Fraga X Mantega. Com mediação de Miriam Leitão
Tucano afirma que a crise econômica mundial acabou em 2009. Atual ministro mostra com números que a crise está viva e o Brasil a enfrenta sem comprometer o emprego
por Samantha Maia — publicado 09/10/2014 22:12
Miriam Leitão mediou o encontro entre o ministro da Fazenda e Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central de FHC |
Na Carta Capital
Em debate no programa da jornalista Miriam Leitão na GloboNews com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga desconsiderou que estamos em meio a um ano de crescimento mundial decepcionante e afirmou que a crise financeira internacional acabou em 2009. Para o coordenador do projeto econômico do candidato à presidência Aécio Neves (PSDB), o Brasil está isolado na dificuldade de recuperação, com crescimento baixo e inflação descontrolada. “A crise aconteceu em 2009, de lá para cá o mundo vem se recuperando, em um ritmo menos exuberante, mas está.”
Mantega rebateu relembrando que 95% da economia do mundo está em desaceleração, e que a avaliação publicada recentemente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) considera a recuperação da economia mundial fraca. “Nós ainda vivemos uma crise muito forte, que afetou menos o Brasil que outros países, mas claro que ela fez com que crescêssemos menos”, disse o ministro. O FMI reduziu na terça-feira 7 a expectativa de crescimento do PIB global de 3,4% para 3,3%. Apenas Estados Unidos e Reino Unido apresentam alguma aceleração.
A mediação do embate foi de Miriam Leitão. Em uma pergunta, a jornalista cometeu um ato falho, ao dizer que o "nível de desemprego" estava alto. Foi corrigida por Mantega: "o que está alto é o nível de emprego".
Fraga evitou responder se a sua política de combate à inflação será baseada em arrocho econômico, mas disse que o problema requer "esforço permanente". Mantega, por sua vez, defendeu que o ano terminará com a inflação abaixo do teto da meta, de 6,5%. “Se olharmos para o passado, quando Armínio Fraga era presidente do Banco Central, ele pegou a inflação em 7% e entregou em 2002 em 12%”, criticou. Para Fraga, foi a crise política gerada pelo receio do mercado em relação à eleição de Luís Inácio Lula da Silva que prejudicou a política de combate à inflação em 2002. Mantega rebateu que o efeito ocorreu porque a economia brasileira estava fragilizada no final do governo FHC. “O Brasil tinha poucas reservas cambiais, não tinha como pagar seus compromissos.”
Sobre as políticas sociais, Fraga elogiou o Bolsa-Família, e atribuiu a criação do programa ao governo do PSDB. O ex-presidente do Banco Central disse ter “muito gosto de ver o Brasil com desemprego baixo”, mas que isso era apenas "uma obrigação do governo".
Questionado sobre qual era a diferença entre a sua proposta e da campanha da presidenta Dilma Rousseff, o economista afirmou que é preciso investir em infraestrutura, aumentar a transparência dos gastos públicos e realizar uma reforma tributária. E foi enfático ao dizer que as empresas não devem contar com subsídios de bancos públicos. “Existe uma ilusão de que banco tem dinheiro, mas tudo tem um custo. Está errado dar subsídios às empresas”, disse ao criticar os critérios do BNDES para conceder empréstimos a grandes empresas.
Mantega defendeu que a política de crédito subsidiado dos bancos públicos foi essencial para ajudar a enfrentar a crise, quando os bancos privados se encolheram. “Se não tivessem os programas de investimento do BNDES, não haveria crescimento na crise. Nós precisamos fazer políticas anticíclicas, talvez ele [Fraga] não as fizesse.” Mantega criticou a defesa do tripé econômico (meta de inflação, câmbio flutuante e banco central independente com juros flutuante e superávit fiscal) e afirmou que a diferença entre as duas propostas que concorrem ao segundo turno da eleição presidencial está no papel atribuído ao Estado. “Nós achamos que é preciso incentivar os investimentos com subsídios.”, Segundo Mantega, os investimentos em infraestrutura estão em andamento e a prioridade deve ser aumentar o emprego. “A renda per capita cresceu no Brasil 3% entre 1995 e 2003, e 30% de 2003 a 2013”, afirmou.
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