A timidez cobra seu preço na gasolina

Autor: Fernando Brito
gasolina
Um reajuste de 3% da gasolina nas refinarias é, em matéria de impacto sobre os preços, igual a nada.
As variações de preço entre os postos por razões comerciais são imensamente superiores a isso.
E muito.

Aqui, no Rio, no levantamento semanal da ANP, por exemplo, dois postos de mesma bandeira (Ipiranga) tinham preços, por litro de R$ 2,85 e R$ 3,50.
Diferença de 22,8%, portanto.
Mesmo repassado integralmente no posto mais barato (supondo que é este o que pratica as menores margens) isso significaria passar para R$ 2,93.
Ainda assim, 17% menor que o maior preço praticado, sem reajuste algum.
Pelo mesmo produto, saído das mesmas refinarias e vendido ao mesmo preço às distribuidoras.
Tudo isso, em tese.
Para a Petrobras, significa muito menos do que representa a queda de preços internacionais do petróleo, que acumula uma baixa de perto de 30% em relação aos mais de 100 dólares que custava há quatro meses,
Mesmo com os 15% de valorização do  dólar desde então.
E por que o governo sofrerá, então, o desgaste político deste reajuste?
Por dois fatores, essencialmente.
O primeiro, a adesão mental às regras do neoliberalismo, onde preços administrados – com definição direta pelo governo – se assemelhariam a contratos, com reajustes anuais, o que é uma tolice quando se trara de preços atrelados a oscilações cambiais ou sazonais.
Três aumentos de 1% ao longo do ano representariam mais que este, agora.
Segundo, uma incapacidade de mostrar , através da comunicação, que o preço do combustível barateou demais e demonstrar que isso cobra um preço, inclusive em consumo de combustível, pela ampliação do uso do transporte particular e a imobilidade do trânsito.
Em dezembro de 2002 , um litro de gasolina custava  R$ 2,25.
Um salário mínimo, portanto, comprava 89 litros de gasolina.
Hoje, um salário mínimo, de R$ 724 reais, levando o preço médio da gasolina a R$ 3,  compra 241 litros de gasolina.
Dá para entender porque o trânsito não anda?
Mas a falta de comunicação faz a gasolina estar “cara” e o trânsito engarrafado por culpa do governo.
Quando um governo explica o que faz, o povo entende.
Quando não explica e deixa que a mídia o faça, que não espere ser entendido.
Pagará, então, o preço.
Bem mais caro que o da gasolina, aliás.

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