A pajelança do Lula

5 de setembro de 2014 | 22:23 Autor: Fernando Brito
pajelanca
Com todas as dificuldades da transmissão precária, assisti a fala de Lula no encontro da militância do PT paulista.
Não houve como deixar de vir à cabeça a “pajelança” organizada por Leonel Brizola, em 1986, quando estávamos apanhando mais do que boi ladrão na campanha de Darcy Ribeiro ao governo do Rio de Janeiro.
Pajelança era uma referência ao Cacique Raoni e aos outros líderes indígenas que foram tentar salvar a vida do naturalista Augusto Ruschi, o grande naturalista.
Campanha difícil, numa quadra em que estávamos sob o impacto do Plano Cruzado, que havia transformado Brizola, por sua sinceridade, numa espécie de Judas.

Darcy, uma figura magnífica, era a antítese do candidato a cargo eletivo.
Arredio, nada afeito à multidão, mas a contatos pessoais, diálogos.
Difícil, difícil mesmo.
Houve uma cena hilária na Favela da Maré.
Eu precisava de uma imagem de Darcy com seu grande amor, as crianças.
Mas não havia meio de fazer dele um animador de Jardim de Infância.
Com uns amigos, começamos a mostrá-lo e a dizer: vai lá que ele está dando doce….
Pouco mais de um mês das eleições, Brizola chama a si a mobilização.
Fizemos um “comício interno”.
Alugou-se o Maracanãzinho.
Militantes, vereadores, prefeitos, cabos eleitorais de candidatos.
Todos chamados aos brios.
Perdemos a eleição, claro, porque nem Nosso Senhor ganharia contra o Plano Cruzado e, aqui, ainda tínhamos de aguentar a cegueira do PT, pendurado na candidatura do Marina 1.0, Fernando Gabeira, e sua proposta de mudar o mundo abraçando a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Mas terminamos nos calcanhares de Moreira Franco, ao qual, atendendo ao pedido de Lula para evitar os adjetivos, não vou qualificar senão com o que Brizola passou a chamá-lo: o gato angorá.
Mas fechamos o povão.
Houve urnas da Zona Oeste do Rio – Campo Grande e Santa Cruz, especialmente – onde, entre trezentos e tantos, quase 400 votos, Moreira Franco tinha – creiam – zero, nenhum voto.
Não é crível que o PT se conforme em não ter 30% dos votos paulistas, como sempre teve.
Lula disse, com toda a razão, que é incompreensível que isso esteja acontecendo, senão por uma imensa acomodação da estrutura partidária.
E chamou a si despertar seu partido.
Espero que seja bem sucedido, embora veja uma imensa inapetência no PT em ter um projeto de país. GOvernar o país não é para um simples grupo de amigos, advertiu.
Ele fez o seu papel.
Será que o PT o corresponderá?

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