CUIDADO COM A FRACASSOMANIA

Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

Quando faltam dez semanas para eleição, não faltam vozes interessadas em esconder o que é bom e piorar o que está ruim -- até na Seleção

O debate sobre os destinos do futebol brasileiro pode até ser necessário mas não vale exagerar na fracassomania.  
Se a derrota por  7 a 1 para a Alemanha é uma lembrança trágica, merecida, o quarto lugar depois dos 3 a 0 contra a Holanda não pode ser visto como uma traduçao daquilo que se viu em campo.

Se a FIFA tivesse indicado um juiz mais preparado para o jogo, com uma disposição real de seguir cada passo da partida, o resultado teria sido mais apertado. Mais: se futebol fosse uma partida resolvida na ponta do lápis – nós sabemos que não é --  quem sabe o Brasil poderia teria saído vencedor.
Parece absurdo, conversa de fanático  mas vamos ver: no primeiro gol, uma falta fora da área foi transformada em penalti. No lance do segundo, houve um impedimento que deveria ter parado a jogada.
Por duas vezes, o ataque brasileiro sofreu penaltis. Nenhum foi marcado.  
 Os erros do juiz não tornam o futebol brasileiro melhor. A Holanda foi melhor na partida, mas, levando em conta o que se passou nos primeiros dois gols, é preciso admitir que  isso também deve ser pesado. Qual o moral de um time que sofre um penalti e depois, um gol roubado, ainda no primeiro tempo? Como reagir diante de penaltis não marcados?
 Não acho que temos o melhor futebol do mundo. Certamente já tivemos seleções muito melhores.
Admito que os juizes da Copa erraram contra outras seleções e até contra o Brasil, em outras partidas.
Mas essa sequência de lances capazes de prejudicar uma equipe que chegou a disputar o terceiro lugar mostra que é preciso saber do que estamos falando.
 Futebol não é e nunca foi uma atividade científica. É possível sustentar – como faz o New York Times numa belíssima reportagem recente – que é uma forma empolgante de jogo de azar, tamanha é a quantidade de fatores aleatórios que interferem numa partida.
Estamos em plena guerra psicológica. O 3 a 0 foi um resultado triste e lamentável. Mas ignorar falhas tão gritantes que poderiam ter levado a outro resultado é prestar um desserviço aos jogadores, a torcida e ao país.
 Você sabe. Quando faltam dez semanas para uma eleição presidencial, não faltam vozes interessadas em esconder o que é bom e piorar o que já é ruim. 

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