Quem fica com os ovos de ouro reproduzidos no site do InfoMoney?
por Luiz Carlos Azenha
Os brasileiros acompanham, com grande alarde na mídia corporativa, uma espécie de “terrorismo”, que se manifesta na especulação promovida na Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa.
O palavreado utilizado por “especialistas” traz ameaças explícitas ou implícitas ao futuro econômico do Brasil. É uma espécie de milenarismo de mercado.
Note-se que os que opinam na mídia corporativa sobre as flutuações da Bovespa não foram eleitos para nada. Resumindo, são funcionários do dinheiro e do lucro colocando na parede governos e políticos eleitos.
As frases que reproduzo abaixo são todas literais, reproduzidas no site InfoMoney:
“O mercado entrou com todas as fichas numa vitória da oposição e pagou para ver. O que a gente está vendo hoje é a reversão deste movimento” (Reginaldo Galhardo, da corretora Treviso);
“Se isso se confirmar (avanço da Dilma) nas próximas pesquisas, o céu é o limite para o dólar” (Mário Battistel, da corretora Fair);
“A percepção de risco tem aumentado cada vez mais uma vez que uma reeleição de Dilma traz incertezas ao mercado em relação a quais políticas serão adotadas pelo seu governo e, consequentemente, isso tem impactado também os juros futuros, que mostram hoje forte alta” (Ignacio Crespo, Guide Investimentos)
Notem, nas falas acima, que o “mercado” paira absoluto sobre a sociedade. Nenhum dos entrevistados, por motivos óbvios, questiona a serviço de quem está o mercado. Nem diz, de forma explícita, que Marina Silva ou Aécio Neves serão melhores para o mercado e para quem se serve dele.
Mercado=povo? Mercado=banqueiros?
É tudo um jogo de palavras cujo objetivo, em vez de esclarecer, é o de esconder.
Da mesma forma, o noticiário da mídia corporativa reproduz as oscilações da Bovespa de forma acrítica, transmitindo aos leitores, ouvintes e telespectadores o terrorismo eleitoral gerado por computadores a serviço do lucro.
Os movimentos nos preços das ações, que flutuam ao sabor das pesquisas eleitorais, podem produzir ganhos, inclusive aos que conseguem informação privilegiada.
O próprio InfoMoney descreve um cenários de lucros espetaculares:
Notem, aliás, que sempre quem “perde” na Bolsa é a Petrobras, o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica. As “estatais”. Quem ganha é sempre um “investidor”. Na mídia brasileira simplesmente não existem os lucros de estatais e as perdas de investidores.
“O povo brasileiro não tem um centavo na Bolsa”, disse a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, quando a procurei hoje para falar sobre a greve e a especulação eleitoral na Bovespa.
“Quem vive do rentismo [de ganho com juros] prefere um Estado mínimo, que terceirize, que precarize as relações de trabalho, que privatize”, continua, lembrando que o mesmo “terrorismo” a que assistimos hoje se deu nas semanas que antecederam a eleição de Lula, em 2002.
Os bancários, em sua conferência nacional, decidiram apoiar a reeleição de Dilma Rousseff. Seguem os principais motivos, descritos por Juvandia: ganhos reais nos salários, liberdade para se organizar, políticas de inclusão social e políticas de crédito (a relação crédito/PIB saltou de 22% para 56% entre 2003 e 2014).
Por outro lado, sustenta a sindicalista, “os bancos privados incluiram no programa de Marina [Silva] tudo aquilo que eles querem”.
Lembrei à presidente do Sindicato dos Bancários que Marina tem dito, nos debates, que é vítima de boatos da campanha petista.
Juvandia respondeu frisando que as críticas a Marina, pelo menos as que partem de sua entidade, são baseadas no que está escrito no programa de governo da coalizão liderada pelo PSB.
O programa da candidata do PSB significa, segundo a sindicalista, “entregar a condução da economia na mão do sistema financeiro”, uma vez que além de propor uma Banco Central autônomo (para Juvandia, “da população”), Marina pretende diminuir o papel dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica) e aumentar a participação dos bancos privados.
Diz o Viomundo, a partir do trecho que reproduzimos acima: seria o mesmo “dirigismo” que o programa de Marina critica, só que na direção do capital privado.
Juvandia sugere que Marina não leu o próprio programa de governo, que os bancários analisaram detidamente em reuniões.
Para fechar o círculo, uma informação sobre a greve dos bancários, em andamento: os banqueiros ofereceram 7,35% de reajuste, o que significaria aumento real inferior a 1%.
Declarou Juvandia:
“O fim da greve depende dos bancos. Mesmo com o lucro dos cinco maiores bancos em R$ 28,5 bilhões no primeiro semestre do ano, a Fenaban propõe para os trabalhadores reajuste salarial com índice menor de 1%. Além disso, os bancos se enquadram entre as empresas com maior risco de acidente de trabalho ou doença ocupacional, são mais de 16 mil afastamentos por ano, e não houve avanço para a melhoria nas condições de trabalho”.
Clique abaixo para ouvir a íntegra da proveitosa entrevista com Juvandia Moreira (todo o conteúdo exclusivo do Viomundo é financiado pelos nossos assinantes):
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