Diretora-geral do FMI sob investigação em caso de fraude multimilionária



Christine Lagarde é investigada por favorecer Bernard Tapie, empresário amigo de Sarkozy, na venda da marca Adidas, enquanto era ministra das Finanças do governo francês. A diretora-geral do FMI recusa demitir-se do cargo na instituição.

Christine Lagarde, atual diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), disse nesta quarta-feira que está sob investigação formal da Justiça francesa por "negligência" na condução de um caso de fraude multimilionária enquanto era ministra das Finanças durante o governo do presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012).
Lagarde disse que instruiu os seus advogados a apelarem da decisão, a qual a chefe do FMI considera “totalmente sem méritos”. Questionada sobre se pretendia pedir afastamento de diretora-geral do FMI, disse que "não" e que estava a caminho de Washington para fornecer aos economistas do Fundo todas as informações necessárias.

“A comissão investigadora do Tribunal de Justiça da República da França decidiu colocar-me sobre investigação formal”, disse a economista à agência AFP. A declaração vem um dia após o caso de Lagarde ter sido apreciado por um tribunal especial francês, o único competente para julgar a ação de ministros e ex-ministros no exercício do cargo público.
No sistema francês, ser alvo de investigação formal é o equivalente a ser réu em processo judicial e acontece quando o juiz competente decide que o caso precisa de uma resposta da Justiça. Nem sempre, no entanto, a investigação é levada a tribunal para ser julgada.
Venda da Adidas
Conhecido como “caso Tapie”, o processo no qual a diretora-geral do FMI é ré procura esclarecer se foi ou não legítima a forma como a então ministra das Finanças providenciou o pagamento de 400 milhões de euros em indemnização ao empresário Bernard Tapie, um antigo ministro de François Miterrand e amigo de Sarkozy.
O pagamento multimilionário está ligado a uma disputa entre o empresário e o banco Crédit Lyonnais, gerido parcialmente pelo Estado francês, sobre a venda da marca desportiva Adidas, em 1993. Tapie alega que o banco atuou de forma fraudulenta ao depreciar intencionalmente o valor da empresa no momento da venda. Dessa forma, o governo francês, como principal acionista do banco, deveria indemnizá-lo.
Em vez de deixar o caso seguir a sua tramitação ordinária na Justiça comum, a ministra optou, em 2007, por recorrer a um tribunal de arbitragem, que acabou por decidir pela indemnização milionária. A opção de Lagarde causou forte polémica em França, sob acusações de que o presidente Nicolas Sarkozy teria pressionado a ministra para favorecer o empresário, em troca do seu apoio nas eleições.
“Depois de três anos de processo, a única alegação que resta é de que, por desatenção, eu posso ter deixado de bloquear o tribunal arbitral que pôs fim ao longo caso Tapie”, disse Lagarde à AFP.
Além de Lagarde, também estão sob investigação por corrupção os juízes que faziam parte do tribunal de arbitragem e o próprio Bernard Tapie.
Artigo publicado por Opera Mundi

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