Promessas mirabolantes para todos os gostos

Por José Augusto Valente *
Na Carta Maior

Na minha opinião, os(as) jornalistas que cobrem candidaturas à presidência
somente deveriam fazer matéria sobre promessas dos candidatos do PSDB e do
PSB se eles explicassem COMO pretendem realizá-las.
Especialmente, porque não existe “resolver um problema” e sim “trocar um
problema de alto valor por outro de menor valor”. É sabido que cada vez que se
atua sobre um problema, geram-se outros.
Exemplo: “elevada taxa de inflação (6,5%)” é um problema que pode ser reduzido
gerando outros problemas como “elevada taxa de desemprego” e “exclusão social
de parcelas da população atualmente incluídas”. Daí ser extremamente importante
saber COMO os candidatos resolverão todos os problemas, sem gerar outros de
alto valor para a maioria da população.

Além disso, no que diz respeito à relação com o Congresso, deveriam sempre pedir
exemplos de como fizeram o que estão propondo, quando governaram seus
estados (MG e PE). Lembro-me de presidente no passado que dizia que não
governaria com o Congresso mas com o povo. Deu no que deu...
Enunciar a proposta mirabolante e não dizer como fará para alcançar o resultado
proposto está acontecendo em todos os temas, mas me aterei apenas à logística
de cargas e de passageiros.
A proposta do candidato Aécio, de criação do Ministério da Infraestrutura, algo que
já foi tentado e não funcionou - porque não tem como funcionar - é top de linha.
Cabe perguntar ao candidato: essa proposta nasce de que diagnóstico? De que há
um número excessivo de ministérios ou de que existem graves problemas de
logística de cargas que só poderão ser resolvidos se juntarmos logística e
transportes com energia?
Se o sistema portuário é de alta relevância, o que acontecerá quando esse assunto
for misturado com uma centena de outros temas relevantes nas áreas de
transportes e de energia?
Se a proposta é boa, porque então o governo do PSDB, em 2001, criou várias
agências reguladoras de transportes e de energia e não apenas a Agência de
Infraestrutura?
Se isso é bom, porque a criação do Ministério da Infraestrutura, no governo Collor,
não deu certo e agora dará?
São perguntas que os(as) jornalistas deveriam fazer, obrigatoriamente, para
entender a proposta feita pelo candidato.
No âmbito da relação política com o Congresso Nacional, Aécio afirmou que
pretende fazer uma "redução drástica" no número de ministérios. Segundo o
senador, com essa medida a acomodação de aliados e governabilidade de sua
eventual gestão seria feita com "uma relação política de outro nível". "Teremos
uma ampla base de apoio pelo governo que faremos. Eu não trocarei ministérios,
diretorias de instituições financeiras por segundos de televisão ou por votos
parlamentares. Temos um projeto para o Brasil."
Aqui era o momento dos(as) jornalistas pedirem exemplos de como isso foi feito e
com que resultados, tanto no governo FHC, quanto no período em que ele governou
Minas Gerais.
Outra pergunta necessária aos dois postulantes: porque precisa reduzir o número
de ministérios? É para reduzir o número de funcionários? Vão demitir funcionários
públicos concursados?
Pretendem substituir esses funcionários públicos por terceirizados, com elevados
salários, como existia no governo FHC, quando eram alocados aos órgãos via
PNUD, fato sistematicamente condenado pelo TCU?
Já o candidato Eduardo Campos, em evento da CNA (6/8/14), fez um discurso
genérico, que não permite entender o que fará de diferente do que vem sendo feito
hoje. Sua proposta é de realizar ‘investimentos em infraestrutura que envolvam
parcerias com o setor privado "sem preconceito"’.
Ele quis dizer que Dilma tem preconceito com parcerias entre governo e empresas
privadas? Então, como explicar a concessão de seis aeroportos (Guarulhos, Brasília,
Galeão, Viracopos, Confins, e São Gonçalo do Amarante/RN), feitas nos dois
últimos anos?
Como explicar a concessão de 4.725 quilômetros de novas concessões rodoviárias,
contratadas somente nos quatro anos de governo Dilma, e outras já encaminhadas
para licitar em 2015?
Penso que a imprensa tem o dever de extrair dos candidatos mais do que vem
fazendo. O eleitorado agradece.
(*) José Augusto Valente – especialista em logística e infraestrutura de

transportes

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