Naturei Karta: “O judaismo rejeita o sionismo e o Estado de Israel”

 
Jornal GGN - Milhares de pessoas ocuparam as ruas de Nova York nesta semana. Os protestos foram organizados em regime emergencial pelo movimento Naturei Karta, formado por judeus ortodoxos contrários à existência do Estado de Israel na Palestina.
 
Os manifestantes seguravam cartazes com fotos de crianças feridas pelo ataque israelense na faixa de Gaza junto à frase “O estado de Israel e sua atrocidade”, outras faixas diziam “Solução! Desmantelamento pacífico do estado israelense” e “Judaísmo rejeita o sionismo e o Estado de Israel”. 
 
O sionismo - movimento político ideológico criado no início do século passado que defende a existência de um Estado judaico na Palestina – divide hoje a população judaica mundial. O eixo favorável se baseia nas perseguições históricas do povo judeu na Europa, defendendo, portanto, à necessidade da constituição do estado no território da Palestina, terra em que os hebreus, povo que originou a nação judia ocupou há 2000 mil anos. 
 
A esse movimento se opõe o Naturei Karta (do aramaico "guardiões da cidade"), grupo criado em 1937, a partir de um racha do movimento Agudas Yisroel, fundado em 1912, com o objetivo de combater o sionismo.
 
Numa carta entregue aos Palestinos da Faixa de Gaza, em julho de 2009, escrita pelo braço norte-americano do movimento, eles lamentam a existência do Estado de Israel. “Os judeus verdadeiros são contra a desapropriação dos árabes de suas terras e casas. De acordo com a Torá [livro sagrado na religião judaica], a terra deve ser devolvida a vocês [Palestinos]”.

Essa linha religiosa dos Neturei Karta, que diz seguir rigorosamente os ensinamentos do judaísmo, aponta que hoje os judeus não têm direito de ocupar em massa a “Terra Santa”, localizada na Palestina. Isso decorre de uma crença religiosa que os impede de ter domínio sobre qualquer território, mas que os orientam a viver pacificamente nos países onde tiverem que viver. A criação do Estado de Israel, descrita nos livros sagrados, na verdade, é retratada como um evento divino que deverá ocorrer após a vinda do messias, ao mesmo tempo, não tem nada a ver com o mundo material, de um Estado criado através das mãos humanas. 
 
“[Os sionistas] têm usado a Torá para legitimar seu roubo, alegando que eles têm direito a terra, mandando para fora os palestinos, enquanto, na verdade, a Torá proíbe explicitamente isso. Ainda mais audazes alegam que [a Palestina] era uma terra sem povo para um povo sem terra. Deveriam parar de dizer isso, porque naqueles dias não existia a cobertura suficiente dos meios de comunicação imparciais, e contavam com o apoio das potências ocidentais”, destacam na carta aberta aos palestinos da Faixa de Gaza.
                                         
Por serem contrários á constituição do Estado de Israel, os membros do Naturei Karta estão espalhados em vários países. Em 2012, eles passaram a ser mais conhecidos entre os brasileiros após o intenso compartilhamento de um vídeo do discurso do rabino e membro do grupo Dovid Weiss durante uma de suas manifestações.  
 
“Todos os rabinos que viveram no velho Estado de Jerusalém, antes de 1948, podem lhes dizer como viviam e coexistiam pacificamente com seus vizinhos árabes, como tomavam conta das crianças, uns dos outros, durante o Yann Kippur [mês considerado sagrado no calendário judeu]”, cita Weiss no vídeo. 
 
Weiss denuncia também que judeus ortodoxos antissionistas que vivem em Israel sofrem constantemente repreensões ou espancamentos. Eles são chamados por judeus favoráveis a constituição do Estado na Palestina de “antissemitas”. Semita é um termo que, usualmente, refere-se aos judeus, apesar de designar os povos originários de uma mesma língua na região do Oriente Médio, e isso inclui hebreus (judeus) e árabes.
 
 
Entenda o conflito mais recente
 
Há nove dias Israel iniciou ataques aéreos à Faixa de Gaza. O Estado afirma oficialmente que a operação é de caráter defensivo, com o objetivo de interromper o lançamento de foguetes palestinos contra o território israelense. O conflito começou após a morte de três adolescentes israelenses encontrados no dia 12 de junho na Cisjordânia. Segundo os meios de comunicação de Israel, os jovens teriam sido sequestrados enquanto pediam carona por membros do partido palestino Hamas, que nega a autoria dos crimes.
 
Dias após o aparecimento dos corpos dos três adolescentes, um palestino foi raptado e queimado vivo. A população da Palestina se revoltou e passou a fazer protestos locais queimando carros e fechando ruas. Paralelo a esses acontecimentos uma série de morteiros começaram a ser disparados de Gaza em direção às colônias israelenses.  Israel prendeu seis judeus extremistas que teriam participado da morte do garoto palestino, sendo que três confessaram o crime. 
 
Ainda assim o conflito não cessou e o exército israelense iniciou uma série de ataques aéreos que mataram até o momento 208 civis. O Estado procura agora negociar o cessar fogo com o Hamas, partido que ganhou as eleições legislativas da Palestina em 2007. 
 
Mas para que um acordo ocorra o Hamas exige não apenas a paralisação dos bombardeios, como o fim das restrições impostas aos Palestinos por Israel que dificultam a circulação de pessoas e mercadorias palestinas. A sanção foi imposta desde que o Hamas tomou o poder em 2007, atingindo profundamente a economia da nação.  
 

Membros do Naturei Karta sendo perseguidos durante protestos na Faixa de Gaza

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