Justiça Eleitoral ainda pode ter a palavra final nas eleições do Rio
Pezão, Garotinho e Lindberg são alvo de ações que podem resultar na cassação de suas candidaturas ou na perda de mandato. Na reta final, petista e Crivella apostam em virada contra ex-governador
por Maurício Thuswohl, especial para a RBA
Lindberg acredita no voto útil em seu favor: “O Rio não merecer ter Pezão e Garotinho no segundo turno” |
Rio de Janeiro – Em clima de total indefinição sobre quem disputará o segundo turno contra o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que tenta a reeleição, a campanha eleitoral no Rio de Janeiro vive também outro tipo de incerteza, desta vez provocada pela Justiça Eleitoral. Além do próprio governador, outros dois candidatos que ainda têm esperanças de continuar na disputa – Anthony Garotinho (PR) e Lindberg Farias (PT) – são alvo de ações que podem resultar na cassação de suas candidaturas ou na posterior perda do mandato.
Segundo o balanço divulgado ontem (2) pela Procuradoria Regional Eleitoral (PRE), cinco ações pedem a inelegibilidade de Garotinho, três a de Pezão e duas a de Lindberg. Entre os quatro primeiros colocados, o único que não tem nenhuma ação deste tipo contra si é Marcelo Crivella (PRB).
Figura recorrente em ações propostas pela Justiça Eleitoral, Garotinho é investigado por motivos diversos. Duas ações citam as Caravanas da Paz, lideradas pelo ex-governador e por sua mulher – a também ex-governadora Rosinha Matheus – durante o primeiro semestre e durante as quais houve a contratação de cantores gospel e sorteio de brindes, o que, segundo a denúncia da PRE, configurou “showmício”, prática banida pela lei eleitoral.
Os motivos das outras ações que pedem a inelegibilidade de Garotinho são: uso indevido da internet para envio de mensagens de texto e sorteio de prêmios, envio de mensagens SMS para telefones celulares e uso indevido de um centro cultural, onde, segundo a denúncia, eram distribuídos brindes e até enxovais para mulheres grávidas.
Duas denúncias contra Pezão foram motivadas por abuso de poder político e conduta vedada a funcionário público. A primeira pela colocação, em obras do governo, de placas de propaganda institucional com a expressão “somando forças”, a mesma da coligação liderada pelo PMDB, o que, segundo a PRE, configurou promoção pessoal do governador/candidato. A segunda, pelo aumento concedido, às vésperas da campanha eleitoral, a 24 carreiras do funcionalismo público estadual: “Não se discute a justeza ou legalidade dos aumentos concedidos, mas o oportunismo do governo estadual”, diz a denúncia. O envio de propaganda irregular pelo Twitter foi a razão da terceira ação que pede a inelegibilidade e a cassação do mandato de Pezão.
Já Lindberg Farias pode ficar inelegível porque, imitando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizou em quase todos os municípios fluminenses as Caravanas da Cidadania, configurando, segundo a PRE, campanha eleitoral fora de época. Outra ação, também por ato de campanha realizado de forma incorreta, denuncia Lindberg por sua participação na convenção regional do PCdoB que definiu apoio ao seu nome.
Manifesto pró-Crivella
Devido à alta rejeição dos eleitores a Garotinho (impressionantes 49%), sua derrota para Pezão no caso de os dois irem ao segundo turno é tratada como certa entre peemedebistas e analistas. Por isso, Crivella e Lindberg, respectivamente terceiro e quarto colocados em todas as pesquisas, pretendem aproveitar as horas que restam antes do início da votação para mobilizar suas bases e convencer um número expressivo de eleitores a mudar seu voto na última hora.
Enquanto Crivella aposta na tradicional boca-de-urna feita pelos fiéis da Igreja Universal, Lindberg tem a militância petista como trunfo e sonha com a repetição da “onda vermelha” que, mais de uma vez, beneficiou na reta final da campanha candidatos do PT no Rio. Sabendo-se que cerca de 20% do eleitorado é fiel a Garotinho, a ideia do petista é tirar votos de Pezão, de Crivella e até mesmo de Tarcísio Mota (Psol) para chegar ao segundo turno: “Ainda acreditamos em uma segunda onda de voto útil. O Rio não merecer ter Pezão e Garotinho no segundo turno”, diz Lindberg.
Se de fato acontecer, essa segunda onda de voto útil poderá também beneficiar Crivella. Alguma movimentação nesse sentido já vem sendo feita nos últimos dias, com destaque para o manifesto feito por intelectuais de esquerda – com a adesão de outros setores – em apoio ao candidato do PRB.
“Neste momento três candidatos disputam, com chance de vitória, o governo de nosso estado. Deles, somente Marcelo Crivella pode afastar o crime organizado das instituições de governo e impedir que ele avance na sociedade. Não estamos diante de uma eleição qualquer, mas de uma bifurcação de caminhos”, diz o texto, que ignora Lindberg, apresenta Crivella como “um homem honrado” e “única possibilidade de mudança” e é assinado por César Benjamin, Carlos Lessa e Samuel Pinheiro Guimarães, entre outros.
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