o real, ou eles são simplesmente incapazes de dialogar com o facto de que cometeram grandes erros, pelos quais agora pagamos.
Impressiona-me como a falha se converteu, de alguma maneira, em rampa de lançamento para o sucesso. Quero dizer, a construção de um aparelho de vigilância sem paralelos e a maior recolha de informações da história veio da falha do 11 de setembro. Ninguém foi responsabilizado, ninguém foi punido, ninguém foi rebaixado nem nada. Todas as falhas semelhantes, incluindo uma recente, na Casa Branca, simplesmente levam ao reforço do sistema.
Laura Poitras: Como você entende isso?
Não acho que essas pessoas estejam a pensar: precisamos falhar, para termos sucesso. Não sou conspiratório nesse sentido, mas acho que, estranhamente, a falha construiu o sistema e acho isso estranho. Mais que isso, não sei.
Laura Poitras: Não discordo. O facto de que a CIA sabia que dois dos sequestradores do 11 de setembro estavam a entrar nos Estados Unidos, mas não notificou o FBI e ninguém perdeu o seu emprego por isso, é chocante. Ao invés disso, ocupámos o Iraque, que não tinha nada a ver com o 11 de setembro. Quero dizer, como essas escolhas são feitas?
Artigo publicado por Tom Dispatch, traduzido por Mariana Bercht Ruy paraOutras Palavras

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