Aécio governador não sabe quanto pagou. Aécio dono de rádio não sabe quanto recebeu

A ética política que o país persegue já deveria ter inspirado o candidato tucano a liberar informações sobre gastos de seus governo em Minas em portais da transparência. Só que não

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Aécio: informações que relacionam governo de MG com sua família, e que deveriam ser públicas, sob sigilo
por Helena Sthephanowitz, para a RBA

O candidato Aécio Neves (PSDB) tem dificuldades enormes na hora de lidar com perguntas que envolvem negócios públicos com privados  e seus familiares

No caso do aeroporto de Cláudio, construído em terras de uma fazenda de seu tio-avô,   e ao  lado de umas de suas   fazendas ele demorou uma semana para responder que pousou no aeroporto, mesmo sem  estar  homologado para uso público.
Agora, o candidato  reage mal diante de perguntas sobre propagandas do governo de Minas em suas rádios. Ao ser questionado, no debate da Band, terça-feira (14), Aécio  se irritou, afirmou "não ter ciência" e que a pergunta deveria ser dirigida ao governador de Minas, Alberto Pinto Coelho (PP), seu aliado.
Resposta infeliz: no período de 2003 a 2010, o governador era o próprio Aécio Neves. Portanto, ele pagou as rádios com uma mão, já que era governador e, com a outra, recebeu o dinheiro, que coube às suas rádios. Ou seja, ele mesmo teria duas fontes para consultar que valores suas rádios receberam dos cofres públicos de Minas: pedir um levantamento na contabilidade das suas emissoras – o que parece ser mais rápido –, ou pedir um levantamento na Subsecretária de Comunicação do Estado de Minas.
Aliás, convenhamos, hoje em dia, a ética na gestão pública já inspira que informações como estas deveriam estar automaticamente disponíveis em portais da transparência do governo do estado.
Uma terceira opção seria perguntar à sua própria irmã, a jornalista Andrea Neves da Cunha, nomeada pelo governador para comandar o "Grupo Técnico de Comunicação Social", órgão responsável por coordenar, alocar verbas e fiscalizar a publicidade do governo de Minas Gerais.
Há anos a oposição aos governos tucanos na Assembleia Legislativa de Minas pede informações sobre gastos com propaganda governamental nas rádios e jornal pertencentes à família de Aécio, sem obter resposta. A desculpa é a de que o estado contrata agências de publicidade e são elas que contratam as rádios.
Óbvio que é uma desculpa inaceitável, pois as agências de publicidade têm obrigação de prestar contas dos serviços que prestaram, descrevendo onde, quando e quanto foram veiculadas, para receber pagamentos dos cofres públicos. Se não fazem isso, só agrava a coisa pelo descontrole e pela possibilidade de fazer pagamentos por serviços não prestados.
Se Aécio quer preservar longe dos olhos do povo seus negócios, não deveria receber dinheiro público. A partir do momento que recebeu é obrigado sim a dar todas as explicações e com transparência, gostando ou não.
Aécio pertence a oligarquias políticas mal acostumadas, em que são comuns as práticas de nepotismo e patrimonialismo, coisas que o Brasil luta para se livrar e ter personalidades políticas mais republicanas.
O próprio Aécio tirou proveito de seu pai ser deputado federal, do qual ganhou salários como assessor de gabinete por três anos, quando ainda era estudante no Rio de Janeiro, sem ter como trabalhar nem em Brasília, nem em Minas, estado pelo qual o pai foi eleito.
Recém-formado, Aécio ganhou outro cargo na Caixa Econômica Federal, não de estagiário como recém-formados costumam conseguir. Sem nenhum concurso, foi nomeado logo Diretor de Loterias pelos então presidente, José Sarney, e ministro da fazenda, Francisco Dornelles, seu primo.
As próprias concessões das rádios da família Neves seguiu critérios patrimonialistas.
Não as obteve vencendo licitação, foi por ser "amigo do rei", quando era deputado durante o governo Sarney, a quem apoiava. O então ministro das comunicações, Antônio Carlos Magalhães (PFL), distribuía concessões de rádios e TVs para deputados e senadores da base governista da época.
Estas concessões eram muito cobiçadas porque, além de gratuitas, eram altamente lucrativas e dava um grande poder de influência política, próprio dos meios de comunicação de massa. Quem dominava a mídia, dominava o teor do noticiário (como ainda é hoje), podendo atuar favoravelmente à oligarquia política do dono da rádio e/ou da TV, além de cerrar fogo contra os adversários políticos.

O comportamento arredio, de procurar varrer para baixo do tapete o assunto, só faz criar suspeitas de que, se precisa ficar escondido, é porque deve ter algo muito errado.

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