DILMA, LULA E O PT CRESCEM NA RETA FINAL
por Paulo Moreira Leite
Crescimento da presidente nas pesquisas mostra que eleição deixou de ser um espetáculo midiático e se transformou numa disputa política de verdade
O crescimento de Dilma nos últimos dias reflete um momento particular da campanha. Quando falta uma semana para a votação em primeiro turno, a eleição deixou de ser um espetáculo político midiático, comandado pelos meios de comunicação, suas apostas e preferências, para se transformar numa disputa soberana entre partidos, candidatos e cidadãos.
A corrida aos comícios, o crescimento de caminhadas pelos centros urbanos e, como um reflexo de tudo, as mudanças dramáticas nas pesquisas, mostram que a plateia abandonou o papel de simples espectadora e foi a luta numa eleição que pode ser decisiva para o futuro do país e de cada um dos brasileiros. Nessa situação, a experiência real ganha importância sobre a propaganda.
Diante das pesquisas, o manchetômetro — absurdamente desfavorável a Dilma — diz menos sobre a eleição e os candidatos do que sobre a influência dos meios de comunicação. A presidente cresce apoiada em seu desempenho, na liderança de Lula e também na história de um partido que, muito maior do que seus defeitos, os reais e os imaginários, continua sendo a expressão dos assalariados e da população pobre.
Sentada na cabeceira de uma mesa no Alvorada, na tarde de sexta-feira passada a presidente Dilma Rousseff exercitou o legítimo direito de contemplar o futuro do país numa entrevista coletiva para oito blogueiros — eu estava entre eles.
Em duas horas e três minutos de entrevista — a combinação original era de 60 minutos, quem sabe um pouco mais — a presidente permitiu-se falar de de um possível segundo governo, o que não poderia ter sido feito nos momentos anteriores, quando isso poderia parecer presunção ou leviandade. Comparando os dois mandatos de Lula, Dilma lembrou que no primeiro ele fez o governo que era possível — e no segundo fez o que gostaria. Dizendo que faz um governo na “defensiva,” sugeriu que, caso venha a ser reeleita, fará um segundo mandato a seu gosto.
Já na primeira pergunta, Dilma anunciou que seu segundo governo irá iniciar o debate para a regulamentação econômica dos meios de comunicação. A presidente lembrou o Papa Francisco, que chegou a falar no pecado da desinformação. Disse que a Constituição proíbe, nos artigos 220 a 224, o monopólio e o oligopólio dos meios de comunicação e antecipou as dificuldades para um debate real. “No Brasil, tenta-se confundir regulação econômica com o controle de conteúdo e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Controle de conteúdo é típico de ditaduras A regulação do ponto de vista econômico visa apenas impedir que relações de oligopólio se instalem,” disse ela.
A regulamentação econômica dos meios de comunicação foi uma meia vitória dos constituintes progressistas de 1988. Eles tiveram força para incluir a luta contra o monopólio e o oligopólio no texto, mas a bancada conservadora, aliada das empresas de comunicação, conseguiu incluir uma ressalva, de que isso se faria “na forma da lei” — e de lá para cá, passados 26 anos, essa regulamentação nunca foi debatida nem sequer votada. “Onde há concentração de poder econômico dificilmente haverá relações democráticas,” disse a presidente. Dilma está convencida de que o país vive um momento em que o debate sobre a concentração da propriedade da mídia deixou de ser uma preocupação de estudiosos e ativistas, para se tornar “uma demanda atual da sociedade.” Ao falar sobre saúde pública, Dilma deixou claro que o fortalecimento do SUS será sua prioridade — mas disse também que acredita na necessidade de convivência entre o sistema público e o privado. Quando perguntei sobre a reforma política, lembrando que a proibição de contribuições financeiras de empresas privadas envolve uma batalha histórica para garantir o cumprimento da regra democrática 1 homem = 1 voto, Dilma sublinhou que, com base num plebiscito, a maioria teria condições de impor sua vontade. Um bom argumento. (Pegue o link para ouvir a entrevista da presidente, na íntegra aqui).
Em duas horas e três minutos de entrevista — a combinação original era de 60 minutos, quem sabe um pouco mais — a presidente permitiu-se falar de de um possível segundo governo, o que não poderia ter sido feito nos momentos anteriores, quando isso poderia parecer presunção ou leviandade. Comparando os dois mandatos de Lula, Dilma lembrou que no primeiro ele fez o governo que era possível — e no segundo fez o que gostaria. Dizendo que faz um governo na “defensiva,” sugeriu que, caso venha a ser reeleita, fará um segundo mandato a seu gosto.
Já na primeira pergunta, Dilma anunciou que seu segundo governo irá iniciar o debate para a regulamentação econômica dos meios de comunicação. A presidente lembrou o Papa Francisco, que chegou a falar no pecado da desinformação. Disse que a Constituição proíbe, nos artigos 220 a 224, o monopólio e o oligopólio dos meios de comunicação e antecipou as dificuldades para um debate real. “No Brasil, tenta-se confundir regulação econômica com o controle de conteúdo e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Controle de conteúdo é típico de ditaduras A regulação do ponto de vista econômico visa apenas impedir que relações de oligopólio se instalem,” disse ela.
