Mercenários vs. Apaixonados. Pensam que é só no futebol que tem essa disputa?

Autor: Fernando Brito
cartola
A Folha, hoje, segue na campanha contra a presença de Franklin Martins na campanha de Dilma.
Mas que diabos teria tanta importância um conselheiro na área de comunicação dentro de um governo, mesmo sendo um personagem com a trajetória e as posições de Franklin?
Nem ele, nem ninguém com um mínimo de conhecimento técnico iria fazer o Governo “cortar” as verbas publicitárias de grandes veículos de comunicação.
Por uma razão simples: seria um grave erro técnico deixar de anunciar – e mesmo de se relacionar com civilidade – com aqueles que dominam a comunicação de massa no Brasil.
O problema é outro.

O sistema de comunicação exige seu monopólio: e não apenas nas verbas publicitárias, mas na própria comunicação.
O que, não percebe, já não é compatível com as novas tecnologias que transformaram a internet em veículo de massa.
Sonham em mantê-la, apenas, como espaço para frivolidades e campanhas de promoção/desmoralização de pessoas e instituições, como fazem cada vez mais nos próprios jornais.
Mesmo com todo o seu poder político e econômico, isso é impossível.
Algo no que encontra, claro, apoio no mundo da “marquetagem” profissional.
Dinheiro e poder, como sempre.
Lembro de uma conversa áspera que tive no Ministério do Trabalho, quando recebi – com a devida presença de várias testemunhas – os dirigentes da indústria do venenosíssimo amianto, que insistiam em voltar aos tempos de liberdade total de ganhar dinheiro matando gente.
Eu disse apenas, para a fúria do degas que veio, arrogante, com o papo de que “tudo era seguro”:
- Meu amigo, não estamos aqui para discutir se isso vai acabar, porque vai acabar. Nós estamos aqui para discutir como isso vai acabar, com regras claras e prazos para vocês mudarem a forma com que fazem as coisas, com um mínimo de prejuízos a todas as empresas, todos os seus trabalhadores e toda a comunidade…
É isso o que não consegue entender a grande mídia empresarial  brasileira.
Que o tempo do monopólio acabou.
E que tem lugar para todos, também no mundo da comunicação.
E que o Brasil não pode ser mais um país onde alguns são donos de tudo e quase todos não são donos de nada.
Nem de suas opiniões.
Daí a sua campanha contra Franklin, que vai se tornar mais intensa e, sobretudo, sórdida.
Já vai recrutando “profissionais” como aquela que produziu o conto do vigário da ficha falsa de Dilma no DOPS, para tentar fazer crer que a empresa da mulher de Franklin – que tem 17 anos de existência e contratos com emissoras de TV brasileiras e estrangeiras – estaria sendo contratada sem as qualificações necessárias para prestar serviços ao Governo.
Presta, aliás, serviços até a canais da Globo, como a GNT.
Não é porque este blog vem fazendo a opção de falir um profissional, que vive apenas da solidariedade de seus leitores, que todos devem fazer o mesmo.
Se eu recebesse serviços do Governo, como recebo alguns de empresas privadas para exercer meu ofício de escrever, ou publicidade correspondente à audiência deste blog não só seria honesto como seria correto, embora meus amigos de O Globo insinuem até que um banner que publico gratuitamente de uma campanha contra o crack seja um “favorecimento”.
É assim, porém, que a grande mídia pensa e leva junto, nesta deformação, alguns de seus profissionais.
Com a ajuda luxuosa de gente que afundou tanto as patinhas nos tapetes do poder que não hesita em dar combustível ao ódio da mídia contra aqueles que entende que não apenas o mundo mudou como que a esquerda, no poder, ou muda ou morre, não hesitam em se aliar a um dos mais mafiosos meios dirigentes deste país: a cartolagem negocista do futebol.
E aí dizem que Dilma, que nunca escondeu seu asco à cúpula da CBF e que teve a coragem de dizer, publicamente, que o Governo precisa se opor a uma camorra que está destruindo um dos maiores valores afetivos do povo brasileiro, o futebol.
E usam um post do site “Muda Mais”, que segue a linha de Franklin, para sabotá-lo, dizendo que as criticas à CBF publicadas ali teriam irritado a Presidenta.
A Presidenta, vejam bem, que disse que as estruturas do futebol, precisam mudar, e mudar mais que a simples troca de técnico da seleção.
Hoje, o comentarista esportivo Juca Kfouri – um dos poucos que critica a CBF não só da boca para fora –  reproduz o tal “post da discórdia”, com certa perplexidade, por não entender o que há ali que não seja informação e opinião de todos os que olham o futebol com seriedade.
Não há, Juca, o que há, fora do futebol também, é quem se preste a estes jogos por, a exemplo da turma que infelicita nossa torcida enquanto se esbalda em dinheiro, por adorar ser cartola e negocista.
Leia o post de Juca Kfouri, com o artigo do Muda Mais.

O que de tão “agressivo” publicou o “Muda Mais”?

