Terá Sarkozy encontrado seu Waterloo?
Flávio Aguiar
O ex-presidente Nicolás Sarkozy foi indiciado em investigação judicial, acusado de tentativa de suborno e abuso de poder, junto com seu advogado Thiery Herzog.
O ex-presidente Nicolás Sarkozy foi indiciado em investigação judicial, acusado de tentativa de suborno e abuso de poder, junto com seu advogado Thiery Herzog e mais um juiz francês. A acusação se refere à investigação sobre o financiamento de sua campanha de 2007, quando ele teria recebido contribuições secretas, até mesmo do ex-presidente líbio Muhammar Ghadaffi. Sarkozy e seu advogado teriam, segundo a acusação, tentado subornar o juiz encarregado daquele caso em troca de obtenção de um posto elevado na carreira.
Sarkozy foi detido pela polícia durante 15 horas e levado à presença do juiz encarregado desta nova investigação para interrogatório. Terminado este, o juiz decidiu que havia elementos suficientes para abrir a investigação oficial. As condenações, caso os réus sejam de fato processados e considerados culpados, podem chegar a dez anos de prisão.
O processo é um golpe político duro para o ex-presidente, que vinha preparando seu retorno à política, possivelmente candidatando-se à sucessão de François Hollande. A popularidade deste está em baixa, e, por outro lado, não surgiu nenhuma liderança capaz de sobrepor-se à do ex-presidente no seu partido, UMP – União por um Movimento Popular – fundado em 2002 com a fusão de correntes de direita e centro-direita.
Com a ascensão da Frente Nacional, de extrema-direita, e de sua líder, Marine Le Pen, no cenário político francês, Sarkozy vinha fomentando a ideia de ser ele o único político capaz de se contrapor a esta verdadeira “ameaça”. Que Marine Le Pen e sua FN sejam uma ameaça, todos – exceto, naturalmente, seus partidários e simpatizantes em outros países – concordam. Inclusive este articulista.
Marine Le Pen e seu pai – o controverso fundador da FN, Jean-Marie Le Pen – acabam de tomar posse como deputados no Parlamento Europeu, e são reputados os líderes mais fortes do possível bloco de extrema-direita, formado pelos chamados anti-União Europeia e eurocéticos, em Estrasburgo, sede do Legislativo continental. Já marcaram presença na terça-feira, data da posse da nova legislatura, permanecendo sentados, enquanto os demais se levantavam, durante a execução da peça musical “Ode ao Júbilo”, de Ludwig van Beethoven. Outros membros da extrema-direita europeia se levantaram, mas deram as costas para o assento da presidência da casa.
Se a eleição francesa fosse hoje, é possível que Sarkozy ou outro candidato de direita chegasse ao segundo turno, para disputá-lo com Marine Le Pen, eliminando François Hollande. E faz parte da campanha pró-Sarkozy, que teria de reconquistar a liderança da UMP, a ideia de que qualquer outra candidatura, inclusive de seu partido, seria derrotada por ela.
Agora o embrulho do pacote ganhou um novo nó. Tudo pode depender da recuperação do atual presidente nas intenções de voto.
Um outro componente que vem sendo apontado em análises mais recentes é o de que o caso representa um aperto no cerco da polícia e da receita fiscal de nações europeias sobre o financiamento irregular de campanhas eleitorais. A campanha de Sarkozy de 2012 também está sob investigação, embora nada de suspeito tenha sido levantado até o momento. Neste tipo de investigação a novidade foi a decisão de deter o ex-presidente e de levá-lo, digamos, “à força” até a presença do juiz.
Até então, como seguidamente aconteceu, por exemplo, no caso das acusações e até condenação de Silvio Berlusconi, na Itália, o procedimento era de intimar o acusado ou investigado e aguardar seu comparecimento espontâneo.
Por esta razão, Sarkozy alega que o procedimento e as acusações contra ele têm mais fundamento político do que jurídico, e nega ser culpado.
De todo modo, mesmo que no fim não seja condenado, o episódio pode marcar o Waterloo político do ex-presidente.
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