O fraco rei faz fraca a forte gente
Autor: Fernando Brito
“Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei f az fraca a forte gente.
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei f az fraca a forte gente.
Os Lusíadas , Luís de Camões, canto III, 138
Um fraco rei faz fraca a forte gente.
Que frase melhor para definir o que se passou com o comando do time – e o time – brasileiro!
O futebol privado, empresarial,que dependeu do Estado – este dinossauro , segundo a mídia – para trazer para cá a Copa, cedendo a tudo o que nos exigia a também privada e empresaria Fifa – o tal “padrão” – que elitiza estádios e transforma em marketing tudo o que se passa em campo.
O esquema empresarial que acabou com o que o Brasil tinha de melhor – seu ataque, seu drible, sua gana de gol, sua desconcertação.
Nossa defesa falhou, e falhou clamorosamente?
Sim, mas porque ficou por conta dela ser também o ataque e – só Deus tem, sei lá se tem, a onipresença – e na volta da bola ela, é claro, ela só estava lá chegando, esbaforida e tonta.
E sem Neymar, mesmo quando este não estava bem, perdemos nossa única brasilidade, nossa única irreverência, nossa única chance de sermos o que sempre fomos.
A Copa de 2014 foi uma lição, no seu aspecto organizativo, de que não temos nada a dever a ninguém neste campo.
No futebol que é o que importa a nós, à nossa paixão e, afinal, ao resultado, fomos uns lordes.
Tudo planejado, organizado, regiamente abastecido de recursos, sem que nada faltasse.
Exceto uma liderança fora de campo e aquela que os “todo-poderosos” de fora impediram que dentro de campo nascesse.
É o fim da era CBF, Nike, Globo, Galvão, Felipão, Parreira , de tudo aquilo que representa o entulho que o domínio dos negócios sobre o futebol representou.
Os negócios no futebol existem e vão continuar a existir.
Mas eles ganham dinheiro graças ao futebol e não, ao contrário, moldam o futebol à sua imagem e semelhança.
Que nos tornam um bando, onde desacreditamos de nossa história, de nossa capacidade, de nossa identidade e de nossa capacidade de improviso como uma cereja sobre o bolo de nossa solidariedade.
Aqueles guris precisam de algo que nossas gerações mais velhas não lhes dão suporte para ser.
Porque se acomodaram e se acovardaram.
E aí, às terras sem defesa, esteve perto/De destruir-se o Reino totalmente.
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