Fernando Nogueira da Costa: Risco da Eleição da Marina Silva

Um povo que espera vinda do Messias
Analiso o risco da eleição da Marina, como “salvadora da Pátria”, da seguinte forma:
  1. na área social: anuncia que manterá os programas sociais essenciais, porém, com o tempo seus economistas neoliberais cortarão gastos públicos, sufocando-os.
  2. na área política: anuncia que governará com todos, exceto o PMDB, porém, ela se aliará já no segundo turno com a dupla PSDB-DEM (o PPS desde já).
  3. na área econômica: dá carta-branca para o ultraliberal Eduardo Giannetti ser seu porta-voz econômico, não se vexando de anunciar que vai cortar gastos públicos, descapitalizar bancos públicos, suspender obras públicas em andamento como na infraestrutura, na energia hidrelétrica (Belo Monte – Santo Antônio – Jirau) e em extração de petróleo no pré-sal.
  4. na área comportamental e/ou de costumes: conservadora, preservacionista e reacionária em temas como criacionismo, aborto, feminismo, homofobia, ateísmo, Estado laico, etc.
Enfim, estou pessimista a respeito do que ocorrerá caso ela seja eleita. Não se deve confundir a Marina 2014 com o Lula 2002 — o tal argumento de que “a esperança vence o medo” –, pois este teve a liderança de construir um partido de massa popular, o PT, sendo que ela não conseguiu organizar nem a pequena Rede com radicais-chic
Daí, oportunisticamente, migrou para o PSB. E levando a crer na “predestinação divina”, tal como os monarcas antes do século XVIII, acredita que o “dedo-de-deus” levou o Eduardo Campos à morte e ela a ser entronizada.
O termo “messianismo” é o adequado para entender porque pessoas despolitizadas, que abominam “os políticos” (mas não os pastores, os padres ou os bispos), adotam-no. Na religião judaica, messianismo é a crença na vinda de um Messias, redentor humano eleito por Deus, para toda a humanidade.
Na prática, refere-se a um movimento ou sistema ideológico que prega a salvação da humanidade através da entronização de um messias. Este pode ser um indivíduo (Marina), uma classe (alienada) ou uma ideia (o ambientalismo pentecostal)…
Pior, seus eleitores logo se decepcionarão. Ela fará tudo que está pregando que não fará!
Quais são os posicionamentos da Marina sobre geopolítica mundial, exceto em platitudes ambientalistas? Isto não é grave para a escolha dos eleitores que estarão escolhendo uma representação do País?! Assinarão um “cheque-em-branco” em nome da “aversão aos políticos”?!
Quanto à defesa do “tripé econômico”, primeiro, esse tripé produziu péssimos resultados no final do governo FHC e a imprensa oposicionista o mitifica, usando do expediente de que uma mentira repetida, reiteradamente, pode ser inculcada nas mentes dos eleitores como fato verdadeiro. Ele foi abandonado desde o início do governo Lula-Dilma. Este aumentou o superávit primário até que a dívida pública líquida caísse abaixo de 35% do PIB, baixou a taxa de câmbio de quase R$ 4 para ~R$ 2,30, diminuiu a taxa de juros real para 4,5% aa e ampliou o crédito como nunca o governo FHC fez: de 21,8% para 56% do PIB. Tripé?!
Segundo, discordo inteiramente da hipótese de que o que deu errado no final do governo FHC foi devido ao “medo do futuro governo Lula”. Basta lembrar fatos como o apagão elétrico de 2001, o choque mundial com o ataque terrorista às Torres Gêmeas em NY, a tática do medo propagada por apoiadores do FHC tipo “Serra ou o caos”, etc. O governo neoliberal fracassou antes de Lula ser o favorito.
Terceiro, acho que o papel da “Carta aos Brasileiros” é também uma mitificação, tanto que não houve nenhuma apoio de O Mercado logo após sua divulgação. O que ocorreu em 2003 foi o reconhecimento da responsabilidade e competência da equipe econômica do Governo Lula. Os bons resultados econômicos foram surgindo e a confiança empresarial foi se elevando. Acompanhei tudo isso, direta e semanalmente, na Diretoria da FEBRABAN.
Quanto ao risco-Marina, meu temor não se refere, de imediato, às políticas sociais, pois ela não seria louca de rasgar toda sua biografia política e cortar o que deu muito certo. O que me apavora é que, na área econômica, seu “guru” (Eduardo Giannetti) é um ideólogo seguidor da Escola Austríaca. Este pensamento econômico éultraliberal, chegando a ser contra qualquer Banco Central!
Pior, Giannetti, como não tem nenhuma prática de política econômica, afirma que adotará a política econômica dos tucanos. Não reconhece o paradoxo: se esta deu tão maus resultados, por que se supõe que o governo Lula teria a seguido?! É lógico que não a seguiu! E agora a “cabeça-oca” quer a adotar! Isso resultará no corte de gastos públicos — podendo até, em médio prazo, cortar qualquer ampliação de programas sociais — e desemprego para cortar gastos salariais das empresas.
Quanto à volta do “discurso da competência”, em que qualquer problema seria resolvido, simplesmente, com a reunião de “gênios da raça” de todos os partidos, é mais ou menos como a seleção brasileira sem coesão que levou goleada de 7 X 1. Sem base de coalizão partidária para aprovar projetos, ela “reinará, mas não governará”… Provavelmente, ela se aliará com a direita desde o segundo turno.
Já assistimos esse filme com o Collor: discurso eleitoreiro anti-políticos e aliança descarada com os piores políticos para governar. Já vimos como termina…
Se ela se aliar com a esquerda, reeditando a antiga aliança PSB-PT, tudo bem, eu reconhecerei que eu me enganei. Porém, hoje, duvido que esse gesto magnânimo ocorra.
É um tormento psicológico pensar que uma beata igual à Marina tem chances de alcançar a Presidência da República do Brasil em pleno século XXI! Uma pessoa que almeja “um lugar no céu” alimenta essa ilusão com os votos dos iludidos fieis. Porém, somar Política e Religião é anticonstitucional em um Estado laico.
Não desejo nem o retrocesso com o Aécio nem o atraso com a Marina. Com ela não aproveitaremos a oportunidade histórica, ou seja, perderemos o “bonde da história”, de dar um salto na qualidade de vida do nosso povo com o término dos projetos de longo prazo de investimentos em andamento. O desenvolvimento será sustentável com o FSRS (Fundo Social de Riqueza Soberana), capitalizado a partir dos royalties da exportação do petróleo do pré-sal, dando 75% dos seus rendimentos para a Educação e 25% para a Saúde. Isso não ocorrerá com mais uma tentativa de desmanche do Estado social-desenvolvimentista.
Revelação

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