Presidente da RBS anuncia 130 demissões como expressão de coragem e desapego

Eduardo Sirotsky Melzer
Da Redação da Carta Maior

Porto Alegre - O presidente executivo do grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer,
anunciou nesta segunda-feira que demitirá 130 profissionais da empresa na
próxima quarta-feira (6), especialmente na área de jornais. Segundo o portal
Coletiva.Net, de Porto Alegre, o anúncio foi feito durante uma videoconferência de
uma hora aos "colaboradores" da RBS, o maior grupo midiático do sul do país.
Melzer negou que a empresa passe por dificuldades financeiras, apesar da queda
de circulação de dois de seus principais jornais, Zero Hora e Diário Gaúcho. Ao
anunciar a decisão, o executivo classificou-a como uma expressão de inovação,
"coragem, energia e desapego para deixar de fazer coisas que não agregam e
investir no que pode nos fazer crescer".

Em uma carta dirigida aos "colaboradores" da empresa, Melzer diz que as
"empresas que têm a coragem de se posicionar mo mundo novo sairão
fortalecidas". "Quero convidar todos vocês a romper paradigmas, quebrar barreiras",
afirma ainda o executivo ao anunciar as demissões. E acrescenta: "Não estou de
forma alguma insensível ao impacto que demissões geram na vida das pessoas e
da própria empresa, porém acredito que tanto os profissionais quanto as empresas
precisam repensar o modo como atuam". Melzer não detalhou de que forma os
demitidos devem repensar o modo como atuam.
Segue a íntegra da carta enviada aos funcionários da RBS:
Caros colegas,
Escrevo para reforçar a mensagem que compartilhei com vocês nesta segunda
feira, em videoconferência, e para detalhar minha visão em relação ao futuro da
nossa empresa, pois quero manter entre nós um ambiente de clareza e
transparência.
As transformações radicais e a velocidade impressionante pelas quais a indústria
da comunicação tem passado exigem energia e dedicação para entender o
momento e também coragem para promover os ajustes que precisam ser feitos
para continuarmos crescendo.
Mudar não é opcional. É vital para o nosso projeto empresarial.
O cenário atual apresenta realidades paradoxais. Por um lado, os modelos
tradicionais estão altamente desafiados. Por outro, o avanço tecnológico e a forma
de consumir mídia nunca geraram tantas oportunidades e tanta abertura para a
inovação como nos dias de hoje. Aquelas empresas que têm a coragem de se
posicionar no mundo novo sairão fortalecidas.
Nesse sentido, acredito muito na relevância dos nossos produtos, no jornalismo de
qualidade, na comunicação e no desejo cada vez maior por conteúdo de
entretenimento diferenciado. As necessidades continuarão existindo. O que muda é
a forma como serão atendidas. Se queremos continuar crescendo temos de nos
reinventar imediatamente, investindo em atividades e negócios que geram
resultados positivos e deixando de fazer o que não agrega para nossa empresa e
para o mercado.
Quero convidar todos vocês a romper paradigmas, quebrar barreiras e colocar a RBS
cada vez mais no grupo das empresas vencedoras, daquelas empresas que
constroem oportunidades de mercado para se posicionar e conquistar a liderança.
Teremos uma semana intensa pela frente, pois na quarta-feira faremos cerca de
130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas, com o objetivo de buscar
produtividade e maior eficiência. São cortes que precisam acontecer, principalmente
na operação dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que
demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém acredito que
tanto os profissionais quanto as empresas precisam repensar o modo como atuam.
O Grupo RBS emprega milhares de pessoas. Não promover mudanças seria uma
irresponsabilidade com estes profissionais, um erro com todos vocês, além de um
descaso com nossos clientes e com o nosso projeto de futuro, que já está em
andamento.
É importante destacar que a RBS não passa por uma crise financeira. Ao contrário.
Estamos investindo e redesenhando a nossa operação, buscando velocidade e
desprendimento que são vitais para a preservação do nosso projeto empresarial.
Fizemos, nos últimos 12 meses, uma análise muito detalhada de todos os nossos
negócios e atividades. Eu me envolvi pessoalmente nesse processo. A partir do
que vimos, fizemos investimentos importantes que ajudam a deixar clara a nossa
crença no negócio.
Dobramos as equipes dedicadas ao digital, tanto nas redações quanto no
Tecnopuc, e triplicamos os investimentos nesta área. Até o fim do ano, só no
Tecnopuc, em Porto Alegre, teremos quase 100 profissionais trabalhando
exclusivamente na criação de soluções digitais para nossos produtos, em especial
para os jornais.
Os 50 anos de Zero Hora marcaram o início de uma grande renovação do jornal,
que agora começa a ser replicada em outros veículos. Inovamos na organização do
conteúdo e criamos novos espaços para fortalecer o vínculo com o leitor. A partir de
amanhã, Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina entram também
nessa nova fase.
Na TV, teremos nesse ano as 18 emissoras com equipamentos totalmente
renovados e tecnologia de última geração, cobrindo com sinal digital o Rio Grande
do Sul e Santa Catarina antes do prazo determinado pelo governo federal.
Em rádio, nosso alcance cresceu com o lançamento da Gaúcha Serra, da Gaúcha
Santa Maria e da Gaúcha Zona Sul. O rádio também tem feito um excelente
trabalho na internet.
Na e.Bricks, nossa empresa digital criada há três anos em São Paulo, lançamos o
Early Stage, um fundo para impulsionar ideias em tecnologia – um negócio
contemporâneo que atrai empreendedores em busca de parceria para crescer. O
fundo deve chegar ao final do ano com 16 empresas no portfólio.
Também na e.Bricks, ampliamos a operação da Wine, que já é a maior empresa de
vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando sua entrada no
mercado internacional. E muitos de vocês que já são sócios da Wine agora poderão
também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América
Latina, que está vindo para o Grupo.
Gostaria ainda de citar dois exemplos de inovação e empreendedorismo que
marcam a nossa gestão. O primeiro é o HypermindR, um centro de pesquisa no Rio
de Janeiro, que vai desenvolver softwares para medir hábitos do consumidor. E o
segundo diz respeito ao nosso modelo de gestão de pessoas, baseado na
meritocracia. As ferramentas que desenvolvemos para dar mais transparência aos
planos de carreira tornaram-se benchmark para muitas empresas e agora serão
disponibilizadas ao mercado através da Appus, um negócio que nasceu aqui, dentro
do RH.
Temos apoio dos acionistas nas nossas decisões e temos também pessoas
qualificadas e comprometidas, recursos financeiros, solidez de caixa, coragem,
energia e desapego para deixar de fazer coisas que não agregam e investir no que
pode nos fazer crescer.
Na próxima sexta-feira, vou apresentar aos líderes da empresa a Carta Diretriz, um
documento que reforça na RBS princípios como simplicidade, produtividade e
eficiência, qualidade, inovação, crescimento sustentável e meritocracia. Tenho dito
que somos uma empresa em beta. Isso significa que nosso processo de
transformação será contínuo e permanente.
Como presidente, tenho compromisso com os acionistas, com a história da nossa
empresa, com o nosso público e os nossos clientes.
Estou motivado, principalmente, pela grande confiança que tenho no trabalho e no
comprometimento de cada um de vocês.
Vamos em frente!

Duda

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