Como uma boa notícia como a da inflação se transforma em duas más notícias
A taxa de inflação de julho foi a menor nos últimos quatro anos.
Esta é, claramente, uma boa notícia para o Brasil. Você diariamente lê e ouve informações apocalípticas sobre a inflação.
E os brasileiros sabem o que inflação significa. Nos dias de Sarney – e de Mailson, hoje transformado em professor de economia em colunas e artigos na mídia – a inflação chegou a 80%.
Ao mês.
De novo: aquela é uma boa notícia.
Como você faz para lidar com ela, se você gostaria secretamente que a taxa disparasse para usar isso contra Dilma?
Um giro breve pela imprensa me mostrou, ou me confirmou, que há dois caminhos.
O mais simples é ignorar, e torcer para que o leitor não perceba e não se sinta prejudicado pela desinformação.
Foi o que a Veja fez em seu site.
O segundo é embrulhar a boa notícia cuidadosamente em duas más notícias.
Foi o que o Jornal da Globo fez.
Ali está dito, logo na primeira linha, que o que fez a inflação baixar foram os juros altos e a baixa taxa de crescimento.
Dois fatos negativos – juros altos e crescimento baixo – obliteram a informação positiva.
Isso quer dizer que você fica sem possibilidade de ser elogiado no campo da inflação.
Se ela sobe, você é o responsável. Dilma e equipe, quero dizer.
Se ela desce, você não tem mérito nenhum. É culpado, na verdade, pelas coisas ruins associadas à boa notícia. No caso, os juros altos e o baixo crescimento.
E note: controlar a inflação sempre se fez exatamente assim. Você eleva os juros, e isso diminui o consumo porque o crédito fica mais caro.
Menos consumo significa menos inflação. E menos crescimento, também.
Quando, num momento de desconcertante franqueza, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares”, estava se referindo exatamente a isso.
Foi aplaudido pela plateia.
E na hipótese de fazer isso como presidente, caso se eleja, em algum momento aparecerá a notícia de uma baixa taxa de inflação.
A Veja não a omitirá. O Jornal da Globo não fará ressalvas.
Essa a diferença.
O público das grandes empresas de jornalismo é constantemente manipulado.
A sorte, para a sociedade, é que a internet oferece hoje um contraponto.
Ou seríamos todos, ou quase todos, manipulados.
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