Candidatos ao Piratini fazem último debate de rádio em tom áspero

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Dívida do estado voltou a dominar o debate na Guaíba, o último em emissoras de rádio| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Jaqueline Silveira
Os candidatos ao governo do Estado que disputam o segundo turno fizeram na tarde desta quarta-feira (22) o último debate promovido por emissoras de rádio antes da eleição de domingo (26). José Ivo Sartori (PMDB), da coligação O Novo Caminho para o Rio Grande, e Tarso Genro (PT), da aliança Unidade Popular pelo Rio Grande, debateram por uma hora e meia na Rádio Guaíba sobre propostas para administrar o Estado. A dívida do Estado dominou o confronto entre os dois postulantes ao Piratini. Ao longo do debate não faltaram troca de farpas entre Sartori e Tarso a cada pergunta e resposta.

O debate foi aberto com as considerações iniciais. Pela ordem do sorteio, o pemedebista foi o primeiro a se dirigir aos ouvintes. Sartori agradeceu o apoio recebido no primeiro turno para, em seguida, disparar críticas à campanha do adversário. “Nós queremos olhar para o futuro, não adianta ficar só criticando como faz a outra candidatura. Nós queremos governar para todos os setores e fazer com que os serviços funcionem”, afirmou o candidato do PMDB, atribuindo à campanha petista “momentos de intriga, de boataria”.
Na sequência, foi a vez de Tarso se dirigir aos eleitores. Candidato à reeleição, o governador aproveitou para defender seu projeto, recordar a situação em que recebeu o Estado e enumerar algumas de suas realizações. “O Rio Grande não é mais o mesmo. Está mudando”, afirmou ele, acrescentando que, quando assumiu, em 2011, encontrou um Estado com “arrocho salarial” e sem condições de investimentos. Entre as ações de sua gestão, destacou o menor desemprego nos últimos 24 anos, o processo de desativação do Presídio Central, os três planos Safra, e programas como o Mais Àgua, Mais Renda. No entanto, o petista reconheceu que “tem muita coisa a fazer” e pediu mais uma oportunidade aos gaúchos.
Farpas lá e cá
Tarso questinou seu adversário sobre a mudança de estratégia ao começar atacá-lo no horário eleitoral| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Tarso questionou seu adversário sobre a mudança de estratégia ao começar atacá-lo no horário eleitoral| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Encerrada as apresentações, iniciou-se a rodada de perguntas, que se estendeu nos três blocos. Ao mesmo tempo se intensificou o tom mais áspero entre os candidatos. Também por definição de sorteio, Tarso foi o primeiro a perguntar. O petista questionou seu adversário sobre a postura adotada nos últimos programas do horário eleitoral obrigatório em atacá-lo, ao referir-se a ele como “mentiroso” e uma pessoa “alucinada”, uma vez que o peemedebista tinha prometido em não fazer ataques. “Nunca fiz juízo moral a respeito de sua conduta”, disse o petista a Sartori, reafirmando que só tem feito questionamentos sobre seu plano de governo. “O senhor não precisa se fazer de vítima. Quem disse que não sou uma pessoa séria, em primeiro lugar, foi o seu programa”, respondeu o peemedebista. “O senhor promete, promete e não cumpre, isso nós vamos continuar dizendo”, acrescentou Sartori.  Ele também criticou o governo petista pelo aumento da criminalidade e a perda da qualidade na educação. “Eu não estou me fazendo de vítima, eu sei responder a ataques dessa natureza”, devolveu Tarso, relembrando que a brincadeira feita por Sartori com o piso dos professores “pegou muito mal” e o “desequilibrou”. O peemedebista, então, retrucou dizendo que foi o governador que não cumpriu o pagamento do piso e que poderia ter o questionado sobre o mensalão do PT, as denúncias de corrupção na Petrobras e não o fez em respeito ao petista.
Ao perguntar a Tarso, o peemedebista questionou o governador sobre os motivos de não ter conseguido cumprir a promessa de melhorar a segurança no Estado. O petista respondeu que ele está “cumprindo o plano de governo” e que a segurança no Estado, a exemplo do restante do país, “é problemática”. Ele citou melhorias na área como a implementação de núcleos de policiamento comunitário, redução em 32% os homicídios de mulheres, a instituição do Centro Integrado de Comando e Controle, a reestruturação das polícias civil e militar, reajuste salarial das categorias, além da contratação de mais 2 mil brigadianos. “As grandes questões estão sendo encaminhadas. A segurança pública no Rio Grande do Sul está evoluindo”, destacou Tarso, relembrando que quando assumiu encontrou uma polícia “desmotivada”.
Finanças do Estado
Em seguida, Tarso questionou Sartori sobre o fato de ele defender a modificação do projeto de renegociação da dívida dos Estados que está no Senado e que prevê o abatimento de R$ 15 bilhões do valor total para o Rio Grande do Sul. O governador afirmou que alterar o projeto que já está no Senado significará “voltar à estaca zero”. “São 12 do PT e até hoje não se resolveu o problema da dívida”, ironizou o peemedebista, acusando o governador de endividar o Estado, apesar de reconhecer o aumento a arrecadação. “Nunca um governante endividou tanto o estado do Rio Grande do Sul como o senhor endividou. Esta aí a gravidade”, disparou Sartori. O petista rebateu afirmando que o próprio candidato reconhece o aumento da arrecadação que contribuiu para “uma situação mais favorável” do Estado obter investimentos.
Sartori questionou Tarso sobre as promessas não cumpridas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sartori questionou Tarso sobre as promessas não cumpridas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A próxima pergunta seguiu no tema das finanças. Sartori indagou Tarso sobre a promessa de equilibrar as finanças, no entanto, de acordo com ele, só “agravou” a situação, deixando como herança “buracos nas estradas” e o aumento da criminalidade. Em resposta, o governador afirmou que a herança do ponto de vista da dívida é de uma situação “estabilizada” e com “espaço fiscal” para fazer novos empréstimos. Tarso sugeriu que Sartori compare os investimentos em estradas, os salários dos servidores e a renda das famílias na administração em relação aos dois governos anteriores em que o PMDB participou para verificar as melhorias. O peemedebista devolveu dizendo que os “governos anteriores” foram tão importantes que Tarso chamou para secretários nomes que participaram de outras administrações. O petista, então, retomou o assunto da dívida e retrucou Sartori: “Nós renegociamos a dívida, coisa que seus governos não fizeram. É o governador que tem a responsabilidade de renegociar a dívida”.

