Para entender os novos e brutais conflitos entre judeus e palestinos
Publicado originalmente na DW.
Após o sequestro e morte de três jovens israelenses na Cisjordânia, a tensão entre os dois lados não para de aumentar. A DW preparou um guia de perguntas e respostas sobre o assunto.
Qual é o motivo do aumento da tensão na região?
Em 12 de junho de 2014, três jovens israelenses foram sequestrados próximos a Hebron, na Cisjordânia. Segundo o Exército, os três estudantes de uma escola religiosa judaica – entre 16 e 19 anos – foram vistos pela última vez perto de uma estação de ônibus, na cercania de um assentamento judeu chamado Gusch Ezion, localizado no sudoeste de Belém.
Aparentemente, de lá, os jovens queriam pegar uma carona para chegar às suas casas. Por isso, teriam embarcado num veículo com placa israelense, cujos ocupantes teriam sequestrado e assassinado os estudantes. O Exército de Israel começou então uma missão de busca que, durante sua realização, levou à morte de seis palestinos inocentes. Após 18 dias, os corpos dos três jovens foram encontrados num campo, sob um monte de pedras, próximo da aldeia de Halhul, no noroeste de Hebron, na Cisjordânia.
Em qual contexto político o crime aconteceu?
No momento, as relações entre os governos israelense e palestino estão tensas. No final de abril, os líderes do Hamas e do Fatah anunciaram um governo de unidade nas regiões autônomas palestinas. Em 2 de junho de 2014, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, empossou o novo governo de unidade.
O governo provisório, com 17 ministros, é composto por especialistas que não pertencem nem ao grupo moderado Fatah, de Abbas, nem ao radical Hamas. Ao mesmo tempo, Abbas declarou que o novo governo vai reconhecer os acordos de paz assinados com Israel, que, por sua vez, critica a formação do governo palestino.
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que Abbas não poderia fechar um acordo de paz com Israel e, ao mesmo tempo, um com o Hamas, que convoca à destruição de Israel. O grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza, comparou Netanyahu com a rede terrorista Al Qaeda e acusou Israel de querer responsabilizar a Autoridade Palestina por ataques que vêm sendo realizados a partir da Faixa de Gaza.
O que se sabe sobre os responsáveis pelas mortes?
A identidade dos responsáveis pelas mortes dos três jovens judeus ainda não foi esclarecida. Um grupo jihadista desconhecido, que se declarou aliado do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, assumiu a responsabilidade pelo sequestro dos jovens. Outros grupos jihadistas também o fizeram, mas até agora nada está confirmado.
Israel culpa o grupo Hamas por ter sequestrado e assassinado os jovens. A liderança do Hamas não confirmou nem negou a responsabilidade pelo crime. Existe a suspeita de que um grupo teria tomado uma decisão unilateral de realizar o crime, sem o consentimento dos líderes do Hamas. O serviço secreto Schin Bet afirmou que identificou dois membros do Hamas, de Hebron, como autores do ataque. Ainda de acordo com a instituição, o paradeiro dos dois acusados é desconhecido.
O que são os assentamentos israelenses?
Os três jovens viviam em assentamentos na Cisjordânia, que surgiram nas regiões que Israel conquistou da Jordânia após a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Com isso, as edificações se localizam fora da chamada “Linha Verde”, que delimitou o território de Israel após a Guerra de 1949.
De acordo com informações da organização de direitos humanos israelense B’Tselem, no final de 2012 existiam na Cisjordânia 125 acampamentos reconhecidos por Israel. Além disso, há ainda cerca de 100 acampamentos, a sua maioria construídos por radicais religiosos e colonos nacionalistas, que não são reconhecidos pelo governo. No total, cerca de 515 mil israelenses vivem nestes assentamentos.
Qual é o status jurídico desses assentamentos?
O status jurídico desses assentamentos é controverso. A Organização das Nações Unidas (ONU) os consideram ilegais. A ONU reiterou, por meio da Resolução 66/78, de 12 de janeiro de 2012, que a construção dos assentamentos seria “uma violação do direito internacional”. Ainda de acordo com o texto, “os assentamentos israelenses na região palestina, incluindo Jerusalém Oriental, e na região ocupada de Golã, na Síria, são ilegais e representam um obstáculo para a paz e o desenvolvimento econômico e social”.
A base para esta avaliação é o artigo 49 da Quarta Convenção de Genebra, de 1949, que proíbe a transferência violenta de uma população civil para outro Estado. Por sua vez, Israel discorda dessa interpretação, alegando que, desde o fim do Império Otomano, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza nunca teriam sido parte de um Estado soberano, que a anexação da Cisjordânia pela Jordânia também não teria sido reconhecida internacionalmente e que, portanto, as definições da Convenção de Genebra não seriam aplicáveis a essa região.
Até agora, quais as consequências da morte dos três jovens?
Desde o sequestro e a morte dos três adolescentes, a violência dos dois lados aumentou. Durante as buscas realizadas pelo Exército israelense, seis palestinos morreram. Cerca de 420 palestinos foram presos, grande parte deles membros do Hamas. Um comentarista do jornal palestino Al Quds acusou Israel de impor uma “punição coletiva” aos palestinos.
Após o sepultamento dos jovens, o Exército israelense realizou ataques frequentes à Faixa de Gaza. De acordo com informações de autoridades de resgate palestinas, cinco pessoas morreram nos ataques. Israel justifica o procedimento dizendo ter que se defender de ataques provenientes da Faixa de Gaza. Da lá, nesta segunda-feira, cerca de 20 mísseis foram lançados em direção a Israel. Nesse meio tempo, o Exército de Israel reforçou suas unidades estacionadas na fronteira com a Faixa de Gaza.
A situação em Israel também se agrava. Na quarta-feira, um jovem palestinos de 16 anos foi morto em Jerusalém por desconhecidos. Netanyahu apelou às duas partes do conflito que não façam justiça com as próprias mãos. Para ele, a polícia tem que investigar com rapidez e esclarecer os motivos desse “crime abominável”. Em contrapartida, o Hamas anunciou retaliação por conta da morte do adolescente palestino.
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