As ligações de Marina coma família Setubal?


Por José Carlos Peliano(*)

A morte trágica e prematura de Eduardo Campos mudou o cenário político nacional
para a próxima eleição presidencial. Aparentemente sua saída abrupta da disputa
trouxe sua vice à tona com chances de aumentar o percentual de votos da antiga
dupla.
Aparentemente por que? Porque há muitas coisas em jogo a partir de agora que
tanto podem realmente ajudar na contagem de intenções de voto, quanto, ao
contrário, podem embaralhar os lances de uma tal maneira que, ao final, suas
chances de boa performance podem acabar apenas em solenes intenções.

Começando pelo início, como convém, o que sugere o apoio integral da família
Setúbal, leia-se banco Itaú Unibanco, a campanha de Marina? A amizade antiga
deu lastro à continuidade da relação entre a candidata e a família, em especial
Maria Alice, herdeira. Agora no programa eleitoral, trazendo-a para mais para
perto, exatamente na coordenação financeira da campanha.
A princípio, nada contra, não fosse por uma relação de amizade com política e,
certamente, com compromissos de ambas as partes. E as intenções da candidata
reveladas muitas vezes em suas aparições públicas não são nem de longe as
mesmas do grupo bancário.
O maior banco privado brasileiro, o Itaú Unibanco, teve um lucro líquido de quase
R$ 16 bilhões em 2013, 15,5% a mais que no anterior. Sua pujança financeira e
seu poder de mercado não vão deixar barato o apoio incondicional à candidata.
Se Marina lograr o paraíso, o banco vai querer continuar no topo, abarcar mais
praças e negócios, servir de constante termômetro da situação da economia e
influenciar diretamente as políticas monetária, cambial e fiscal. Como um cão de
guarda e de caça.
Outro amigo antigo e companheiro de ideias, Walter Feldman, de passagens pelo
PC do B, PMDB, acabou seguindo viagem na fundação do PSDB e ainda por lá.
Também amigo de José Serra, ele se tornou o coordenador adjunto de campanha
da candidata.
Erundina, política discreta e respeitada, é nominalmente a coordenadora, mas,
desde sempre, todos nós, querendo ou não, sabemos que, ao fim e ao cabo, a
amizade, ou quem indica, pesa mais que o conhecimento. E aí, as cartas serão
dadas por quem?
Outro nome que chegou do exterior para formar a equipe é André Lara Rezende,
sim, aquele mesmo, um dos formuladores do Plano Real no governo de FHC. Amigo
deste, hoje banqueiro também, dá as mãos à candidata para traçar e planejar o
meio ambiente da economia brasileira no plano de governo do PSB/Rede.
Mas nem tudo o que cai na rede é peixe. Como visto até aqui, três dos principais
pilares da equipe da candidata não têm cheiro de povo. O mesmo cheiro que
incomodava Figueiredo, o militar feito presidente. O cheiro é outro, vem de outro
grupo amigo e apoiador, a Natura.
Ela foi classificada pela Revista Exame entre as 20 maiores e melhores empresas
do País em 2014, especialmente entre aquelas que pagaram mais dividendos por
suas ações. Além disso, juntamente com o banco Itaú Unibanco, a empresa está
entre as três consideradas de melhor reputação no exterior.
A ex-senadora, professora e ambientalista traz para montar seu programa de
governo, entre outros e outras, a nata dos bancos brasileiros, uma filha de um dos
maiores banqueiros brasileiro, um banqueiro ex-arquiteto do Plano Real e uma
companhia das 20 mais importantes do Brasil. Ambientalistas, seringueiros e
seringais combinam com capitalismo?
De boas intenções, já diziam nossos avós, o inferno está cheio. Não combinam os
ideais e ideias da candidata, aquariana, com os propósitos e os fins de banqueiros
e empresários, contadores de juros e lucros, pelo menos para o senso comum. Ou
será que outros sensos estão por trás dessa empreitada?
A única coisa em comum entre a candidata e seus auxiliares mencionados é a
Academia. Todos passaram por universidades. Os campus universitários os
prepararam para chegar até aqui. Experimentaram aulas, livros e debates, mas só
puseram as mãos na massa mais tarde, ao contrário, entre tantos, milhões, de
seringueiros, trabalhadores sem terra, trabalhadores sem teto, trabalhadores rurais
e urbanos, .
Numa situação antagônica como essa, ideais de sustentabilidade de um lado
versus interesses objetivos de rentabilidade de outro, nem as sagradas escrituras
ajudam. Nada contra o ganho econômico e financeiro, nem contra a proteção do
meio ambiente. Ocorre que as duas pontas da corda não se juntam, cada um puxa
para o seu lado. A realidade brasileira é rica em situações como essa.
É do ar do campus que vem as ideias do programa da candidata. Não do ex-cabeça
de chapa tragicamente morto. Mas do campus onde todos os sonhos se formam e
se mostram possíveis, até que levam tropeços e tapas da realidade.
É das ruas, dos grotões, dos becos, dos canaviais, dos barracos debaixo das
pontes. Da luta diária entre acordar de madrugada para ir ao trabalho e chegar à
noite para dormir pouco e recomeçar tudo de novo dia seguinte. É desse mundo
que um programa de governo, dito sustentável, deve contemplar e tirar umas de
suas principais guias de norteamento.
O apoio político que o partido hoje da candidata, o PSB, pode lhe dar é reduzido no
Congresso Nacional e fora dele. Somados 4 governadores, 4 senadores e 37
deputados federais, todos eles juntos não fazem verão. Será que verão coerência
no programa de governo em elaboração com banqueiros e empresários tomando
conta para falar de sustentabilidade? O que a história do partido deles tem a dizer
sobre isto?
A aproximação da candidata com o PSDB traz de volta para a cena política nacional
os criadores do Plano Real. Um plano feito para ganhar tempo e enrolar meio
mundo, fazendo definhar muitos investimentos e riquezas com uma das maiores
desvalorizações já feitas da moeda nacional. Para não dizer das privatizações, mal
vistas e pouco investigadas até hoje.
A proposta de governo da candidata será para dar sustentabilidade a isto? Se for,
os ambientalistas podem se rebelar e dar sustentabilidade a outro programa, a
outra proposta.

(*) Economista

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