Marina: a nova direita e a restauração conservadora no Brasil
Por Emir Sader
A direita brasileira parece aprender do seu passado e se dar
conta de que de um
labirinto se sai por cima, embaralhando de novo as cartas do
jogo. Quando
fracassou seu projeto com Fernando Collor, se atribuiu a
Roberto Marinho à
afirmação de que ele seria o ultimo candidato da direita que
eles conseguiriam
eleger. Foram buscar alguém no outro campo – FHC – para
retomar, por outras vias
o mesmo caminho
Demorou um tanto até que a direita se desse conta de que a
polarização entre
seus governos neoliberais e os governos do PT era uma via de
derrota. Depois de
três reveses, quando se configurava um quarto, apareceu a
possibilidade de sair do
labirinto em que se havia metido, com uma candidatura de
risco, mas com maiores
possibilidades de vitória – a de Marina.
Marina apresenta todas as ambiguidades de fenômenos
recentes: ONGs,
reivindicação da “sociedade civil” contra o Estado,
promiscuidade com o
empresariado, teses ecológicas nunca formuladas como
estratégia. Com origem
pessoal popular, politica no PT, ela apresenta as melhores
condições para o
surgimento de uma nova direita no Brasil.
Suas definições sao pouco ambíguas: Neca Setubal coordenando
seu programa de
governo. Isso mesmo! Nao so membro da família Setubal, como
membro das
instâncias diretivas do banco, se encarrega do programa da
Marina. Para
complementar, os gurus Eduardo Gianetti da Fonseca e Andre
Lara Rezende. Um
liberal e outro um neoliberal reconvertido às teses verdes.
Marina não escondeu a incorporação dessas teses: Banco
Central independente, o
objetivo de “tirar o PT e o bolivarianismo” do governo, nas
suas próprias palavras.
Além dos silêncios significativos sobre o fundamental dos
governos do PT, como
forma de expressar seu antagonismo: a prioridade das
politicas sociais, a politica
externa soberana, o resgate do papel ativo do Estado.
O pacote está pronto para ser vendido o velho como novo, o
oligárquico como
democrático, o antipopular como popular. A roupagem liberal
nem trata de
esconder seus traços: o anti-estatismo é sua bandeira
central. A tal da sociedade
civil, eixo da oposição ao Estado, tem no Itau e nos
ideólogos liberais, seus
esteios. Sociedade civil mal disfarça o mercado.
A nova direita vai ganhando forma. O objetivo que os une é
tirar o PT do governo,
da forma que seja. Alguns apresentam objeções, pelo evidente
aventureirismo da
empreitada: o Estadão, a Veja. A mão do serrismo aparece nos
dossiês que
começam a circular – sobre o avião em que morreu Eduardo
Campos – e em outros
que vão circular. Mas a polarização está projetada: Marina
contra Dilma.
É o que em outros países da região se denomina de
recomposição conservadora,
como forma de enfrentamento a todos os avanços dos governos
posneoliberais. No
Brasil tem numa figura popular, que se apresentou como
alternativa às formas
tradicionais de fazer politica e que busca retomar dialogo
com os jovens das
manifestações de junho de 2013, como sua cara. Uma vez mais
a direita teve que
buscar no campo originalmente oposto, seu candidato.
Tudo contra a Dilma, o Lula e o PT. Esse o lema que orientou
desde o começo a
direita na campanha atual. Sobem a essa candidatura seguros
de que, se chegarem
a ganhar, Marina vai depender deles – das suas bancadas
parlamentares, da mídia
– e, como a entrega da coordenação do programa a Neca
Setubal nao deixa
nenhuma ambiguidade, Marina está disponível para ser
tutelada. E pelo capital
especulativo!
Como em outras circunstâncias históricas, as manipulações
ideológicas podem
fazer passar a imagem de um dirigente politico representando
o oposto do que
efetivamente representa. No XVIII Brumario de Luis
Bonaparte, Marx já revelava
esses mecanismos.
Ninguem que se creia minimamente progressista, de esquerda
ou simplesmente
democrático, pode apoiar a nova alternativa da direita. Ao
contrário, tem que
denunciá-la e se mobilizar ativamente – como se fez contra o
Serra no final da
campanha de 2010.
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