Será que contaram ao Noblat e publicaram diferente?

Autor: Fernando Brito
prestidigitacao
Leio hoje na coluna de Ilimar Franco, em O Globo,  que houve grande alívio entre os tucanos pela falta de mudanças nos números do Ibope divulgados na noite de quinta-feira.
Para ter ideia do quanto, “Ufa!” é o título de sua coluna:
O comando da campanha de Aécio Neves respirou aliviado com o resultado do Ibope. Os tucanos vibraram com a estabilidade do candidato. Explicam que Aécio ficou debaixo de chuva nas duas últimas semanas. E que demorou a cair na realidade e a reagir ao noticiário negativo sobre a construção do Aeroporto de Cláudio, em terra de parentes e próximo a uma propriedade de sua família.

Será que alguém acredita que, nos quase 20 dias que nos separam da revelação do “aecioporto” os tucanos não receberam pesquisas reservadas que demonstrassem o mesmo que o Ibope, isto é, que o escândalo não tinha atingido em nada a imagem do candidato.
Nos tempos de “marquetagem” de hoje, não há uma grande campanha que não as tenha, quantitativas e qualitativas, quase todos os dias.
E, se receberam e estavam tão preocupados, é porque elas não diziam isso.
O obvio, não é?
O fato trouxe-me á mente outro indicador muito expressivo.
Ricardo Noblat, colunista de O Globo, é alguém de quem se pode divergir mas jasmais deixar de reconhecer sua longa trajetória de comentarista político nem  muito menos ignorar que possui boas, ótimas fontes em todas as áreas e, claro,   também as tem nos institutos de pesquisa.
Ficou famosa sua coluna, ainda no velho JB, em 1989, cujo título – “Há um cheiro de Lula no ar” – predizia que seria o candidato do PT aquele que iria ao segundo turno contra Fernando Collor, o que de fato aconteceu por uma ínfima diferença de 0,5% (na época 450 mil votos em menos de 100 milhões de eleitores de então) sobre Leonel Brizola.
Pois Noblat publicou, uma hora e meia antes da divulgação dos números do Ibope, uma análise  em que prenunciava algo diferente de uma pesquisa que em nada mudava ou que, se mudava, era um pouco até para pior para a candidata à reeleição.
Veja:
“Dilma chegou ao início de agosto próxima do confortável teto de 45% das intenções de voto. Voltou à situação de quem poderá liquidar a eleição no primeiro turno. Ou de passar para o segundo precisando de poucos votos a mais para se reeleger.”(…)
“(…)A não ser que ocorra um poderoso imprevisto. Do tipo: a filha de Dilma guarda a chave do aeroporto de Porto Alegre.”
Aécio?
“O caso do aeroporto mineiro de Cláudio, construído em terras da família de Aécio Neves, atrapalhou o desempenho do candidato do PSDB a presidente durante o mês de julho.”
Dudu?
“Eduardo Campos, candidato do PSB à vaga de Dilma, atravessou julho desnorteado a prometer o que poderá ou não fazer caso se eleja. Enfrenta o dilema hamletiano de ser ou de não ser uma pálida sombra do que foi Marina Silva na eleição de 2010.”
Noblat chegou a cravar, com um fecho que não faz jus à sua elegância:
“A eleição presidencial deste ano é candidata à passar à História como aquela onde faltou uma oposição capaz de corresponder ao majoritário desejo de mudança dos brasileiros.
Se não tem tu, vai tu mesmo, Dilma!”.
Hora e meia depois, no Jornal Nacional, Aécio ganhava um ponto no Ibope e Eduardo, outro, enquanto Dilma não saía do lugar.
Parece que foi outra pesquisa a  que “cantaram” a Noblat e não tenho dúvidas que sua fonte era muito, muito boa.
Há um cheiro no ar, para homenagear o ótimo título de sua coluna, 25 anos atrás.
E este  cheiro não é bom.

Comentários