Santander, o banco do Opus Dei



Por Altamiro Borges

Em artigo postado na semana passada, intitulado “Alckmin abandonou o Opus Dei?”, havia uma menção ao Banco Santander, que agora ganhou notoriedade na mídia devido às denúncias do seu envolvimento na escalada de pessimismo econômico para fustigar a presidenta Dilma Rousseff. O texto lembrava que esta instituição espanhola, que hoje ocupa o quinto lugar entre os bancos no Brasil, sempre manteve sólidas ligações com a seita conservadora Opus Dei. Neste sentido, a sua militância política não é de se estranhar – apesar de ser ilegal. Num jogo de esperteza política, o Santander até doa dinheiro para distintas campanhas eleitorais, mas nunca abdicou das suas posições direitistas – na Espanha ou no Brasil!


O artigo citado aponta que “durante os seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais... A seita acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 1990, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e a empresa de petróleo Repsol, têm no seu corpo gerencial adeptos do Opus”.

Outro artigo que desmascara o papel político do Santander foi publicado em janeiro de 2012 no jornal Folha Universal – que é mantido pela Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e não escamoteia as suas diferenças com a Igreja Católica. Ele apresenta inúmeros dados que comprovam que “dirigentes do banco espanhol Santander, um dos dez maiores do mundo, têm relacionamento estreito com o Opus Dei, a ala ultraconservadora do Vaticano”. O banco foi fundado em 1857, no norte da Espanha, na cidade que lhe emprestou o nome. “Depois, comprou outras instituições financeiras daquele país até chegar à capital, Madri, em 1942, já sob o comando da família Botín, que tem ligação histórica com o Opus Dei”.

“Nas mãos dos membros dessa discreta organização católica, o banco cresceu bastante no período do fascismo espanhol, liderado pelo ditador Francisco Franco (1892-1975), com o qual líderes da Opus Dei também tiveram laços estreitos. Na década de 1960, ele passou a expandir seus negócios, começando pela América Latina... Na década de 1990, já como o maior banco na Espanha, fortaleceu sua atuação no Brasil ao comprar os bancos Noroeste, Meridional e depois, em 2000, o Banespa. Em 2008, o processo de expansão continuou com a aquisição do Banco Real. Assim, o Santander tornou-se o terceiro maior banco privado do País, com cerca de 21,4 milhões de clientes”.

A família Botín comanda o Grupo Santander desde 1920. A partir de 1986, a presidência do banco passou a ser exercida por Emílio Botín Sanz de Sautuola y García de los Ríos. “Vários parentes ocupam cargos de direção. Para ter maior inserção nos círculos do poder, o Santander costuma financiar integralmente jovens que fazem cursos em universidades ligadas ao Opus Dei, onde serão ‘catequizados’. O banco chegaria até a pagar os estudos de parentes de juristas, políticos, donos e diretores de meios de comunicação. Para se ter ideia da influência do Opus Dei, o jornalista Alberto Dines, em texto no ‘Observatório da Imprensa’, diz que há mais de 200 editores a serviço da organização na imprensa brasileira”.

Graças a este poder, um diretor do Santander ligado ao Opus Dei chegou a dirigir o Instituto para as Obras Religiosas (IOR), o famoso Banco do Vaticano. “Responsável pela instituição que controla as contas das ordens religiosas e de associações católicas desde 2009, Ettore Gotti Tedeschi foi diretor do Santander na Itália durante 17 anos, antes de ser nomeado, por um conselho de cardeais, presidente do Banco do Vaticano. Ele também foi colunista do “L’Osservatore Romano”, o jornal do Vaticano, e professor de ética empresarial da Universidade Católica de Milão. Na instituição financeira oficial da Igreja Católica, Tedeschi virou réu num processo que envolve mais de 23 milhões de euros” de sonegação fiscal.

O artigo ainda lembra que a poderosa família Botín também enfrenta problemas com o fisco. “Na Espanha, o banco Santander é investigado por fraudes. Emilio Botín e integrantes de sua família são alvos de um inquérito por suspeitas de fraude fiscal e de falsificação de documentos, que teriam ocorrido entre 2005 e 2009. Apesar do processo ainda estar em andamento, o Santander informa que já disponibilizou voluntariamente 200 milhões de euros, em 2010, para a Fazenda Espanhola regularizar a situação de todos os membros da família Botín, que estariam envolvidos em processos com o fisco suíço”. Já no Brasil, o banco espanhol é um dos campeões de queixas dos consumidores.

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