Comunidade internacional condena decisão de Israel em ocupar terras na Cisjordânia



Patrícia Dichtchekenian/Opera Mundi
Correspondente a 400 campos de futebol, a área representa a maior apropriação israelense de terras da Cisjordânia em 30 anos; EUA, Egito, França e Reino Unido também criticaram decisão após cessar-fogo
02/09/2014
Patrícia Dichtchekenian,
A comunidade internacional condenou a decisão anunciada no domingo (31/08) pelo governo israelense de ocupar 400 hectares pertencentes a cinco aldeias palestinas nos arredores de Belém, na Cisjordânia. Correspondente a aproximadamente 400 campos de futebol, a área representa a maior apropriação israelense de terras da Cisjordânia em 30 anos.

Um dos principais aliados de Tel Aviv, os Estados Unidos classificaram o anúncio como “contraprodutivo” e exortou Israel a anular a decisão. "É contraprodutivo em termos da meta estabelecida pelo Israel de uma solução de dois Estados negociada com os palestinos. Pedimos ao governo israelense para reverter essa decisão", declarou o Departamento de Estado norte-americano.
Responsável por mediar o cessar-fogo na Faixa de Gaza, o Egito também criticou a atitude israelense. Segundo o Ministério de Relações Exteriores egípcio, “não é um passo positivo, contradiz a legislação internacional e tem consequências negativas para o processo de paz”.
Na Europa, os principais Estados a se manifestar foram a França e o Reino Unido. “As partes devem se mobilizar com urgência para retornar o caminho de paz assim que possível”, afirmou o governo francês em comunicado.
“Esta é uma decisão particularmente insensata, que chega em um momento no qual a prioridade deve ser um cessar-fogo em Gaza, e irá causar sério estrago na posição de Israel na comunidade internacional”, disse o secretário das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond, em nota citada pela Reuters.
Para ANP (Autoridade Nacional Palestina) tal medida “só vai deteriorar ainda mais a situação”, segundo Nabil Abou Roudeina, porta-voz do presidente Mahmoud Abbas, relembrando que a comunidade internacional considera ilegal as colônias israelenses em territórios ocupados. “Esses crimes destroem toda perspectiva de solução de dois Estados”, completa o negociador palestino Saëb Erakat.
Organizações internacionais
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou estar alarmado com a decisão das autoridades israelenses e pede que Tel Aviv atenda aos apelos da comunidade internacional para que se abstenha de realizar assentamentos nos territórios palestinos. “A apreensão de uma grande faixa de terra apresenta o risco de abrir caminho para uma maior atividade de assentamentos que - como as Nações Unidas reiterou em várias ocasiões - é ilegal sob a lei internacional e vai totalmente contra a busca de uma solução de dois Estados”, declarou Ban em comunicado.
Outra organização que rechaçou a atitude foi a Anistia Internacional, que pede que Israel “cesse de uma vez por todas de confiscar terras na Cisjordânia”, segundo o Le Monde. Para a entidade, esse anúncio representa a “principal tomada de terras palestinas ocupadas desde 1980”.
A tomada dos terrenos segue a decisão do gabinete do governo israelense como mais uma resposta ao sequestro e assassinato de três judeus adolescentes, supostamente por militantes do Hamas na região, em junho.
Crítica interna
“É uma punição coletiva dos israelenses que afasta ainda mais uma perspectiva de paz entre dois Estados para dois povos”, critica ao Le Monde Hagit Ofran, uma das responsáveis pela organização israelense Paz Agora, que monitora esses assentamentos.
Desde o início do mandato do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em 2009, o número de habitações ou casas construídas na Cisjordânia aumentou de 1.500 e 1.800 a 2.000 ou 2.500, aponta a ONG israelense.
No domingo, a própria ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni, criticou a decisão em uma rádio local, afirmando que o ‘timing’ do anúncio foi impróprio. "Qualquer coisa que possa desviar a atenção em relação a nós e despertar críticas contra nós fere as mesmas coisas que estamos tentando alcançar”, apontou, segundo o Haaretz.

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