A página “Muda Mais”, mantida pelo jornalista e ex-ministro Franklin Martins, publicou um artigo por muitos considerado inoportuno tão logo a Seleção Brasileira levou de sete da alemã.
Fala-se muito do texto na imprensa, mas poucos conhecem o seu teor, abaixo, na íntegra. Este blogueiro o considerou até suave:
Teixeira, Marin, a CBF e a necessidade de modernizar nosso futebol
A terrível eliminação da Seleção na Copa do Mundo reforçou o que há muito se dizia: a organização do futebol brasileiro está ultrapassada e presa ao nome de poucas figuras que revoltam o torcedor faz algumas décadas. Impera na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) um sistema que em nada lembra uma instituição democrática e transparente. É preciso mudar.
Por infindáveis 23 anos, a CBF esteve nas mãos de Ricardo Teixeira, ex-genro de João Havelange, que coordenou por 17 anos a Confederação e por outros 24 a FIFA. Depois disso, passou, em 2012, para o comando de José Maria Marin. Marin foi deputado estadual pela ARENA e em 1975 proferiu um discurso contra a TV Cultura, que por muitos é visto como um dos desencadeadores da morte de Vladimir Herzog, ex-diretor de telejornalismo da Cultura, encontrado morto 16 dias depois. Depois disso, Marin ainda foi governador biônico do estado de São Paulo, em 1982. Ah, e bem depois, quando era vice-presidente da CBF, furtou uma medalha na premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Não é de agora que o futebol brasileiro sofre com a desorganização da CBF. Ricardo Teixeira tinha o hábito de falar da Confederação ou da Seleção como “eu”: “Eu tenho 120 milhões em caixa”, ou “Eu tinha que ganhar aquela Copa”, ou “Eu não queria abrir a Copa da Alemanha”, como contou reportagem da Revista Piauí, em 2011. Além disso, defende que nem a população brasileira nem ninguém tem nada a ver com as contas da CBF.
Teixeira pode até ter razão quando diz que a CBF é uma entidade privada, que não recebe dinheiro público e paga impostos – afinal, quando ele assumiu decidiu abrir mão do dinheiro do Estado. Mas não é bem assim. O estatuto da CBF designa a instituição como uma “associação de direito privado”, com “peculiar autonomia quanto à sua organização e funcionamento, não estando sujeita a ingerência ou interferência estatal”, ok. Acontece que a entidade é um tanto atípica. Como afirma o jurista Yves Gandra, “não se trata, a CBF, de entidade civil típica, subordinada que é, em parte, ao Ministério dos Esportes”. E ainda que fosse considerada a mais típica entidade privada, contratos suspeitos podem devem, sim, ser analisados por órgãos competentes.
Na mesma entrevista, Ricardo Teixeira deu seu recado sobre a Copa: “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”. No fim das contas, ele acabou saindo antes, em março de 2012.
Havelange, a Ditadura e Saldanha
Outra figura importante para entendermos a história da CBF é João Havelange, presidente da Confederação por quase duas décadas. Era 1970 e a histórica Seleção Brasileira, com Carlos Alberto Torres, Tostão e Pelé estava pronta para voar na Copa do Mundo. Mesmo assim, o treinador que montou e classificou a Seleção para o torneio, João Saldanha, foi demitido dias antes da estreia. O motivo, segundo ele, foi a pressão que sofria para convocar Dario Maravilha. Pressionado por Médici, João Havelange pedia insistentemente a convocação do jogador atleticano para Saldanha. Diz o folclore futebolístico que ele respondeu: “Ele [Médici] escala o ministério, eu convoco a Seleção”. Saldanha foi demitido. Pesava contra ele o fato de ser militante do Partido Comunista Brasileiro.
CPI da CBF-Nike
Em 2001 instalou-se a CPI da CBF-Nike, que investigou o contrato entre a Confederação e a Nike, que veio à público após a Copa do Mundo de 1998, quando suspeitou-se – sem que até hoje tenha havido comprovação ou desmentido – que o atacante Ronaldo teria entrado em campo, mesmo doente, para cumprir um contrato publicitário.
A CPI investigava o contrato, firmado em 1996 e com vigência de 10 anos, por cláusulas “consideradas excessivas em termos de predominância dos interesses da Nike sobre os da CBF, resultando prejudiciais ao futebol brasileiro”. Entre elas, a obrigação de escalar “os oito principais jogadores sob um critério não definido, mas que pode ser o da Nike” e a cessão à Nike do direito de definir os adversários e os locais de 50 jogos amistosos durante dez anos (número reduzido após acordo entre as duas partes).
Modernizar e organizar o futebol
Em um quarto de século apenas duas figuras – nada amistosas – comandaram a Confederação que rege o futebol no país do futebol. Calendários estapafúrdios, más condições de trabalho aos atletas e uma série de outras demandas levaram os próprios jogadores a reagir e criar o Bom Senso FC.
Queremos mudar mais. O plano de governo apresentado pelo PT no dia 5 afirma: “É urgente modernizar a organização e as relações do futebol, nosso mais popular esporte”.
PS. Antes que os amigos da Folha, que acham que tudo o que se faz é por dinheiro, se animem, este site não tem qualquer patrocínio de governo nem relações que não sejam a de uma simpatia política ao ex-ministro, a quem conheço muito pouco, pessoalmente.
Não sei se vocês acreditam, mas existem, ainda, pessoas de bem.

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