A regulamentação econômica dos meios de comunicação foi uma meia vitória dos constituintes progressistas de 1988. Eles tiveram força para incluir a luta contra o monopólio e o oligopólio no texto, mas a bancada conservadora, aliada das empresas de comunicação, conseguiu incluir uma ressalva, de que isso se faria “na forma da lei” — e de lá para cá, passados 26 anos, essa regulamentação nunca foi debatida nem sequer votada. “Onde há concentração de poder econômico dificilmente haverá relações democráticas,” disse a presidente. Dilma está convencida de que o país vive um momento em que o debate sobre a concentração da propriedade da mídia deixou de ser uma preocupação de estudiosos e ativistas, para se tornar “uma demanda atual da sociedade.” Ao falar sobre saúde pública, Dilma deixou claro que o fortalecimento do SUS será sua prioridade — mas disse também que acredita na necessidade de convivência entre o sistema público e o privado. Quando perguntei sobre a reforma política, lembrando que a proibição de contribuições financeiras de empresas privadas envolve uma batalha histórica para garantir o cumprimento da regra democrática 1 homem = 1 voto, Dilma sublinhou que, com base num plebiscito, a maioria teria condições de impor sua vontade. Um bom argumento. (Pegue o link para ouvir a entrevista da presidente, na íntegra aqui).
Na quinta-feira, uma caminhada de Dilma em Feira Santana parou a cidade e, à noite, um comício em Ceilândia, reuniu 15 000 pessoas. A presidente não compareceu para poupar a voz. Mas a presença de Lula em noite inspiradíssima garantiu grandes momentos a uma massa que saiu de casa, enfrentou congestionamento e alimentou-se de pipoca, milho cozido e salada de frutas para ouvir Lula falar. Com rouquidão profunda, a ponto de gerar comentários preocupados entre militantes que lembram do câncer na faringe, Lula fez as honras da casa. Com uma garrafinha de plástico na mão, informou aos presentes que iria tomar água varias vezes, esclarecendo, com a naturalidade dos pacientes que não perdem a chance de celebrar a cura de uma doença gravíssima, que “agora minha garganta fica seca. Quando eu estava no sindicato, era só tomar um gole de conhaque e tudo ficava resolvido.”
Em seguida Lula apresentou à massa reunida em torno do palanque um personagem frequente dos comícios do PT na Capital Federal e em Goiás — o médico Cicero Pereira Batista, negro e calvo, de jaleco branco e estetoscópio no pescoço. Filho de uma empregada doméstica, sem recursos sequer para comprar livros necessários ao estudo — chegava a buscar material didático no lixo — Cicero conseguiu o diploma no ProUni, transformando-se, na campanha de 2014, num símbolo em carne e osso dos feitos e realizações do PT desde sua chegada ao Planalto, em 2003.
Encantando a plateia que acompanha seu desempenho com uma admiração que poucos políticos tiveram direito em qualquer momento da história do país, Lula disse “Nunca aceitaram que alguém ousasse tornar um negro médico. Nós ousamos!”. Lula também lembrou, com emoção na voz, a vitória de Tamires Gomes Sampaio, uma estudante do Pro-Uni, negra, que tornou-se presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito do Instituto Mackenzie, em São Paulo, instituição notável pelo espírito conservador.
Numa demonstração de seu pleno domínio da oratória, Lula também tratou de Marina Silva. Como ele mesmo havia previsto, alertando os dirigentes da campanha a respeito, toda tentativa de ataque agressivo pode ser usada por ela — não só por causa de sua figura frágil, mas porque a própria Marina aprendeu a tirar proveito dessa situação.
“Quando escolhi a Dilma, eu sabia o tamanho do problema que o Brasil tinha pela frente. De todas as pessoas que eu tinha, a Dilma era a mais competente. Por isso, ela não permitiu que este país entrasse numa crise como entrou a Espanha, Itália e Estados Unidos”, disse. Com o cuidado de eliminar qualquer tonalidade agressiva na voz, Lula concluiu. “Eu gosto da Marina. Mas se fosse escolher uma presidente por amor, eu teria de escolher dona Marisa.”
Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
Em seguida Lula apresentou à massa reunida em torno do palanque um personagem frequente dos comícios do PT na Capital Federal e em Goiás — o médico Cicero Pereira Batista, negro e calvo, de jaleco branco e estetoscópio no pescoço. Filho de uma empregada doméstica, sem recursos sequer para comprar livros necessários ao estudo — chegava a buscar material didático no lixo — Cicero conseguiu o diploma no ProUni, transformando-se, na campanha de 2014, num símbolo em carne e osso dos feitos e realizações do PT desde sua chegada ao Planalto, em 2003.
Encantando a plateia que acompanha seu desempenho com uma admiração que poucos políticos tiveram direito em qualquer momento da história do país, Lula disse “Nunca aceitaram que alguém ousasse tornar um negro médico. Nós ousamos!”. Lula também lembrou, com emoção na voz, a vitória de Tamires Gomes Sampaio, uma estudante do Pro-Uni, negra, que tornou-se presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito do Instituto Mackenzie, em São Paulo, instituição notável pelo espírito conservador.
Numa demonstração de seu pleno domínio da oratória, Lula também tratou de Marina Silva. Como ele mesmo havia previsto, alertando os dirigentes da campanha a respeito, toda tentativa de ataque agressivo pode ser usada por ela — não só por causa de sua figura frágil, mas porque a própria Marina aprendeu a tirar proveito dessa situação.
“Quando escolhi a Dilma, eu sabia o tamanho do problema que o Brasil tinha pela frente. De todas as pessoas que eu tinha, a Dilma era a mais competente. Por isso, ela não permitiu que este país entrasse numa crise como entrou a Espanha, Itália e Estados Unidos”, disse. Com o cuidado de eliminar qualquer tonalidade agressiva na voz, Lula concluiu. “Eu gosto da Marina. Mas se fosse escolher uma presidente por amor, eu teria de escolher dona Marisa.”
Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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