VERDADES E LOROTAS INFLACIONÁRIAS


Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".



por Paulo Moreira Leite

A retórica exagerada faz parte de toda campanha eleitoral mas alguns números básicos permitem questionar a afirmação mais importante da campanha de Aécio Neves na área econômica: a visão de que Dilma Rousseff perdeu o controle sobre a inflação. Será mesmo?
Sabemos para começar que a média da inflação no governo Fernando Henrique Cardoso (9,2%) foi mais alta do que no governo Lula (5,8%) e Dilma (6,1%).

Toda vez que Aécio Neves é confrontado com essa dura realidade desses números desfavoráveis, tenta responder com um argumento conhecido. Sustenta que  os números de FHC sofrem uma distorção: em 2002, no último ano de seu segundo mandato, a inflação só chegou a 12,5% por causa do chamado “fator Lula,” nome de fantasia para um conjunto de ações especulativas destinadas a criar um ambiente de pânico e medo como último recurso para impedir a vitória do candidato do PT.  Daqui a pouco vamos discutir a pertinência política deste argumento. Agora, vamos a outra prova dos números.
Mesmo excluindo o ano de 2002 da base do calculo, a média de FHC continua mais alta que a de Lula e  Dilma. Fica em 8,8%.
Há mais.
Durante seus últimos quatro anos, o governo de Fernando Henrique teve metas de inflação. Elas estouraram duas vezes. Nos 11 anos e 9 meses dos governos Lula-Dilma, ocorreu um único estouro. Nos anos FHC, a inflação superou a meta em 50%. Na única vez que isso ocorreu, no governo Lula, o estouro foi de 10%.
É possível discutir, diante de todos estes dados, o significado do esforço de transferir para Lula, um candidato a presidente que sequer havia sido eleito e muito menos tinha tomado posse, a responsabilidade pelo que acontecia na economia, no último ano de mandato do antecessor.
É acima de tudo um truque baixo de marketing político e telepatia econômica. Destina-se a esconder o fiasco de ideias que, doze anos depois, são anunciadas como a salvação da pátria. Tenta-se argumentar que elas são mais eficientes para garantir a confiança na economia e impedir a alta de preços, que atinge os assalariados e suas famílias.
A experiência ensina que o controle de inflação não é um simples serviço de contabilidade. Envolve dar respostas a problemas inesperados, enxergar mudanças quando são apenas tendências e não perder de vista as próprias prioridades políticas.
E aí os números permitem outra descoberta fantástica.
Os adversários do governo sempre disseram que as prioridades políticas de Lula e Dilma, como a proteção do emprego e do salário, os programas de transferência de renda e a defesa das empresas estatais conspiravam objetivamente contra o controle da inflação. Isso porque pressionam os gastos, que elevam o déficit, que obriga o governo a gastar o que não tem, gerando inflação.  A realidade mostra o contrário.
Recusando o regime de austeridade, juros altos e corte de investimentos da equipe de FHC,  o governo de Lula-Dilma  conseguiu manter a inflação num patamar mais baixo. Difícil deixar de concluir que alguma coisa está muito errada na visão ortodoxa que alimenta a política econômica do PSDB, certo?

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