A sombra sinistra do passado

A vitória de Marina ou de Aécio representaria o recuo das recentes conquistas sociais
Armínio Fraga
Armínio Fraga. Czar da economia com Aécio, influente com Marina
por Mauricio Dias 

Há quem ache um exagero, para assustar eleitores, os discursos de campanha de Dilma Rousseff. Ela fala e se mostra convencida de que, em caso de vitória, a oposição representada pelas candidaturas de Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) cumpriria uma “lista de maldades”. Uma citação que traz à memória a “Caixa de Pandora”, onde, diz a lenda, estão guardados todos os males.

Esse programa oposicionista centrado nessa “lista de maldades”, batizada assim pelo economista Arminio Fraga, é capaz de arruinar muitas das conquistas sociais criadas nos 12 anos de governos petistas. E não é novidade esse propósito.
Os economistas tucanos, e os tucanos travestidos de marineiros, pensam da mesma forma e cultivam o mesmo sonho. Propõem resolver problemas econômicos saindo pela velha e costumeira porta sempre aberta para sacrifício da população mais pobre: salário menor, desemprego maior, menos consumo etc.
Um sonho para eles. Um pesadelo para a multidão de cidadãos pobres abrigados sob programas sociais. Milhões deles arrancados da miséria recentemente e tirados da marginalidade social.
Mais que isso. Há planos para eliminar direitos trabalhistas conquistados na “Era Vargas”, que soma o período ditatorial (1937-1945) e o período Constitucional (1951-1954).
À eliminação de direitos trabalhistas Dilma disse “não”. E introduziu no debate antigo ditado popular: “Nem que a vaca tussa”.
As artimanhas dos adversários da presidenta, denunciadas por ela, poderia ser rebatida pelos opositores como fruto de invenção eleitoreira. Essa resposta poderia criar dúvidas até a semana passada. Mais precisamente, antes da palestra do economista Arminio Fraga, feita em São Paulo, para cerca de 600 empresários.
Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo FHC, seria o czar da economia com a vitória de Aécio. Com a vitória de Marina talvez não tivesse o cargo. Teria poder, sem dúvida.
Perguntado acerca de medidas que tomaria para reduzir gastos do governo, ele desviou-se. Mas deixou as mangas de fora ao afirmar que seria “tolo” se falasse sobre uma “lista de maldades” em um ambiente eleitoral.

No mesmo dia, quase simultaneamente, o secretário de Política Econômica do governo, Márcio Holland, debatia na Fundação Getulio Vargas, no Rio, com Samuel Pessoa, da equipe de Aécio, e com Marco Bonomo, do time de Marina. O confronto, de dois contra um, transcorreu em forma de guerra verbal.
Holland reagiu de forma dura às críticas feitas ao governo. Sugeriu que Bonomo e Pessoa se atualizassem com teorias econômicas mais recentes.
Em certo ponto sugeriu a Pessoa: “Acho que você devia atualizar a leitura pós-crise, ler bons livros”. Citou de passagem Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001, e Janet Yellen, presidente do FED, o banco central dos EUA.
Pessoa contra-atacou o argumento considerado por ele como “difícil de aceitar”. O Brasil parou de crescer, ele afirmou, em razão da desaceleração da economia mundial. Após isso fez o diagnóstico que, certamente, Arminio Fraga assinaria: “O ritmo mais fraco da economia brasileira está ligado aos custos dos programas sociais”. Esse é somente mais um dos itens da “lista de maldades” guardada no bolso de Arminio Fraga.

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