Cortes no governo
O segundo bloco foi aberto por Tarso que indagou Sartori sobre os tipos de cortes e de programas que pretende fazer para resolver o problema das finanças do Estado. “A maneira é equilibrar as contas do Rio Grande do Sul”, respondeu o candidato do PMDB, sem dar detalhes sobre quais medidas adotará para alcançar o equilíbrio. Ele aproveitou para criticar a afirmação de Tarso que, desde 2002, propõe a renegociação da dívida. Ao rebater o adversário, o governador insistiu que o peemedebista não respondeu a pergunta sobre os cortes e que ele, sim, tem uma estratégia clara ao propor o crescimento da receita, a redução da dívida e o aumento dos investimentos. “O senhor não realizou absolutamente nada e tinha força no governo federal, foi multiministro”, devolveu Sartori, sobre a renegociação da dívida não ter sido solucionada até agora com a União.
Parcerias público-privadas
Na sequência, Sartori quis saber do governador sobre o motivo de ter feito poucas parcerias público-privadas não seguindo o exemplo do governo federal. Em resposta, Tarso ressaltou que fez esse tipo de parceria para a construção do hospital do bairro Restinga e para a revitalização do Cais do Porto, ambas na Capital. Ele aproveitou para criticar a forma de privatização feita por governos do PMDB e que, segundo o petista, contribuíram para o endividamento do Estado. Ele citou como exemplo o caso da CEEE em que as dívidas teriam ficado para o Estado e “o filé” com a iniciativa privada. No embate sobre o assunto, Sartori acusou o governo de Olívio Dutra de ter mandado “a Ford embora”.
Provérbio italiano
Na sua vez de fazer a pergunta novamente, Tarso questionou Sartori se o Badesul, que concede empréstimos para os municípios investirem em diversas áreas, estaria na lista de cortes em caso de ele ser eleito governador. O peemedebista preferiu insistir na questão da dívida e se limitou a dizer que os bancos devem prestar serviço. O petista voltou a insistir sobre o fato de o candidato não explicitar os cortes que pretende fazer, enfatizando que o que deve se estabelecer é “o pesado arrocho salarial”. Sartori rebateu com um provérbio italiano que ele traduziu para os eleitores: “Quem tem a suspeita, tem o defeito”.
Tarso afirmou que há 20 frentes de trabalho para recuperar as estradas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Tarso afirmou que há 20 frentes de trabalho para recuperar as estradas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Os polêmicos pedágios foi o tema do questionamento seguinte feito pelo peemedebista. Sartori afirmou que os pedágios continuam e que poderiam ser eliminados ainda no governo Olívio Dutra (PT), criticando a falta de manutenção das estradas. O governador respondeu que no momento há 20 frentes de trabalho para recuperar as estradas e que a posição de Sartori é contraditória ao mesmo tempo em critica os empréstimos feitos pela sua gestão e não se “reporta” aos contratos de concessões feitos por governos do PMDB. Irônico na réplica, Sartori disse que Tarso “ficará livre dessa preocupação de governar o Estado, vai ter o descanso merecido”, uma vez que ele vencerá as eleições. O petista rebateu dizendo que sua preocupação “não é pessoal”, mas, sim, com a possibilidade de “retomada da diminuição das funções públicas do Estado”.
O terceiro e último bloco do debate foi aberto por Sartori que retomou o tema das parcerias público-privadas. Ele quis saber de Tarso sobre o motivo de ele não ter adotado esse tipo de modelo para fazer novos acessos asfálticos e duplicação de rodovias, questionado se haveria um preconceito político e ideológico. Em resposta, Tarso disse que estabeleceu parcerias públicas-privadas com a preservação do interesse público, citando novamente como exemplo o hospital da Restinga. O petista não descartou adotar esse modelo para as estradas desde que o controle permaneça com o Estado, acrescentando que os pedágios foram reduzidos em 30% seu valor. O governador ressaltou, ainda, que já existe esse tipo de parceria com empresas contratadas pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) para fazer o corte da vegetação às margens das rodovias. “Essa é uma parceria que permite o controle e qualidade dos serviços”, completou Tarso. Ainda sobre o assunto, Sartori declarou ser a favor do modelo de pedágios adotado pelo governo federal.
Mínimo regional
Sartori cutucou seu adversário dizendo que o atual vice-governador não o apoia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Sartori cutucou seu adversário dizendo que o atual vice-governador não o apoia | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O salário mínimo regional foi o assunto escolhido por Tarso para questionar Sartori no encerramento das perguntas. O governador disse que a valorização do piso na sua administração foi importante para ajudar os mais pobres a “alimentar seus filhos”. Ele aproveitou para lembrar que o vice do peemedebista, o empresário José Paulo Cairoli (PSD), é contra e “odeia” o salário mínimo regional. O petista indagou o peemedebista  sobre sua política de valorização. Na resposta, o candidato afirmou que “Cairoli sabe se defender” e lembrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi contra o piso e o governador Olívio na época teve resistência em implantá-lo. “Não vejo nenhum problema de os empresários defenderem a proposta deles e os trabalhadores defenderem a sua”, argumentou Sartori. O candidato não gostou da referência a Cairoli e cutucou Tarso em relação ao atual vice-governador, Beto Grill (PSB): “Ora, o que senhor tem a dizer do seu vice que nos apoia e não apoia o senhor, ora bolas?” Sartori ironizou ainda a defesa feita por Tarso ao piso regional, considerando como “sua maior obra”. “Se está é sua maior obra pelo amor de Deus! Onde estamos?”, questionou Sartori, prometendo que o tema será encaminhado “com diálogo”. “Não sei se é a maior obra, mas tenho orgulho dela, de ajudar os mais pobres”, retrucou o governador.
Depois do encerramento da rodada de perguntas, os dois candidatos tiveram a oportunidade de se despedir dos eleitores. Tarso reforçou que há duas visões diferentes para administrar o Estado e que sua estratégia para resolver os problemas financeiros do Estado prevê aumento da receita, desenvolvimento econômico e social voltado aos mais pobres com melhoria da renda e valorização do salário mínimo regional. O governador também reafirmou que sua campanha não atinge “a seriedade moral” de Sartori, mas reforçou o fato de “o senhor é omisso em relação ao futuro”.
Sartori, por sua vez, afirmou que há realmente duas visões diferentes e que a de Tarso é de “difamar, distorcer e intrigar”. Por fim, pediu a mobilização dos militantes até domingo para irem a bairros, vila e escolas atrás dos votos, “porque não existe eleição ganha e nenhuma eleição perdida sem ser auferida”. Ele encerrou sua participação com o tradicional slogan da campanha: “Eu sou Sartori e meu partido é o Rio Grande”.

