Kiko Nogueira: Como foi a entrevista com Dilma

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Na última sexta-feira, você sabe, o DCM participou de uma entrevista com a presidente Dilma Rousseff. Estive lá com mais sete blogueiros. Foram aproximadamente duas horas e meia no Palácio do Alvorada. O combinado era uma hora.
Muita estultice já foi disparada sobre o assunto. O insofismável Ricardo Noblat, por exemplo, o mesmo que matou Ariano Suassuna antes da hora e garantiu que Lula seria candidato no lugar de Lula, ele mesmo – chamou a coisa de “farsa” (?).

Não se sabe muito bem o que isso significa, apenas que é fruto de uma mistura de leviandade, ciúme, burrice, maldade e falta do que fazer.
(A passagem foi paga por nós, caso interessar possa. Fui e voltei no mesmo dia de uma calorenta e seca Brasília. Mas nada disso interessa. Adelante.)
Se você não viu a entrevista, eis a íntegra.
Em linhas gerais: Dilma começou com a regulação econômica da mídia, respondendo ao questionamento de Altamiro Borges. “Não é controle de conteúdo”, frisou, antecipando a histeria dos suspeitos de sempre.
“Onde há concentração de poder econômico dificilmente haverá relações democráticas”. Citou a certa altura o papa Francisco, que condenou três pecados (“dois deles, seculares”) do mundo de hoje: a calúnia, a difamação e a desinformação.
Sobre saúde, aposta no fortalecimento do SUS, embora acredite numa convivência entre o sistema público e o privado. Fez algumas blagues. Comentou que, numa visita a um hospital, pôde monitorar uma área por uma câmera. As pessoas ali não tinham ideia que, do lado de lá das lentes, estava a presidente da república.
Acredita que um plebiscito seja necessário para levar adiante a reforma política. A respeito das acusações de “bolivarianismo”, recordou que Arnold Schwarzenegger convocava frequentemente plebiscitos na Califórnia quando era o gobernator.

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Respondendo a Renato Rovai sobre violência policial, falou dos autos de resistência — que, na verdade, “servem para encobrir o assassinato”. Duvidou de uma pesquisa que dizia que 76% dos policiais são a favor da desmilitarização. Admitiu que a “política de cárcere do Brasil é cega: nem certa, nem errada, ela não sabe para onde vai”.
O discurso na ONU, em que teria pregado um “diálogo” com Estado Islâmico, foi distorcido deliberadamente, segundo ela. “O Conselho de Segurança não aprovou os bombardeios dos Estados Unidos na Síria”, afirmou.
“Não é possível que alguém acredite que depois da invasão ao Iraque, da guerra na Síria, na Líbia, e após Israel, que os conflitos são resolvidos por invasão aérea. Tem de ser muito ingênuo ou desconhecedor da história dos últimos quatro ou cinco anos”.
Como eu disse, o relato completo do encontro está disponível neste link.
O que você não viu?
Nós aguardamos Dilma por 20 minutos, sentados à mesa de 16 lugares. Da entrada do palácio, com um espelho enorme que dá a sensação estranha de estar encontrando uma turma parecida vinda do nada (Paulo Moreira Leite disse que não consegue se acostumar com aquilo), até o salão onde ocorreu a conversa são mais ou menos 300 metros de ambientes com sofás, poltronas e mesas de centro.
Dilma foi anunciada pelo ministro das comunicações Thomas Traumann. Estava com um terninho vermelho (certamente uma propaganda subliminar ou, mais do que isso, uma referência às ciclofaixas socialistas paulistanas).
À cabeceira, o primeiro assunto debatido, antes do streaming iniciar: a crise no Sistema Cantareira de São Paulo. Segundo Dilma, ela conversou com Alckmin, há meses, sobre uma possível seca. Explicou, usando as mãos, qual seria o tamanho de uma peça usada numa obra nesse tipo de intervenção.
Queixou-se da secura do ar da capital e do que isso causava a sua garganta e ao seu fôlego. Não à toa, havia umidificadores de ar na sala.
Apesar disso, nada que transparecesse cansaço ou desânimo. Parecia bem humorada, traço que tem marcado alguns debates e certas sabatinas, aliás. Perguntei a um membro do estafe se o bom humor se devia a alguma nova pesquisa. Não, foi a resposta.
Horas depois seria divulgado o Datafolha em que ela aparecia 13 pontos à frente de Marina e, pela primeira vez, liderando no segundo turno. Na despedida, fez algumas piadas com os nomes de alguns dos sites.
A entrevista terminou para outra começar. Em vans, jornalistas chegavam para a coletiva de todos os dias, naquele mesmo cômodo, com a candidata à reeleição.
Do lado de fora, o clima estava seco e quente.

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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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