Mino Carta: Quem tem medo da CBF?
Reflexão sobre os comportamentos governistas em relação às quadrilhas de cartola
O ministro Aldo Rebelo, diligente cumpridor |
por Mino Carta
Pergunto aos meus botões qual haveria de ser a tarefa do ministro do Esporte. Uso o condicional porque estou a apurar a forte impressão de que o ministro Aldo Rebelo não tem serventia alguma. Mas posso estar enganado por não perceber um sutil desempenho executado na ponta dos pés, quase à sorrelfa, precioso contudo.
Os botões permanecem no patamar do condicional e respondem que caberia ao ministro a incumbência de executar a política do governo em relação ao esporte nas suas mais diversas modalidades. “Tanto mais do futebol – observo –, esporte mais decisivo na vida dos brasileiros, o ludopédio inventado na loira Albion, mas aprimorado aqui na nossa terra, de sorte a torná-la um infindável gramado.” Os botões anuem gravemente.
Insisto: que dizer de Aldo Rebelo? Executa a política do governo, respondem os meus interlocutores secretos. Mas há uma política? Os botões silenciam, acometidos, creio eu, por uma crise de melancolia. Abandonado à meditação solitária, sem esperança de resposta, passo a formular umas tantas perguntas na direção do infinito a respeito da atuação do governo em relação ao presente e futuro do futebol brasileiro.
Premissa: a Copa foi um sucesso em termos de organização e exposição do País aos olhos do mundo. Sobra o pesar pela decadência do ludopédio nativo. Seguem-se perguntas óbvias ditadas por coração e mente. É possível que o governo e seu ministro não saibam da verdadeira natureza da CBF, entregue a uma quadrilha? E não é do conhecimento até do mundo mineral que o senhor José Maria Marin é laranja de Ricardo Teixeira, foragido ao exterior para evitar a cadeia? Confirmar apoio à gangue de cartola não equivale a promover novos desastres?
Retorno a uma indagação tormentosa: por que erguer 12 estádios para hospedar uma Copa que não precisa de tantos? Será que a Fifa exigiu monumentais praças esportivas em Manaus, Cuiabá, Natal, Brasília? Não evito uma risada entre o escárnio e o desespero ao pensar que em Manaus, dotada de um time que milita na Quarta Divisão e que, quando muito, reúne mil assistentes para jogos de futebol, um grupo de desembargadores amazonenses propõe o uso do estádio como local de triagem de presos. Há também quem cogite de um sambódromo. Ou de quermesses indígenas?
Por acaso o governo de um país onde os serviços do Estado são da pior qualidade e cerca de 40% do território não é alcançado pelo saneamento básico, aventou alguma objeção à construção de 12 estádios? O ministro Rebelo porventura manifestou um resquício de perplexidade diante de uma operação que desperta justificadas suspeitas? Ouço ao longe um murmúrio, são os botões de volta à fala: “Quem sabe o ministro Rebelo cumprisse uma ordem: na CBF ninguém toca, e ai de quem tocar”. Admitamos a possibilidade, por mais surpreendente.
Sinto em citar um exemplo italiano, sei que, por isso, corro riscos. Ocorre-me, porém, o exemplo da Azzurra, assaltada por um juiz mexicano, um certo Rodríguez Moreno, no jogo contra o Uruguai, e então eliminada. O treinador Prandelli e o presidente da confederação peninsular, Giancarlo Abete, demitiram-se imediatamente. Não houve ali quem alegasse o roubo. O argumento do técnico foi outro, e corretíssimo: a Azzurra não jogou pior que o Uruguai, mas atuou muito mal, como se dera no embate anterior, contra a Costa Rica. Em dois encontros, não conseguiu assinalar um único gol. Tanto eu, alegou Prandelli, quanto o presidente, nos sentimos responsáveis, ele por ter confiado em mim. Trata-se de um exemplo louvável, irrepetível abaixo do Equador. E me perdoem por ter citado figuras do país em que nasci.
De todo modo, Scolari e sua equipe técnica garantem ter trabalhado da melhor maneira, Marin o exonera e, receio, prepara-se a substituí-lo por outro igual. Não é de se excluir que o ministro Rebelo tenha a certeza do dever cumprido. Encaro o porvir com um misto de temor e desalento. Vêm aí as Olimpíadas cariocas e só os fados gregos imaginam o que vão custar. Além disso, Marco Polo (homenagem ao andarilho veneziano, autor de O Milhão?) Del Nero assume no ano próximo o posto de Marin, na qualidade de enésimo cartola da vetusta e resistente estampa.
1º PS: As vaias vips à presidenta Dilma na entrega da Copa denigrem o Brasil em lugar de exaltá-lo.
2º PS: O candidato Eduardo Campos apressa-se a evocar escândalos tucanos e petistas. Esqueceu o “mensalão” do PSDB e a maior maracutaia da história do Brasil, a privatização das comunicações, praticada com olímpica desfaçatez à vista da Nação.
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