José Eduardo Cardoso, Dilma e a solidão de Jango
A governo Dilma entra na batalha final do segundo turno. Perdendo, joga fora um projeto de país do qual é fiadora. Trata-se, portanto, de uma batalha final onde está em jogo um governo e, mais que isso, um projeto de país.
Nas gravações clandestinas dos depoimentos de Paulo Roberto Costa há um jogo de vazamentos seletivos, cuja responsabilidade é do juiz Sérgio Moro. Digo isso pelo fato da gravação ter sido efetuada na sua presença, sem que tomasse a menor precaução em prevenir o grampo - mesmo havendo um número reduzido de pessoas assistindo o depoimento - e por seu desinteresse em apurar o episódio.
Trata-se de um vazamento articulado com os grupos de mídia, cada qual atuando como peça de uma estratégia maior. E a gravação clandestina foi cometida nas narinas de Moro, sutil como um estupro à luz do dia, em plena Avenida Paulista.
Abre-se uma guerra de informações e declarações. Do lado do governo, o porta-voz autorizado, o que obteria maior espaço na mídia seria o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Ele seria o campeão de Dilma, a entrar em campo, de peito aberto, em defesa do seu governo.
Sem minimizar a gravidade das denúncias, ele poderia dar uma de suas aulas de direito - que reserva para os cursos que coordena nas Faculdades Damázio, acumulando com seu cargo de Ministro.
Lá poderia didaticamente explanar sobre os abusos dos vazamentos, anunciar medidas para apurar as responsabilidades, atuar junto ao Conselho Nacional de Justiça, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal para punir os infratores e interromper o estupro da lei. Tudo isso sem abrir mão do reconhecimento das tramoias.
Nada faz. Não corre riscos, não se expõe em nenhum momento.
Contam que, ao sair de uma apresentação do documentário "O dia que durou 21 anos" - sobre a ditadura - Dilma comentou com interlocutores, emocionada, como Jango estava só. Referia-se ao Comício da Central, com Jango cercado por assessores e aliados parte dos quais, dias depois, o abandonaria.
Um dos convivas olhou para José Eduardo, que também assistia o documentário, pensou em falar alguma coisa para a presidente. Mas achou melhor não. Com a teimosia da presidente, o alerta cairia no vazio.
Se reeleita, talvez Dilma já esteja suficientemente vacinada contra a mais cruel das armadilhas: os assessores que só dizem sim e que jamais se expõem.
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