Merval está com saudades do “não vai ter copa”

Autor: Miguel do Rosário
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A coluna de hoje do Merval é extremamente divertida. Parece escrita pelo professor Hariovaldo. Reproduzo alguns trechos:
(…) A presidente Dilma lançou equivocadamente um slogan, “a Copa das Copas”, como se o governo tivesse o condão de transformar pela propaganda a competição em mais uma realização petista.
Esse pessoal reaça tá surtando. Um acha que a letra vermelha no logotipo da Copa é propaganda comunista subliminar, e agora o Merval acusa o slogan “Copa das Copas” de ser propaganda partidária. O que tem de petista em “Copa das Copas”, meu Deus?

Outra frase de Merval que me divertiu, pela incrível concentração de confusões sintáticas e atentados à lógica:
Melhor assim do que o contrário, mas o funcionamento do que era falho só foi razoável porque saímos da normalidade, e isso muito se deve às críticas quanto aos atrasos e ao desleixo com que a organização da Copa foi tratada pelos governantes.
Como é que é?
“O funcionamento do que era falho só foi razoável porque saímos da normalidade”?
Tipo assim: a normal é nossa incompetência. Por alguma razão excepcional, deixamos de ser incompetentes durante a Copa, mas voltaremos à nossa fatal incompetência assim que o torneio terminar, é isso?
A organização “razoável” não é mérito dos organizadores? É da Globo, então? Eu não sabia que a Globo tinha comandado a organização dos estádios e a reforma dos aeroportos…
Os governos do PT montaram a Copa do Mundo no Brasil com um olho na popularidade e outro na eleição deste ano.
Ué, Merval acusa o governo de politizar a Copa, e aí ele vem e fala que os “governos do PT montaram a Copa” com olho na “popularidade na eleição deste ano”?
E a agregação de valor à imagem do Brasil? O aumento do turismo? A alegria do povo? O estímulo à economia?
Então Merval vai ao cerne da questão. Ele está com saudades do grito de guerra “Não vai ter Copa”.
O povo brasileiro vai dando um exemplo de como é possível separar as coisas sem perder a naturalidade. Adora futebol, está apoiando a seleção brasileira, mas nada indica que tenha ânimo de esquecer seus problemas apenas por causa do futebol.
Por isso, o governo volta a cometer um erro primário se interpretar a pausa que a Copa está dando aos brasileiros, que resultou no desanuviamento do ambiente político, como sinal de que os problemas da vida real estão superados. Tudo indica que, passada a trégua proporcionada pela festa do futebol, qualquer tentativa de usar o patriotismo inerente ao povo brasileiro em galardão político pode ser rechaçada pela população.
A coisa mais idiota num debate é inventar um adversário idiota fictício. Merval faz isso. O adversário é um “governo” fictício que só existe na cabeça dele. Segundo ele, o “governo” errará se interpretar que “os problemas da vida real estão superados”.
Que espécie de idiota, seja no governo, seja na oposição, acharia que “os problemas estão superados”? Mesmo nações ricas enfrentam inúmeros problemas no dia a dia. O que dirá de uma nação em desenvolvimento, onde ainda há tanta pobreza e violência?
Que espécie de idiota acha que o povo esquecerá seus problemas “apenas por causa do futebol”?
O povo curte a Copa com tanta paixão justamente porque ele tem consciência dos problemas à sua volta. Sabe que é preciso aproveitar ao máximo as alegrias, para melhor enfrentar as tristezas.
O que pode acontecer, depois da Copa, é uma reflexão, por parte do povo e por amplos setores da classe média, de que o terrorismo midiático contra a Copa, a politização excessiva do evento, é o mesmo modus operandi usado em todas as outras pautas.
Inflação, emprego, balança comercial, eleições, escândalos, em tudo a nossa mídia pratica um jornalismo fortemente tendencioso e politizado, sempre do lado contrário do interesse popular, e isso desde seus primórdios. Os editoriais dos mesmos jornais, na década de 50, são muito parecidos com os de hoje.

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