Blindagem midiática: um grande trunfo de Alckmin


Antônio David
Na Carta Maior

Entre os dias 26 e 28 de julho, o Ibope realizou pesquisas de intenção de voto
para governador e senador em SP, MG, RJ, PE e DF.
Os principais resultados foram amplamente divulgados pela imprensa. Nesse
artigo, pretendo chamar a atenção para pontos pouco divulgados da pesquisa
referente a SP. Nos próximos dias, traremos análises das pesquisas referentes ao
RJ, MG, PE e DF.

Perfil - Antes de mais nada, convém averiguar o perfil do eleitor paulista: 33% dos
entrevistados pertencem a famílias com renda de até 2 salários mínimos; 42%
pertencem a famílias com renda de 2 a 5 salários mínimos; apenas 18%
declararam ter renda familiar acima de 5 salários mínimos. 7% não responderam.
Vê-se, portanto, que a grande maioria é composta de trabalhadores. Esse é o dado
óbvio. O que talvez não seja óbvio, considerando que 75% dos eleitores situam-se
nas faixas de renda até 5 salários mínimos, é o fato de que a maioria destes
trabalhadores são pobres, com o agravante de que parte importante vive em
metrópoles, onde o custo de vida é maior e a inquietação e insatisfação com os
serviços públicos igualmente pesa mais.
Intenção de voto - Na pesquisa espontânea (em que não são apresentados nomes
aos entrevistados), Alckmin conta com apenas 16% das intenções de voto. Padilha
e Skaf figuram com 2% cada. 62% afirma não saber em quem votar. Entre as
mulheres, a indecisão atinge 68%. E entre os mais pobres, com renda até 2
salários mínimos e de 2 a 5 salários mínimos, 68% e 65%, respectivamente. Os
resultados da pesquisa estimulada foram apresentados pelo próprio Ibope na forma de
gráfico.
Entre os paulistas com renda familiar até 2 salários mínimos, 34% pretendem votar
em Dilma, contra 18% em Aécio. Já entre os que compõem famílias com renda de 2
a 5 salários mínimos, a petista tem 29% contra 25% para o tucano.
A rejeição a Alckmin, segundo o Ibope, está na casa dos 18%. Padilha tem 19% de
rejeição e Skaf, 13%. Porém, entre os eleitores com renda até 2 salários mínimos,
a rejeição é baixa: Alckmin, Padilha e Skaf são rejeitados por 14%, 13% e 13%. Já
entre os eleitores com renda acima de 5 salários mínimos, 25% afirmam não votar
de jeito nenhum em Alckmin, 27% não votariam de jeito nenhum em Padilha e
13% não votariam de jeito nenhum em Skaf.
Senador - Na pesquisa espontânea para senador, Suplicy e Serra empatam com 4%
cada. 73% não sabem em quem votar.
Já na pesquisa estimulada, entre os que pertencem a famílias com renda até 2
salários mínimos Serra tem 30% contra 18% de Suplicy; já entre aqueles com
renda de 2 a 5 salários mínimos, 30% declaram votar em Serra contra 25% em
Suplicy. 20% afirmam não saber em quem votar, e 14% pretendem votar em
branco ou nulo, também com forte concentração entre os mais pobres: entre os
que têm renda familiar até 2 salários mínimos, 22% estão indecisos e 15%
pretendem anular o voto ou votar em branco.
Interesse e avaliação do governo - A pesquisa do Ibope traz informações preciosas
sobre o interesse pela eleição e acerca do governo Alckmin. Tratam-se de dados
que ajudam, se não a esboçar tendências eleitorais, ao menos relativizar as
tendências ventiladas pela imprensa como líquidas, certas e imutáveis.
Enquanto apenas 18% dos entrevistados afirmam ter muito interesse na eleição e
22% afirmam ter interesse médio, expressivos 27% e 31% afirmam ter pouco
interesse ou nenhum interesse, respectivamente, somando 58%. 2% não
responderam. Entre os jovens, com idade entre 16 a 24 anos, o desinteresse
atinge 62%. E entre os que têm renda familiar até 2 salários mínimos, 66%, muito
superior ao desinteresse dos que têm renda acima de 5 salários mínimos, na casa
dos 41%.
No tocante à avaliação do governo Alckmin, 38% consideram-no regular. 34% e 6%
avaliam o governo com bom e ótimo, respectivamente, totalizando 40%, enquanto
apenas 8% e 11% dizem achar o governo ruim e péssimo, respectivamente,
totalizando 19%. Esse resultado mantém-se basicamente inalterado em todas as
faixas de renda, níveis de escolaridade e faixas etárias. As variações são
