O “volume morto” de Alckmin secou!




Por Altamiro Borges

O governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o seu jeito de “picolé de chuchu” – segundo a certeira ironia de José Simão – continua se fazendo de "volume morto" diante da grave crise de abastecimento de água em São Paulo. Para ele, tudo está sob controle e não há motivos para preocupação. Mas não é isso que revela o relatório do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) divulgado nesta sexta-feira (11). Apenas nos últimos quinze dias, o órgão recebeu 178 relatos de torneiras vazias na Grande São Paulo, uma média diária de 11,8 reclamações. Apesar de a Sabesp jurar que não há desabastecimento, o Idec garante que milhares de famílias já padecem com a falta crônica de água em suas casas.


Segundo Camila Maciel, da Agência Brasil, “o balanço parcial mostra que a falta d'água ocorre todos os dias, pelo menos uma vez, em 76% dos casos. Para 14% das pessoas que fizeram o relato, o racionamento é feito mais de uma vez por semana. Entre os demais consumidores, 4% indicaram que isso ocorre mais de uma vez por dia, 2% relataram a frequência de uma vez por mês e 1% mais de uma vez por mês. Sobre o turno mais comum para a falta d'água, a noite foi apontada por 74% dos consumidores pesquisados. Em seguida está o turno da manhã, com 16%. Para 13% das pessoas, o racionamento ocorre durante o dia e a noite e para 4%, ele ocorre somente à tarde”.  

Ainda segundo a jornalista, o Idec pretende agora cobrar maior transparência do governo Alckmin e exigir providências da Agência Reguladora de Saneamento de São Paulo. “Se o racionamento está mesmo ocorrendo, ele precisa ser feito de forma responsável, igualitária e transparente para toda a população”, realça o órgão. A cobrança, porém, não deve ter maiores efeitos. O PSDB, que governa o Estado há quase duas décadas, não admite seus graves erros de planejamento no setor e culpa Deus pela crise. Na prática, os tucanos tentam empurrar o problema para depois das eleições de outubro. Dane-se a população; o fundamental agora é garantir a reeleição de Geraldo Alckmin.

A jornalista Julia Duailibi, uma das poucas vozes críticas do jornal Estadão, já havia desmascarado o plano eleitoreiro dos tucanos. Em 10 de abril, ela revelou que “o Palácio dos Bandeirantes já definiu a estratégia que irá adotar caso haja rodízio de água, leia-se racionamento, antes da eleição de outubro: colocará a Sabesp na linha de frente do processo, atraindo os holofotes para a empresa e deixando na penumbra Geraldo Alckmin, candidato à reeleição... A política de redução de danos pretende deixar o governador como coadjuvante. É uma tentativa de evitar que, em plena campanha eleitoral, ele fique preso a uma pauta extremamente negativa para quem quer mais quatro anos de mandato”.
Nesta manobra eleitoreira, ele conta com a cumplicidade da mídia amiga. A crise de abastecimento no Estado mais rico do Brasil não é manchete dos jornalões e nem motivo das críticas iradas dos colunistas de rádio e tevê. Até lances demagógicos de Geraldo Alckmin, como a solenidade do uso do “volume morto” – a reserva estratégica do Sistema Cantareira –, recebem coberturas generosas da velha imprensa. Nesta semana, o tucano anunciou a transposição do rio Jaguari para abastecer a cidade de Campinas. A medida é questionada por técnicos do setor e pelas prefeituras dos municípios vizinhos, que terão seu abastecimento afetado, mas voltou a receber os holofotes bondosos da mídia.

Apesar destas manobras, a tendência é que a crise de abastecimento se agrave nas próximas semanas – conforme sinaliza o Idec. Já é tido como certo que o “volume morto” será insuficiente para cobrir a demanda de água na região metropolitana. A maior parte desta reserva estratégica já foi utilizada e o reservatório do Sistema Cantareira seca rapidamente. Com isto, o tucano Geraldo Alckmin poderá ver o seu “volume morto” sumir antes das eleições de outubro, com terríveis efeitos para sua campanha pela reeleição. Ele será obrigado a explicar as graves falhas de planejamento do seu governo na administração deste setor estratégico – como o seu choque de gestão virou uma indigestão!

Entre 2007 e 2011, por exemplo, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) deixou de investir R$ 815 milhões em melhorias nas redes de água e esgoto que estavam previstas em contratos de concessão assinados com 233 prefeituras paulistas. A grana economizada serviu para enriquecer os acionistas da empresa, mas agora cobra o seu preço com o desabastecimento. A falta de investimentos no setor foi um baita crime. Somente na capital paulista, metade da tubulação da Sabesp tem mais de 30 anos. O envelhecimento da rede é um dos principais motivos dos crônicos vazamentos de água, mas os governos tucanos nada fizeram para encarar este velho problema.  

Apenas no ano passado, a Sabesp perdeu 31,2% de toda a água produzida entre a estação de tratamento e a caixa d’água dos consumidores em função destes vazamentos. O índice representa cerca de 950 bilhões de litros – quantidade equivalente a quase todo o “volume útil” do Sistema Cantareira, que tem capacidade para 981 bilhões de litros. Geraldo Alckmin conhece estes dados, fornecidos pela própria Sabesp. Mesmo assim, o governo tucano reduziu os investimentos na ampliação do sistema e na manutenção das redes. Ou seja: o PSDB é um “volume morto”!

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