Militantes dos dois partidos foram para a frente da emissora acompanhar  debate | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Militantes dos dois candidatos ao governo do Estado foram para a frente da emissora acompanhar debate | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Militantes se aglomeraram em frente à Rádio Guaíba
Durante o debate, militantes de ambos os partidos se provocaram do lado de fora da Rádio Guaíba. Algumas pessoas com bandeiras do PMDB estavam na esquina da Caldas Júnior com a Rua dos Andradas acompanhando o embate, quando foram pegos de surpresa pela multidão que chegou, surgida da caminhada da Unidade Popular que teve a participação do ex-presidente Lula.
Os militantes chegaram criticando os outros, gritando “Ú, Tumelero”, em referência às declarações de Sartori ao Portal Terra sobre o piso dos professores em que brincou que “piso bom” tem na Tumelero e “El, el, el, militância de aluguel”. As cerca de 100 bandeiras do ex-prefeito de Caxias do Sul logo ficaram pequenas diante da massa que chegou ao local e, aos poucos, os peemedebistas foram recuando pela Rua dos Andradas.
No meio do debate, chegaram mais alguns militantes pró-Sartori e o clima continuou de embate sem maiores problemas, apenas com uma disputa por quem conseguia ter seus cantos ouvidos. O governador Tarso chegou a pediu para o público que gritasse um pouco mais baixo, mas os gritos de “Olê, olê, olê, olá, Tarso, Dilma” seguiram.

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