irrelevantes.
55% afirmam aprovar a maneira como o governador vem administrando, contra
45% que afirmam desaprovar. E, face à pergunta "E o(a) sr(a) confia ou não confia
no Governador Geraldo Alckmin?", os eleitores dividem-se pela metade: 46%
confiam, contra 45% que não confiam. Para esses dados, as variações são
igualmente pequenas entre faixa de renda, escolaridade e faixa etária.
A maior preocupação dos paulistas é a saúde. 45% afirmam que essa é a área na
qual a população está enfrentando os maiores problemas. Em segundo lugar, com
15%, aparece educação. E, em terceiro lugar, com 9%, a tão discutida segurança,
pouco à frente do abastecimento urbano, com 7%. Entre os mais pobres, a
distância entre os percentuais é maior. Entre os que têm renda familiar acima de 5
salários mínimos, saúde figura com 30%, contra 24% para educação e 14% para
segurança - o que leva a crer que, entre famílias com renda superior a 10 salários
mínimos (os chamados "formadores de opinião"), a preocupação principal talvez
seja outra.
No tocante à avaliação do governo Dilma, 30% dos paulistas consideram-no
regular, 21% e 4% avaliam-no como bom e ótimo, respectivamente, ao passo que
15% e 29% avaliam-no como ruim e péssimo, respectivamente. Entre os mais
pobres, os percentuais aproximam-se destes. Entre os mais ricos, é ainda maior a
avaliação negativa. 60% desaprovam a maneira como Dilma vem governando.
Conclusão - O quadro eleitoral em São Paulo é claramente favorável ao PSDB. Além
de uma máquina eleitoral fortíssima, composta de prefeitos e vereadores em todo
o Estado, conta a favor do atual governador e candidato à reeleição o peso do voto
do interior, onde os problemas são menores do que nas metrópoles. Porém, é,
sobretudo, na imagem pessoal de homem honesto, simples e trabalhador que
reside o grande trunfo de Alckmin.
Essa imagem deve-se em grande medida à imprensa, que blinda o governador,
mesmo nos raros momentos em que critica o governo. Não é preciso dizer que o
apoio da imprensa não só pesa de maneira determinante na imagem pessoal do
governador, como tem algum peso tanto na avaliação do governo Dilma e nos
dados atuais de rejeição.
Que trunfos teria o PT? Além do peso dos eleitores com renda familiar até 5
salários mínimos, onde o partido e algumas de suas figuras públicas (como Lula e
Marta) têm influência e a indecisão ainda é grande - esse é, aliás, o trunfo de
Suplicy -, resta saber se a passagem de Padilha pelo ministério da saúde e a marca
de pai do programa Mais Médicos será um trunfo a favor do petista.
Entretanto, o principal dos trunfos de Padilha talvez resida em um dado que a
pesquisa não aferiu. A população sabe o que faz o governador? Sabe qual é o
papel do governador no que diz respeito à saúde, à educação, à segurança, ao
transporte e ao abastecimento? Sobretudo os mais pobres, que decidirão a eleição,
associam os problemas ao governo e o governo ao governador? Pesquisas
anteriores mostram que, se a desinformação é grande no tocante a presidente e
prefeito, quando o assunto é governo de Estado e atribuições do governador, a
desinformação reina.
A disputa para o governo do Estado em SP será decidida entre o esforço (tucano)
para que predomine uma imagem pessoal contra o esforço (petista) em associar o
homem ao cargo e o cargo aos problemas. Aliás, um esforço conjunto, posto que a
campanha turbinada de Skaf terá como alvo menos o governo do que o governador.
E por falar em Skaf, resta saber se há espaço para uma terceira via. As últimas
eleições em SP têm repetido o quadro nacional, marcado pela tradicional
polarização entre PT e PSDB. Nas últimas três eleições, o PT não teve menos de
30% dos votos no primeiro turno. Por outro lado, nos últimos pleitos estaduais não
havia uma candidatura com a força da candidatura Skaf, que terá mais tempo de
TV do que o atual governador. Conseguirá Skaf empurrar a eleição para o segundo
turno? E, em havendo segundo turno, terá Skaf fôlego para que o adversário de
Alckmin seja ele e não Padilha? Só a campanha dirá.

Fonte: Ibope

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