PM de São Paulo já matou 62% a mais que em 2013

A letalidade dos policiais militares de São Paulo cresceu 62% em 2014. É o que revela a comparação sobre as mortes cometidas por PMs, no horário de trabalho e também na folga, durante os primeiros semestres de 2014 e 2013.

Guga Kastner/Ponte Jornalismo
Estudos mostram que as mortes causadas pela Polícia Militar de São Paulo aumentaram 62% no primeiro semestre de 2014 com relação ao mesmo período no ano passado
Estudos mostram que as mortes causadas pela Polícia Militar de São Paulo aumentaram 62% no primeiro semestre de 2014 com relação ao mesmo período no ano passado
Dados do Centro de Inteligência e da Corregedoria (órgão fiscalizador) da corporação paulista revelam que, de janeiro a junho de 2013, 269 pessoas foram mortas por PMs no estado de São Paulo; no mesmo período de 2014, foram 434, o que representa uma alta de 62%.

Enquanto entre janeiro e junho de 2013, policiais militares mataram 3 pessoas a cada 2 dias, neste ano, esse número subiu para 5 mortos no mesmo intervalo de tempo.

No primeiro semestre deste ano, o número de mortes cometidas por policiais militares em serviço passou de 150 para 317, já os cometidos por policiais militares em folga caiu de 119 para 117. O pico do período foi em março de 2014, quando foram mortas 63 pessoas por policiais militares, contra 15 em março de 2013, o número mais baixo do semestre.



A comparação entre os índices de letalidade dos PMs nos primeiros semestres de 2013 e de 2014 no Estado de São Paulo põe em dúvida a eficácia da resolução nº 5 da Secretaria da Segurança Pública paulista, determinada pelo chefe da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, em janeiro de 2013. De acordo com a recomendação, a polícia não deve mais socorrer feridos nas ruas e deve aguardar atendimento especializado de setores da saúde (Samu ou Corpo de Bombeiros, por exemplo).

Extraoficialmente, a resolução nº 5 é tratada pelas cúpulas das polícias Militar e Civil, e também da Segurança Pública, como uma tentativa de evitar mortes suspeitas cometidas por policiais e também de que as cenas dos supostos tiroteios envolvendo agentes das forças de segurança fossem alteradas pelos envolvidos para dificultar a realização de perícia.

Em entrevista o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, atribuiu o aumento da letalidade policial à alta no número de roubos. Para ele, o aumento do número de roubos, um fenômeno nacional, favorece a ocorrência de confrontos entre supostos criminosos e policiais, o que justificaria o crescimento de mortos pela polícia.

PMs mortos
O índice de mortes de PMs no Estado de São Paulo também subiu neste ano. De janeiro a junho de 2013, foram 33 PMs mortos (no trabalho e na folga). Neste ano, já são 44 mortos. O aumento da letalidade contra os PMs foi de 33% na comparação entre os dois primeiros semestres.

Enquanto no primeiro semestre de 2013, São Paulo teve 1 PM morto a cada 5 dias, em 2014, esse número está em 1 PM morto a cada 4 dias.

Histórico de letalidade da PM de São Paulo
A Polícia Militar matou 10.152 pessoas entre julho de 1995, quando a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo passou a divulgar dados estatísticos sobre a violência no Estado, e abril deste ano.

Nesses 19 anos, foram 8.277 mortes provocadas por PMs durante o trabalho de policiamento e outros 1.875 casos fora do serviço oficial – a maior parte em “bico” (serviço extra-corporação) de segurança particular ou em situações como brigas de trânsito, de bar, entre vizinhos, crimes passionais etc.

No mesmo período, houve 1.159 mortes de PMs, estivessem eles em expediente oficial (475 mortos) ou fora dele (684 mortos).

Em suas estatísticas oficiais, a Segurança Pública não revela quantas pessoas foram mortas por PMs na folga ou quantos PMs foram mortos quando não estavam em serviço.

Essa distorção faz, por exemplo, que índices de letalidade policial como os de março e maio de 2013 fiquem totalmente fora do conhecimento público. Nesses dois meses, o total de mortos por PMs de folga foi maior do que as mortes cometidas por PMs no horário de trabalho oficial.

Em março, foram 26 mortos por PMs de folga contra 15 mortos em serviço. Maio de 2013 teve 24 na folga e 17 no trabalho oficial.

No ano passado, a guerra nas ruas de São Paulo deixou 302 mortos entre PMs (33) e civis (269), de janeiro a junho. Média diária de 1,6 mortos ou 50 a cada mês.

Em 2014, já são 478 mortos (434 civis e 44 PMs). A média diária está em 2,6 mortos; a mensal está em 79,5 mortos. No comparativo com os 6 primeiros meses de 2013, houve aumento de 58% nessa guerra entre PMs e civis no Estado.

Por André Caramante, na Ponte Jornalismo

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